A ‘Era Renato’: veja como técnico fez Grêmio voltar ao rumo dos títulos
Após driblar desconfiança inicial da torcida, treinador quebra jejum incômodo do Tricolor gaúcho e, agora, traz novos sonhos para a equipe
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A confiança de que o Grêmio tem condições para se firmar na briga por títulos passa por um eterno ídolo. Contratado há dois anos com a responsabilidade de "resgatar a alma gremista", Renato Portaluppi vem se consolidando como um treinador de ponta e estendeu o carinho da torcida às lembranças que vem deixando à beira de campo.
Sob seu comando, o Tricolor gaúcho conquistou uma Copa do Brasil, uma Copa Libertadores, uma Recopa Sul-Americana e um Gauchão. E o apetite da torcida e da cúpula gremista por títulos segue intenso:
- Conseguimos chegar a uma semifinal fortes e, independente do adversário, sabemos que teremos grandes jogos. Não é à toa que estamos aí. E ainda estamos na briga pelo título brasileiro. É só a gente manter uma postura forte do nosso time alternativo que podemos encostar - diz, ao LANCE!, o vice de futebol, Duda Kroeff.
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Ao desembarcar na Arena do Grêmio, Renato Portaluppi recebeu uma missão e tanto. O clube amargava 15 anos de jejum em títulos nacionais, cabia ao técnico dar uma "nova faceta" à base deixada por seu antecessor, Roger Machado.
Kroeff contou o que pesou para a cúpula gremista depositar suas fichas em Renato, que não treinava um clube desde 2014 (quando saiu do Fluminense):
- O principal é que ele é muito bom, um excelente profissional. Já tínhamos trabalhado juntos em 2010, quando eu era presidente do Grêmio. Mas acho que, agora, ele evoluiu a visão dele. Ganhou mais experiência.
O ídolo gremista foi apresentado às vésperas do jogo de volta das oitavas de final da Copa do Brasil, contra o Atlético-PR. Mesmo assim, garantiu:
- A gente está contra o tempo, correndo contra o tempo. É aproveitar esse bom tempo, conversar bastante. A partir de quarta, o Grêmio vai ser um pouco diferente das coisas que vêm acontecendo.
Embora o Tricolor gaúcho tenha perdido por 1 a 0 no tempo normal, Marcelo Grohe se destacou nos pênaltis, ao garantir a vitória por 4 a 3 na Arena do Grêmio. Era só o primeiro passo na busca pelo esperado fim de jejum.
Contratado como coordenador técnico, Valdir Espinosa relembrou como foi a chegada ao clube:
- Olha, era uma temporada bem difícil, porque o período sem ganhar títulos aumentava o desejo de todo mundo. O primeiro passo foi contratar o Renato e eu. Aí, com esta identificação que temos com o Grêmio, chamamos a torcida para o estádio e, aos poucos, os jogadores foram ganhando confiança.
Deixando de lado o Brasileirão em detrimento da Copa do Brasil, a equipe despachou Palmeiras e Cruzeiro, até chegar à final contra o Atlético-MG. Com dois gols de Pedro Rocha e Geromel completando, o Imortal garantiu o 3 a 1 no jogo de ida no Mineirão (Gabriel diminuiu).
Mesclando o trio de jovens formado por Pedro Rocha, Everton e Luan, medalhões como Edilson, Maicon e Douglas e a imponência de Marcelo Grohe, Geromel e Kannemann, o Grêmio viu o empate em 1 a 1 garantir o título na Arena. Espinosa, que foi técnico de Renato na Libertadores e no Mundial de 1983, relembrou como foi o momento do título da Copa do Brasil:
- Foi como se todos tirassem um peso das costas. O Renato soube passar no dia a dia a confiança para os jogadores. Isto ficou ainda maior à medida que vinham as vitórias. Eu lembro que ele passava aos jogadores o mesmo conselho que eu disse para ele: não é a taça que vem até a gente, é a gente que vai até a taça.
Campeão, Renato ainda abriu espaço para um comentário bem irreverente, que soou como resposta aos que criticavam o fato de ele não aproveitar seu tempo para se "reciclar" como técnico:
- Quem precisa aprender, estuda, vai pra Europa... Quem não precisa vai pra praia. Eu falo isso, e muitos criticaram. Disseram: estão trazendo um treinador que estava jogando futevôlei... Eu pergunto, e agora? E aí? Futebol é como andar de bicicleta. Quem sabe, sabe. Quem não sabe, vai estudar.
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Confirmado para o técnico em um 2017 no qual o Grêmio lutaria pelo tricampeonato da Copa Libertadores, Renato Portaluppi complementou a base da sua equipe com apostas em jogadores rodados. Desembarcaram na Arena nomes como os laterais Léo Moura e Cortez e o atacante Jael.
- Ele é muito talentoso para isto. Mesmo quando perdemos talentos para o exterior, ele foi repondo os jogadores à altura. Além de dialogar muito com quem está nas categorias de base, Renato assiste a vários jogos, procura jogadores que acha que podem render - afirmou Kroeff.
O trio retomou seus bons momentos, sendo crucial para a caminhada da equipe até o título da Copa Libertadores. Valdir Espinosa contou como era o planejamento para o início de temporada:
- Todas as contratações eram discutidas, mas o mérito maior sempre foi do Renato, que soube recuperar estes jogadores e fazer com que eles ajudassem. Ele (Renato Portaluppi) sabe como dialogar, dar a cada jogador chance de mostrar seu futebol.
Ainda chegaram ao clube outros jogadores desacreditados, como Lucas Barrios, Cícero e Christian. E, após a frustração no Gauchão (parando nas semifinais para o futuro campeão Novo Hamburgo), o Imortal foi abrindo caminho para o sonho continental.
Na Libertadores, passou a fase de grupos com tranquilidade, eliminou o Godoy Cruz nas oitavas e, nas quartas, se superou em uma acirrada batalha contra o Botafogo. E, nas semifinais, contou com defesa histórica de Marcelo Grohe para garantir a vitória por 3 a 0 em Guayaquil, num triunfo que deu confiança ao técnico.
- Grohe fez a defesa do ano. O Grêmio voltou a encantar, a ser aquele Grêmio que foi elogiado pela imprensa do Brasil - disse, no jogo de ida (na volta, nem a derrota por 1 a 0 tirou a vaga para a final).
A final entre Grêmio e Lanús foi antecedida por uma polêmica que ganhou um tempero ainda maior graças a Renato Portaluppi. Após a revelação de que o clube gaúcho usava "drone" para espiar adversários, o técnico brincou:
- O mundo é dos espertos.
Em campo, o Tricolor gaúcho garantiu a vitória por 1 a 0 graças a um jogador "recuperado" por Renato Portaluppi. Cícero, cedido pelo São Paulo, garantiu a vantagem em território argentino.
No jogo de volta, a mescla entre jogadores jovens e que ganharam espaço sob o comando do técnico garantiu o título em Lanús. Luan abriu o placar, e Fernandinho (que voltara de empréstimo do Flamengo) decretaram o 2 a 1. Título que rendeu um pedido bem-humorado de Renato Portaluppi ao prefeito de Porto Alegre:
- Queria que alguém acordasse o prefeito de Porto Alegre. Com todo respeito, seu (Nelson) Marchezan (Júnior). Mas eu, Renato Portaluppi, estou declarando feriado em Porto Alegre. O senhor atenderá nosso pedido. Há um grande clube campeão do mundo e tricampeão da América chegando. Somente curtam.
O técnico ainda obtém o feito de ser o primeiro brasileiro campeão como jogador e técnico na Copa Libertadores.
Porém, as declarações polêmicas e as conquistas não apareceram a todo momento. Após um início promissor no Brasileirão, em que disputava ponto a ponto a liderança com o Corinthians, o técnico "previu":
- O Corinthians vai despencar na tabela.
A previsão não se concretizou, e o título acabou nas mãos do Corinthians. Aos poucos, o Tricolor gaúcho foi deixando de lado a competição nacional, em detrimento da sua preparação para o Mundial de Clubes. Renato Portaluppi já temperara um possível encontro dos gremistas com o Real Madrid ao dizer mais de uma vez:
- Muita gente hoje é de uma geração que acompanha o Cristiano Ronaldo. Essa geração não me viu jogar. Daí você pega a geração da antiga, que me viu jogar, e pode ter certeza que é outra opinião.
Antes de encarar o Real Madrid de CR7, o Tricolor gaúcho teve de passar pelo Pachuca (MEX), em triunfo por 1 a 0 com gol de Everton. Já diante do Real Madrid, os gremistas penaram, sofreram ampla pressão e coube, ironicamente, a Cristiano Ronaldo garantir o título do Mundial de Clubes merengue.
Com títulos e campanhas de encher os olhos, Renato Portaluppi chegou ao fim do ano quebrando uma escrita gremista: desde 2007, com Mano Menezes, um técnico não chegava a completar um ano.
2018 - O DIA DO 'FICO' PARA GRANDES EXPECTATIVAS
Em seu novo ano no Grêmio, a importância de Renato Portaluppi foi vista em todos os sentidos. Logo em fevereiro, a torcida saboreou a conquista de novo título continental: a Recopa Sul-Americana.
Após dois empates no tempo normal com o Independiente, Marcelo Grohe brilhou na vitória nos pênaltis do Grêmio na Arena.
- Tenho um grupo maravilhoso nas mãos, que aprendeu a ganhar.
A nova prova de que o Grêmio "aprendeu" a ganhar veio alguns meses depois. A equipe chegou à final do Gauchão e, com tranquilidade, bastaram duas goleadas (4 a 0 e 3 a 0) sobre o Brasil de Pelotas para quebrar um jejum de oito anos no estado.
Neste período, o ciclo de Renato Portaluppi com o Tricolor gaúcho chegou a balançar. O técnico recebera uma proposta para assumir o comando do Flamengo mas, após a conquista do Gauchão, declarou:
- Agradeço muito, todo mundo sabe do meu sonho de treinar o Flamengo. Hoje estou no Grêmio muito bem. Meu grupo está de parabéns. Nossa torcida. O carinho da torcida e o meu, eu ficarei. Agradeço muito o convite do Flamengo, todos sabem o sonho de eu treinar o Flamengo. Mas eu ficarei.
Duda Kroeff apontou o que acha que pesou para Renato seguir na Arena:
- Foi mais o momento do Grêmio. Embora a proposta fosse muito boa, melhor que a nossa, esta sequência que vem tendo no Grêmio é muito grande.
Contando com reforços pontuais como Madson, André e Marinho, o treinador consolidou novamente a base da equipe. E, mesmo após a eliminação para o Flamengo na Copa do Brasil, volta a rota para um sonho mais ousado: dar nova volta olímpica na Copa Libertadores.
JORNALISTA E EX-COLEGAS DE GRÊMIO FALAM SOBRE 'ERA RENATO'
A perspicácia é vista como crucial para Renato Portaluppi conduzir o Grêmio à luta constante por títulos. Jornalista da Rádio Gaúcha, Cleber Grabauska exalta a maneira como o técnico aproveitou o elenco que tinha nas mãos:
- Começa por uma base que vinha já bem montada pelo Roger (Machado), com Luan, Maicon, Geromel, Marcelo Grohe. Renato deu uma lapidada e colocou uma estrela vitoriosa neste time.
Ex-volante na conquista do Mundial Interclubes de 1983, China afirmou que a postura gremista mudou sob o comando de Renato Portaluppi:
- O futebol do Grêmio ficou mais vistoso com Renato. Em vez da pouca objetividade, a equipe tem uma postura vertical, sem medo de se lançar ao ataque.
Já o ex-zagueiro Baidek aponta outros fatores no desempenho do técnico:
- A gente vê um amadurecimento nele como treinador. Ele está sabendo mais como gerir um grupo, colocar confiança. Ele consegue ganhar o respeito sem ser no grito. Isso é muito importante.
Grabauska destaca que o treinador ainda tem uma "carta na manga" no dia a dia de Grêmio:
- Ele (Renato) trouxe um cara que é pouco badalado, que é o Alexandre Mendes. O Alexandre é aquele profissional que domina bem o "tatiquês" que o Roger divulgava. Dá um embasamento científico, um trabalho atualizado do que é relevante. O Renato expõe mais esta parte folclórica dele, de dizer que "aprendeu jogando futevôlei", mas ele está muito mais cercado mesmo.
Duda Kroeff ratifica esta visão sobre Renato Portaluppi:
- É um cara muito dedicado. Vê todos os jogos na televisão, tem o suporte do Alexandre Mendes. É por isto que, hoje, temos grandes expectativas não só com esta safra, mas com novos nomes, como Pepê, Mateusinho (Mateus Henrique), que é o novo Arthur...
A esperança do Grêmio é de que dias ainda melhores venham. E sob o comando de Renato Portaluppi.
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