Zizinho, 100: ‘Foi o jogador mais completo que Pelé, eu e minha geração assistimos’, diz João Máximo
Ao LANCE!, jornalista e escritor resgata suas memórias de torcedor e conversas com o meia, que nasceu há 100 anos e deixou histórias na Seleção, Flamengo, Bangu e São Paulo
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O talento que Zizinho desfilou em campo nas décadas de 1940 e 1950 influenciou o futebol de Pelé e de toda uma geração de jogadores do país e também ajudou a avivar a paixão pelo esporte de um mestre das palavras. Ao LANCE!, o jornalista e escritor João Máximo detalhou sua admiração com os feitos do meia, que faria 100 anos nesta terça-feira (14), por clubes como Flamengo, Bangu, São Paulo, além da Seleção Brasileira.
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- Zizinho foi o jogador mais completo que a minha geração acompanhou quando era jovem. Ótimo passe, drible, finalizador, sabia ser criador e artilheiro perfeito para os padrões da época. É claro que não dá para fazer comparações com os outros momentos do futebol em termos de profissionalismo ou preparo físico, mas a qualidade de Zizinho era impressionante - e frisou:
- Pelé disse e Dondinho (pai do "Rei do Futebol") também dizia o quanto a técnica do Zizinho foi importante para fazer com que o "Rei" começasse a batalhar para buscar também seus dribles, mostrar sua genialidade - completou.
Autor de livros como "Maracanã: Meio Século de Paixão", e "Brasil, Um Século de Futebol: Arte e Magia", João Máximo recordou os primeiros momentos nos quais o "Mestre Ziza" entrou em campo na sua memória afetiva.
- O ano era em 1946, ele jogava no Flamengo. Eu tinha os meus 11 anos, aí coincidiu daquele momento difícil do Zizinho, quando ele quebrou a perna após a dividida com o Adauto (jogador do Bangu, em uma partida vencida por 4 a 0 pelo Rubro-Negro). Ele voltando no ano seguinte e, mesmo não ganhando títulos, fazia bons jogos no Flamengo. Mas na Seleção era outra coisa, ele era o craque, encaixava muito bem naquele time. Lembro de ter visto o Brasil jogar em São Januário em 1949 com ótimas partidas dele e era aquela expectativa toda pela Copa do Mundo no ano seguinte - contou.
Com a vivência de quem cobriu por cinco vezes edições de Copas do Mundo, o jornalista acredita que Zizinho teria mais espaço para fazer seu futebol encantar torcedores de todo o planeta se não fossem as circunstâncias da época.
- Ah, certamente, se tivessem acontecido Mundiais em 1942 e 1946 (anos nos quais a competição foi cancelada em virtude dos efeitos da Segunda Guerra Mundial), certamente ele estaria na Seleção. Na época, Zizinho era titular do Brasil nas várias edições dos Sul-Americanos que foram realizados - afirmou.
Mesmo com as grandes lembranças deixadas no decorrer da Copa do Mundo de 1950, a cicatriz da derrota por 2 a 1 para o Uruguai no jogo decisivo continuou a fazer parte da rotina do meia. Sobre o assunto, o craque era sereno.
- Falava como um observador, com distanciamento sobre a Copa de 1950. Concordava que o fato da concentração ter mudado para São Januário tumultuou muito a situação entre os jogadores. Políticos visitaram a Seleção, era ano eleitoral e todos queriam um espaço com os atletas, tornou-se um clima muito festivo antes de uma decisão - e em seguida, revelou uma opinião do "Mestre Ziza":
- Zizinho achava que os uruguaios tinham um futebol equivalente à equipe brasileira, mas o esquema de jogo deles era mais cuidadoso, calculado. Tanto que ele, Ademir de Menezes, Friaça e Jair Rosa Pinto eram fulminantes no ataque, mas a defesa uruguaia "anulou" as jogavas porque os zagueiros marcavam por zona, enquanto o Brasil jogava no WM, era tudo muito esquemático - complementou.
O jornalista credita também o "Maracanazo" a uma certa sorte do Uruguai.
- Houve algumas coisas curiosas na campanha do Uruguai. Ele só teve a Bolívia como adversário na primeira fase, enquanto o Brasil jogou três partidas (contra México, Suíça e Iugoslávia). Já no quadrangular, os brasileiros aplicaram goleadas e a equipe uruguaia quase foi eliminada. Eles estavam perdendo por 2 a 1 para a Suécia e depois de conseguirem o empate no decorrer do segundo tempo, a virada aconteceu só a poucos minutos do fim - detalhou.
O escritor João Máximo não poupa elogios ao falar sobre a passagem do craque no Bangu. Aos seus olhos, foi um divisor de águas para o clube.
- O Bangu era um clube de subúrbio, investiu muito nele, que acabou sendo muito marcante para o time, se tornando um dos grandes artilheiros da história. Lembro muito de Torneio Início que ele ganhou pelo Bangu, jogos nos quais ele dava baile nos adversários, do Maracanã gritando o nome dele - disse.
Porém, o jornalista não esconde que foi uma frustração ver a forma como Zizinho deixou de ser requisitado na Seleção.
- Ele sofreu muita injustiça pelo jeito de ser. Era um jogador que tinha franqueza ao se manifestar quando achava que havia algo errado. Zizinho não tinha ido ao Pan-Americano de 1952, quando o Brasil foi campeão, mas soube por outros colegas que o "bicho" era menor na disputa do Campeonato Sul-Americano de 1953. A situação ficou ainda pior pois ele jogou no sacrifício durante a campanha - e detalhou:
- Zizinho era muito resistente ao tratamento com injeções, o que os médicos pediam. O José Lins do Rêgo (chefe de delegação) contou isso em um relatório e, como o Brasil perdeu para o Paraguai (por 3 a 2, em um jogo-desempate), a derrota recaiu nas costas do Zizinho. Foi muito injusto ele ficar de fora da Copa de 1954. Só voltou a jogar pela Seleção anos depois e ainda assim foi campeão em 1955 e 1956 (das Taças Oswaldo Cruz, por duas vezes, e do Atlântico) - complementou.
João Máximo também contou o quanto foi essencial a chegada de Zizinho ao São Paulo no ano de 1957.
- Ele chegou durante a competição e aquele timaço montado pelo Béla Guttman não perdeu mais depois da sua entrada. O campeonato era muito equilibrado, ainda trazia, curiosamente no Santos, o jovem Pelé como artilheiro da competição. Depois de muita disputa, a chegada do Zizinho fez a diferença para o Tricolor paulista - recordou o jornalista.
João Máximo contou outros detalhes que ajudam a traçar a autenticidade do "Mestre Ziza".
- Ele era muito crítico em relação a treinadores. Lembro que a própria opinião sobre a Copa de 1950 me surpreendeu, pois para mim, como torcedor, ficou sempre aquela imagem de injustiça do futebol a perda do título - declarou.
Aos seus olhos, Zizinho chamava atenção por ser um bom observador.
- Ele não chegou a ter uma sequência com tanta sorte como técnico, mas gostava muito de tática. Usava demais a seleção do Uruguai no modelo de jogo. Era bem forte isso - disse.
Autor de livros ligados à música, como "Noel Rosa: Uma Biografia", "Paulinho da Viola: Sambista e Chorão" e "Sinfonia do Rio de Janeiro: 60 anos de História Musical da Cidade", o escritor contou outra vertente do craque.
- Gostava de samba, era muito ligado à música popular, gostava de nomes da época, como Wilson Baptista, Ataulfo Alves... - contou.
O jornalista e escritor enfatizou as lembranças deste um múltiplo meia centenário.
- Deixa a imagem do jogador que corria, era raçudo, tinha suas manhas. Eu tive a honra de acompanhar a trajetória deste grande craque que foi o Zizinho - disse.
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