De Bedoya aos Panteras Negras: Casos em que o esporte foi palco de manifestações políticas

No último domingo, Alejandro Bedoya, ao marcar na MLS, cobrou do Congresso americano o combate à violência por armas de fogo; No fim de semana, 30 morreram nos EUA

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Os intermináveis ataques com arma de fogo nos Estados Unidos ganharam mais um triste capítulo neste fim de semana. Em menos de 24 horas, 30 pessoas foram mortas em dois ataques isolados. O primeiro, no sábado à tarde, em El Paso, uma cidade do Texas que faz fronteira com o México. O segundo, em Dayton, Ohio, no centro-leste do país, na madrugada de domingo. 

Diante dos ocorridos, ao marcar pelo Philadelphia Union em partida contra o DC United, na noite do último domingo, Alejandro Bedoya usou o microfone da transmissão para fazer um desabafo em pleno gramado, cobrando o Congresso americano contra os massacres nos EUA. 

- Ei, Congresso, faça alguma coisa agora e acabe com a violência por armas de fogo, vamos! - disse o americano, em partida pela Major League Soccer, a liga de futebol dos Estados Unidos. 

Ao longo da história, o esporte foi utilizado por vezes como palco para manifestações, na busca pela quebra de paradigmas da sociedade. O LANCE! separou outros casos marcantes em que a prática esportiva e a política deram as mãos. 

RAPINOE CONTRA POLÍTICAS DE TRUMP

Rapinoe comemora título mundial pelos EUA (Foto: Reprodução)

Um dos casos mais recentes evolvendo a utilização do esporte como forma de articulação política foi protagonizado pela jogadora da seleção americana, Megan Rapinoe, nos ataques a Donald Trump. No período de preparação para a Copa do Mundo feminina, disputada na França, entre junho e julho deste ano, a atleta disse que não visitaria a 'porr* da Casa Branca' em caso de título dos Estados Unidos - tradição no país entre as equipes que alcançam conquistas.

O presidente dos EUA respondeu à declaração em sua conta oficial no Twitter, ao publicar que, primeiro, a jogadora precisaria "fazer para depois falar". Dito, feito: Rapinoe conquistou o mundial com os Estados Unidos, foi artilheira e melhor jogadora do torneio. Além de não visitar a Casa Branca, a atleta manteve a postura em entrevistas após o título mundial, com duras críticas às políticas sociais de Trump.

BARCELONA E CATALUNHA

Manifestação a favor da independência da Catalunha nas ruas de Barcelona (Foto: Divulgação)

O Barcelona e o movimento separatista da Catalunha estão intrinsecamente ligados. No fim de 2017, quando o governo espanhol reprimiu o referendo que votou pela independência da região, prendendo e exilando líderes políticos catalães, o Barça posicionou-se publicamente contra as medidas da 'Coroa', e abriu as portas do Camp Nou para manifestações políticas. 

Por alguns meses, sempre aos 17 minutos e 14 segundo de partidas do clube blaugrana no estádio, os torcedores gritaram por independência enquanto levantavam a bandeira da Catalunha - fazendo alusão “Cerco de Barcelona”, uma operação militar das tropas Borbonicas, durante a Guerra da Sucessão espanhola, em 1714.

A atuação da torcida torna-se ainda mais intensa em clássicos contra o Real Madrid, clube da capital da Espanha e com ligações a Francisco Franco, antigo ditador espanhol. 

DEMOCRACIA CORINTIANA

Sócrates foi o resto da Democracia Corintiana (Foto:Reprodução)

Em 1981, época em que o Brasil era regido pela Ditadura Militar, o Corinthians trocava sua gestão. Naquele ano, liderados pela figura carismática de Sócrates, os jogadores passaram a requisitar por maior influência nas decisões importantes do Alvinegro (contratações, premiações e concentrações), na busca por uma administração mais de democrática. A 'Democracia Corintiana', estampada ainda por figuras como Wladimir e Casagrande, instaurou-se no clube, ganhou popularidade fora das quatro linhas, e apesar de já estar enfraquecida em 1984, mesclou-se às manifestações pelas eleições diretas, que eclodiam no país. 

PANTERAS NEGRAS: MÉXICO-68

Smith e Carlos erguem os braços e cerram os punhos no México, em 86 Reprodução

Em 1968, a imagem do protesto dos americanos Tommie Smith e John Carlos, nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, ganhou o mundo. Os medalhistas de ouro e bronze, respectivamente, nos 200m, subiram ao pódio silenciosamente e descalços, de cabeças baixas, ergueram os punhos fechados com luvas pretas. O gesto fazia alusão ao movimento dos Panteras Negras, que lutava contra a discriminação nos EUA. Por conta da manifestação, ambos foram expulsos da Vila Olímpica mexicana. 

MUHAMMAD ALI

Muhammad Ali (Foto: Reprodução/Facebook)

Os velocistas de Smith e Carlos talvez não tivessem cerrado os punhos caso a década de 60 não tivesse sido tão traumatizante para os ativistas negros nos Estados Unidos. Martin Luther King e Malcom Xforam assinados enquanto Muhammad Ali perdeu o título de campeão mundial dos pesos pesados por se recusar a lutar na Guerra do Vietnã, em 1967. 

Convertido ao islamismo por influência de Malcom, Ali recusou-se a defender os EUA no conflito. Com a atitude, o atleta perdeu o cinturão mundial, foi multado 10 mil dólares e pegou cinco anos de prisão. O pugilista recorreu e foi absolvido pela Suprema Corte, mas ainda foi proibido de lutar por três anos. 

MANDELA E O RUGBY NA AFRICA DO SUL

Mandela entrega troféu do Mundial a François Pienaar, capitão da equipe sul-africana (Foto: AFP)

Em 1995, Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul eleito após o Apartheid, usou o Campeonato Mundial de Rugby para unir o povo de seu país - historia que virou livro e depois filme. O esporte era considerado 'coisa de Branco', mas a excelente campanha do time sul-africano e o incentivo do líder político fizeram com que os negros, que antes viam a seleção como puro reflexo de seus opressores, passassem a apoiar a equipe. 

Ao mesmo tempo, a população branca, a partir dos laços com o esporte, passavam a lidar melhor com as mudanças pelas quais o país passava - um novo presidente, bandeira e hino. O título mundial acabou criando um sentimento ufanista, e foi de suma importância para dar maior harmonia a um país rachado pelo preconceito. 

GUERRA FRIA E BOICOTES OLÍMPICOS

Olimpíadas de Moscou tiveram boicote americano (Foto: Reprodução)

A Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética avançou sobre inúmeros campos da sociedade, inclusive o esporte. Pouco antes dos Jogos Olímpicos de Moscou, os EUA anunciaram o boicote à competição por conta da invasão soviética no Afeganistão, no ano anterior. A URSS deu o troco quatro anos depois, ao não participar dos Jogos de Los Angeles, alegando que seus atletas não estariam protegidos de ataques e protestos no território norte-americano. 

NBA CONTRA O RACISMO

LeBron James protesta contra violência policial (Foto: AFP)

Ao contrário do comportamento estéreo, reproduzido por muitas estrelas do mundo do esporte, LeBron James nunca escondeu seus posicionamentos políticos. Em 2014, quando atuava no Cleveland Cavaliers, o astro juntou-se ao protesto contra a decisão de um júri de não indiciar o policial branco acusado de sufocar um homem negro desarmado até a morte, em uma rua de Nova York. O atleta entrou para o aquecimento, antes da partida contra o Brooklyn Nets, usando uma camiseta com as últimas palavras ditas por Eric Garner: "I can't breath" ("eu não consigo respirar", em português).

Na oportunidade, ele foi acompanhado pelo companheiro Kyrie Irving, e pelos jogadores adversários Jarrett Jack, Alan Anderson, Deron Williams and Kevin Garnett. LeBron também já fez duras críticas a Donald Trump, a quem se recusou a chamar de presidente durante a coletiva de imprensa de um evento.

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