‘Quando um clube vira S/A, melhora-se a governança e há transparência’
Os modelos no mundo são vários: os clubes ingleses são vários bem sucedidos. O Bayern de Munique (ALE) possui vários patrocinadores que são acionistas
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Virar S/A, saindo de associações sem fins lucrativos para sociedades anônimas, é uma mudança significativa na governança dos clubes, e na nossa opinião, ela é muito mais positiva do que potencialmente negativa. O principal fator é que junto com a instauração da S/A no futebol brasileiro, uma série de medidas amplamente usadas no mundo corporativo acompanham essas mudanças.
Uma delas é a criação de governanças específicas para o futebol, tendo como premissa a separação do futebol das outras atividades sociais. Sem entrar no mérito de criticar as atividades sociais, o fato dessa separação cria o que chamamos de "Accountability", quando os resultados começam a ser apurados por áreas de negócios, consequentemente gerando muitos recursos.
Além da governança, uma série de responsabilidades sobre a atuação dos profissionais é criada, delimitação, prestação de contas, transparência, "reporting" ao mercado, aos acionistas. Cria-se também a necessidade de ter profissionais remunerados. Isso gera cláusulas de performance, cláusulas de desempenho, cobranças por metas, enfim, tudo que existe de mais saudável no mundo corporativo.
Em torno disso, é natural que os clubes sejam orientados a terem resultados. Em alguns casos, dependendo da ata de criação, de acordo com a lei da S/A no Brasil, devidamente também ao Conselho Fiscal, o Conselho Gestor. Você desenvolve maneiras diferentes de gestão, algumas para um regime um pouco mais compartilhado, onde todos prestam contas sobre os seus atos, inclusive, com responsabilidade pessoal sobre decisões tomadas. Isso cria muitos pontos positivos, assim como recentemente sobre os dirigentes públicos. Esse é outro benefício bastante claro.
Um ponto de observação importante no Brasil, assim como a S/A em relação ao futebol, é que o futebol tem uma particularidade bastante crítica, onde o time de futebol não é medido apenas por "bottom line", ele é medido por títulos. Ao longo prazo, se espera gerar um valor sobre a marca, uma maior possibilidade de venda de jogadores, maior possibilidade em captação de patrocinadores. Em um curto prazo, no entanto, existe uma discussão, por exemplo, de quem é mais bem sucedido; um time que faturou, ou teve um resultado do exercício, de 50 milhões de dólares, com zero de título. Ou um clube que teve como resultado 30 milhões e ganhou 3 títulos. Claro que têm as previsões futuras, mas também vai existir uma discussão muito grande em outras situações normais, em empresas equivalentes como qualquer outra indústria, aquela que tem 50 milhões de resultado no "bottom line". No futebol isso não é verdade, e muito provavelmente, não vai ser. Tem um antagonismo no futebol, que é o curto, médio e longo prazo, que precisa ser bem trabalhado, desde que bem comunicado, com plano estratégico de crescimento. Invariavelmente, o clube de maior performance de resultado vai também produzir em campo, então não acho que seja um problema que restrinja o benefício da adoção da S/A.
Os modelos no mundo são vários, os clubes ingleses são vários bem sucedidos. O Bayern de Munique, da Alemanha, possui vários patrocinadores que são acionistas, e participam regularmente em reuniões de governança. Na América do Sul, no Chile, já temos casos de clubes com adoção de S/A, com abertura de capital, que é um outro benefício que o clubes tem acesso rápido da capitação de dinheiro.
Aqui no Brasil temos o Figueirense, tem também o Atlético-PR, que está olhando exatamente isso. A possibilidade de vender uma parte do capital e levantar um dinheiro para permitir investimentos, que se bem direcionados, podem catapultar o clube para um cenário muito promissor de construção de valores de resultados, desde que bem geridos, com profissionais competentes e uma governança clara e transparência de resultados.
O fato de você ter acesso ao mercado de capitais é um grande benefício da S/A, como é para qualquer empresa que decida ir para o 'IPO'. E, claro, com isso tem todo um trabalho interno, que seria também uma outra possível desvantagem, de ter que fazer o 'reporting' quase que diariamente para o mercado. Mas, reiterando, ainda mais no futebol que é cercado por uma série de dúvidas sobre questões corporativas e transparência, é uma coisa muito mais positiva do que negativa.
Vejo tudo isso como um um caminho viável, ainda com longas pautas a serem discutidas, mas bastante promissor e que será uma tendência a médio/longo prazo, pensando no esporte de uma forma séria. E quem sabe isso ajude a gerar alguns desdobramentos na discussão da política pública de desenvolvimento do esporte no Brasil, que siga para outras confederações, e que todo mundo seja pautado por regras. Não necessariamente indo para S/A, mas no ponto de vista de gerar uma onda de adoção de práticas corporativas mais limpas e desejadas.
*Mauro Corrêa é sócio-diretor da CSM Golden Goal, empresa especializada em gestão e marketing esportivo, e escreve o artigo a convite do LANCE!
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