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‘O problema dessas facções vai muito além das brigas nos estádios’

Luiz Fernando Gomes, colunista do L!, relembra encontro em que foi proposto a criação de delegacias especializadas a crimes de torcidas organizadas. Até hoje, porém, nada avançou

Briga no Engenhão antes de Botafogo x Flamengo
Foto: Armando Paiva/AGIF

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Em 26 de junho de 2015, a Escola de Magistratura do Rio organizou o 1º Encontro Nacional Pela Paz no Futebol. Foi um dia de debates, em que propostas foram apresentadas por juízes, advogados, jornalistas, autoridades de segurança e representantes de clubes e federações. Uma delas mereceu atenção especial: a criação de delegacias especializadas no combate a crimes de torcidas organizadas.

A razão é óbvia. O problema dessas facções vai muito além das brigas nos estádios e nos arredores, como aconteceu neste domingo no Engenhão. Esta é apenas a parte mais visível. As organizadas são uma questão de segurança pública em que a infiltração de marginais é crescente e o rol de crimes praticados é imenso: homicídios, danos ao patrimônio, tráfico de drogas, porte de armas, pirataria comercial – produtos sem licenciamento – e cambismo.

A criação de polícias especializadas na segurança dos estádios e de juizados especiais voltados para os torcedores, os Jecrins, representaram avanços no combate à violência. No entender dos participantes do encontro, contudo, falta ainda uma perna: a da polícia judiciária aquela que investiga e conduz inquéritos fundamentais para desmantelar quadrilhas e punir seus crimes.

Levantamentos publicados por este LANCE! revelam que apenas 50% das mortes ocorridas a partir de conflitos entre torcedores ocorrem em dias de jogos. Isso comprova que o problema é muito mais do que “briga de torcidas por causa da rivalidade”.

Desde 2014, a relação das organizadas com o PCC vem sendo investigada pela polícia paulista. Nos últimos dois anos, houve ao menos uma apreensão de drogas em sedes de torcidas dos quatro grandes de São Paulo. Não será por acaso.

O grande gargalo apontado por especialistas é que hoje as investigações e as informações - muitas delas levantadas nas redes sociais - ainda continuam dispersas. A delegacia de homicídios age quando há morte, a de entorpecentes quando há drogas, a delegacia do bairro numa briga simples. A nova especializada, centralizando todo tipo de ocorrência, facilitaria o combate como um todo.

Passados quase dois anos do encontro – que gerou um documento encaminhado às diferentes instâncias de poder -, nada avançou. Nenhum estado criou a delegacia, apesar de várias declarações de apoio à medida. Inclusive do governo fluminense. Assim como a criação do Cadastro Nacional do Torcedor – instrumento para identificar e afastar os vândalos e criminosos dos estádios – e de outras propostas, a ideia das delegacias especializadas continua perdida no buraco negro da ineficiência do estado em enfrentar o problema. Só o que evolui são as estatísticas de mortes e a variedade de crimes praticados.

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