Portuguesa condenada, geração em alta e saudades: um ano sem Lucas
Há um ano, Lucas Jesus dos Santos foi encontrado morto na piscina do Canindé após uma comemoração com o time sub-17 da Lusa. Na Justiça, clube acaba punido por negligência
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A casa no bairro do Pari, na Zona Norte de São Paulo, não tem a mesma alegria de um ano atrás. A bicicleta não tem mais uso, as camisas de time não saem do armário e a própria vida perdeu um pouco do sentido.
Em 20 de outubro de 2016, Lucas Jesus dos Santos foi encontrado morto na piscina do Canindé, sede da Associação Portuguesa de Desportos, em São Paulo. Ele era jogador titular do time sub-17 da Lusa, passou mal durante a festa pela classificação da equipe à uma fase seguinte do Campeonato Paulista da categoria e morreu por congestão alimentar, segundo peritos.
Um ano depois, a saudade do talentoso jovem não é o único sentimento que ronda o caso. A revolta também está presente. E foi o que motivou a família de Lucas a entrar na Justiça contra a Portuguesa em um pedido de indenização por danos morais e materiais. Em sentença do dia 28 de julho a que o LANCE! teve acesso, o clube foi condenado em primeira instância por negligência na ocasião da morte de Lucas e pode ter que pagar R$ 200 mil como indenização, além de cerca de R$ 1.200 por mês, como pensão, até que a vítima completasse 25 anos, o que ocorrerá em 2024.
De acordo com a decisão judicial, houve "negligência por parte do clube em razão de não demonstrar em suas alegações estar presente na data do ocorrido, um salva-vidas ou um responsável pelo time, que era composto somente por meninos menores de idade". Além disso, o clube também "admite que foram os próprios integrantes do time que auxiliaram a vítima quando esta sofreu um mal súbito, ou seja, não houve nenhuma prestação de assistência daquele que tinha o dever de zelas pelos menores".
Lucas participava do churrasco nas dependências do Canindé quando, por ocasião da celebração, os jovens foram à piscina se refrescar por causa do calor. A vítima passou mal e foi socorrida pelos companheiros de time. Acontece que Lucas não retornou ao alojamento junto com os demais e só no dia seguinte teve o corpo localizado no fundo da piscina, já desfalecido. A Portuguesa diz que prestou socorro e uma pessoa, inclusive, teria ido verificar se havia mais alguém após o fim da festa, não localizando Lucas, apenas seus pertences. No dia seguinte é que todos descobriram o triste acontecimento.
A Portuguesa apelou da sentença, mas as dificuldades financeiras vividas pelo clube podem dificultar o processo. O clube tem obrigação de pagar as custas deste recurso, que são de 4% do valor da condenação (aproximadamente R$ 8 mil), mas pediu gratuidade processual - ou seja, disse que não tem dinheiro para pagar essa taxa e manter o caso na Justiça. O pedido foi indeferido e está desde a semana passada no gabinete de um desembargador para ser avaliado em instância superior.
Procurada, a Portuguesa se manifestou da seguinte maneira: "O presidente Alexandre Barros e o vice-presidente jurídico, Leonardo Direito, acham por bem não se posicionarem neste momento. Portanto, a Portuguesa apenas se manifestará nos autos do processo".
- Estamos todos muito confusos ainda sobre o real motivo da morte, porque o Lucas não sabia nadar, então como apareceu sem vida naquelas condições? Só queremos saber o que realmente aconteceu, pois uma vez que meu sobrinho passou mal ele jamais voltaria para a piscina. Ele tinha muitos amigos, é inadmissível que ninguém viu nada - relata Mônica Santos, tia de Lucas e uma das partes do processo que corre na Justiça, do qual prefere não entrar em detalhes.
- Não gostaria de falar sobre isso porque em nenhum momento a Portuguesa se prontificou em falar com a família. Não quero que ninguém veja a morte do meu sobrinho como prêmio, porque minha maior preocupação é saber o que realmente aconteceu - completa.
A Lusa ainda não tem a obrigação de pagar a pensão e a indenização aos familiares de Lucas porque a sentença não é definitiva.
A trajetória interrompida
Nascido em dezembro de 1998, Lucas não teve uma infância fácil. Sua mãe, Mércia, era adolescente quando ele nasceu e foi acolhida pela irmã mais velha, Mônica. Algum tempo depois, Mônica se mudou da Zona Norte para a Zona Leste de São Paulo e Mércia voltou a morar com sua mãe e o padrasto, chamado Ivan. Mais um tempo se passou até que a mãe de Lucas se casasse e saísse de casa, mas a avó pediu para que ela deixasse Lucas sob seus cuidados.
Oito anos depois a avó de Lucas morreu, o que coincidiu com a partida de Mércia para viver no Recife com o marido. Não era vontade dos avôs que o menino fosse junto para o Nordeste, então Lucas ficou em São Paulo sob responsabilidade de Ivan, avô de criação, e Mônica, sua tia. Ele morava com Ivan por conta da localização, bem próxima dos amigos de infância e especialmente do Canindé, onde logo passaria a jogar pela Portuguesa.
Criado no Pari, Lucas começou no futebol em clubes amadores da Zona Norte de São Paulo e só chegou à Lusa no início de 2016 para fazer avaliações. Ele foi aprovado em maio e assinou contrato de formação até dezembro de 2017. Ele ganhou espaço e mostrou liderança ao longo do Campeonato Paulista sub-17, seu primeiro torneio pelo clube, e que foi interrompido de forma trágica. Antes mesmo que o sonho de atuar no Canindé se tornasse realidade.
Ex-companheiros vivem momento especial
Depois da morte de Lucas, o sub-17 da Portuguesa seguiu sua caminhada no Campeonato Paulista de 2016, mas foi eliminado nas quartas de final. Um ano depois, a maioria dos meninos que atuavam com o zagueiro foram promovidos à categoria sub-20 e novamente fazem bonito. Dos 17 jovens relacionados para o último jogo de Lucas, dez estão atuando regularmente na categoria júnior, que tem uma decisão justamente neste sábado.
Na Arena Barueri, às 16h, a Portuguesa enfrenta o Corinthians pelo jogo de volta das oitavas de final do Paulista sub-20, torneio em que eles eliminaram o Santos na primeira fase. O jogo de ida foi no Canindé, estádio onde Lucas jamais atuou, e terminou empatado em 1 a 1. Jogadores como Matheus Alvarenga, Matheus Refundini, Gustavo Gomes da Silva, e tantos outros (todos desautorizados pela Lusa de falar sobre o caso), entram em campo para honrar a memória do amigo depois de um ano de saudades.
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