Vender ou não vender? L! analisa polêmica da negociação de mandos de campo no Brasileirão
Após polêmica envolvendo CSA e Flamengo, partida que será realizada em Brasília, LANCE! ouve especialistas para prática comum no Brasil, mas que não acontece em outros lugares<br>
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Uma polêmica vem chamando a atenção no Campeonato Brasileiro nos últimos anos: a questão da venda do mando de campo. Este fator voltou a ficar em evidência no cenário nacional na última semana, quando o CSA sacramentou a mudança do local da partida contra o Flamengo, no dia 12 de junho, que será disputada no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, e não no Rei Pelé, em Maceió.
Essa questão entrou em destaque no país no Campeonato Brasileiro de 2016, com o Santa Cruz, já na parte inferior da tabela, vendendo o mando de campo contra equipes do grupo dos 12 grandes clubes do Brasil. Na época, a Cobra Coral mudou o palco de uma partida contra o Corinthians, na 30ª rodada, para a Arena Pantanal.
Em tese, equipes que chegam no Campeonato Brasileiro vinda da segunda divisão, lutam contra a zona da degola e convivem com problemas financeiros - como foi o caso do Santa Cruz e é o do CSA - colocam a questão do dinheiro recebido acima do desenvolvimento técnico da partida. Enquanto o cofre do clube ganha mais uma força, o time perde a chance de enfrentar um clube tecnicamente mais forte diante da sua torcida.
Especula-se que o CSA vendeu o mando de campo por um valor entre 1,2 a 1,5 milhão de reais para realizar a partida contra o Flamengo em Brasília. Como o Rubro-Negro possui um alto número de torcedores na capital, a operação do estádio espera receber lucro por conta da bilheteria e compras nos bares do Mané Garrincha.
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DINHEIRO OU OPÇÃO TÉCNICA: O QUE VALORIZAR?
É uma faca de dois gumes: ao mesmo que a equipe se afasta do torcedor local, consegue um dinheiro extra. Em um país que possui equipes em situação de crise financeira dia após dia, a ação pode ser justificável. Para Mario Marra, comentarista dos Canais ESPN, este fator não é positivo ao torcedor do CSA.
- Não acho legal pensando no torcedor local, que durante tantos anos ficou esperando o CSA na primeira divisão, ter a oportunidade de jogar em casa. Não acho justo com torcedor, mas também não pago as contas do clube - afirmou.
Mário Marra ainda analisa que não concorda com a prática, não apenas comum com o CSA no atual Campeonato Brasileiro. Além da equipe alagoana, o Botafogo vendeu o mando da partida contra o Palmeiras, que será disputada no próximo domingo em Brasília, e o Vasco mudou o duelo contra o Corinthians também para a Região Centro-Oeste.
- Ainda é início de campeonato, eu não gosto. É um favorecimento ao clube que não vai jogar lá. Por mais que o Flamengo tenha uma grande torcida em qualquer lugar do Brasil, a dificuldade é diminuída a partir do fato que a partida será disputada em um campo neutro. Na minha opinião, deveria ter uma regulamentação superior - completou.
VISÃO DOS TORCEDORES
O LANCE! entrevistou dois torcedores que possuem opiniões diferentes nessa relação entre o ganho financeiro e a perda técnica. Um deles é Mário Júnior, que, por conta da situação baixa no caixa na equipe, acredita que a ação é válida. O segundo é Jonathan Teodozio, que se mostrou contra a ação, dizendo que a diretoria não deu nenhum parecer aos fãs.
- Essa venda de mando de campo aconteceu porque o CSA teve prejuízo no primeiro semestre, saiu das competições que participou de forma muito rápida. Se for melhor para as finanças do CSA, está bom. Estamos em uma competição que o CSA está distantes dos outros clubes no orçamento. Precisamos de dinheiro, pode ser que não tenha mais venda de mando de campo para as próximas partidas, vão tentar montar arquibancadas atrás dos gols. Eu respeito a venda do mando de campo, isso acontece com os clubes do Rio também - afirmou Mário.
- Foi uma atitude que foi de encontro a boa parte da torcida. Foi algo feito sem nenhuma prestação de conta, nenhuma informação. Nós acompanhamos esse CSA durante todo esse tempo e não recebemos nada do clube. O torcedor não tem mais a importância que tinha, ficamos em segundo plano. Foi uma atitude que jogou a torcida para o ralo, não sabemos de nada que acontece no clube - contemplou Jonathan.
NA EUROPA
Tal prática não é comum no Velho Continente, que possui ligas que valorizam o torcedor e toda a tradição dos respectivos estádios das equipes participantes de um campeonato. Esta regra se acentua na Premier League, um torneio que busca, acima das fortes práticas de divulgação, valorizar o produto interno, começando pela torcida e o clima nos estádios. Ao LANCE!, João Castelo-Branco, jornalista da ESPN na cobertura do futebol inglês, falou sobre a venda do mando de campo na terra da rainha.
- Se tentar explicar para um inglês essa coisa de vender o mando de campo, o cara não vai nem entender. É uma coisa impensável aqui, com um campeonato muito organizado, com regras rígidas e que funcionam. Não à toa, a Premier League é o maior campeonato do mundo. Aqui, existe um respeito grande com o torcedor e uma conexão muito grande do clube com os fãs e com a cidade ou o bairro de onde ele é - confessou.
Na cobertura do futebol inglês, João Castelo-Branco toca justamente no assunto que remete aos torcedores. O jornalista afirma que um dos charmes do país britânico é valorizar os estádios, os bairros e os fãs de cada equipe, promovendo que a tradição destes permaneça.
- Eu acho que é um grande desrespeito com o torcedor. Na hora que o Flamengo vai chegar na sua casa, a chance do seu torcedor ver seu time contra um clube grande e o jogo não vai ser lá. Fora as questões de justiça do campeonato, deste fator não ser justo para todo mundo. Pela visão da Inglaterra, teria esse lado mas também a opção de respeitar o torcedor. Por exemplo, o Huddersfield, que subiu para a Premier League de maneira quase inacreditável, para os torcedores do clube era muito bom receber o Manchester City no estádio deles. Era muito bom para os fãs.
- Isso (venda de mando de campo) aqui, de jeito nenhum, seria cogitado. Sei que o Brasil tem outras razões, mas aqui nunca isso nunca seria uma opção. Fora a questão da torcida, você muda todo o critério da competição. Teoricamente, todos jogariam o mesmo número de jogo dentro e fora das competições, isso vira uma bagunça - completou.
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