O que quer o torcedor do futuro?
Daqui para a frente, tão importante quanto ter um camisa 9 que faça gols será ter uma produção e distribuição de conteúdos consistente
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Na minha última coluna aqui no Lance! Biz,, comentei sobre a importância e a necessidade dos canais de mídia acompanharem a mudança do comportamento de consumo da Geração Z. Agora, sob o ponto de vista de clubes e atletas, o que deseja esse torcedor do futuro?
Um recente estudo da Associação de Clubes Europeus (ECA) mostrou uma série de percepções sobre o comportamento da nova geração de torcedores que consome, ou deixa de consumir, o futebol.
Em primeiro lugar, a razão pela qual um torcedor da nova geração passa a torcer para uma determinada equipe vem mudando. Historicamente, a paixão por determinado clube passou de pai para filho, ou mesmo por outro membro da família. Para o fã atual, entre 16 e 24 anos, a influência dos conteúdos que este determinado clube produz e dissemina aparece como a primeira razão.
O interesse pelo futebol persiste justamente pela aquela que talvez seja a principal proposta de valor deste esporte como produto: a imprevisibilidade. O fato de tudo puder mudar a qualquer segundo e a mistura de emoções que uma partida transmite é algo talvez ainda inalcançável por outro tipo de entretenimento.
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Um ponto importante para este torcedor do futuro é a importância que os atletas passam a ter. Hoje, já há o torcedor do atleta sem mais prometer fidelidade a determinado clube. Caso como o de Messi indo do PSG para Inter Miami e levando milhões de torcedores para o seu novo clube mostra um pouco deste fenômeno. Com isso, surge também o torcedor de duas equipes, seja um clube no Brasil e outro na Europa, ou até mesmo dois aqui no país. E é pensando justamente neste tipo de fã que clubes como o Red Bull Bragantino, por exemplo, direcionam a sua estratégia.
Outra mudança é o esporte feminino que passa a ser item obrigatório no cardápio do novo fã. A estrondosa audiência na última Copa do Mundo é um dos claros exemplos. Apesar destes pontos, vale o alerta que, para boa parte dessa camada jovem, o futebol nesse formato atual já não demonstra tanta relevância para as suas vidas.
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Umas das explicações é justamente a forma como a geração Z consome conteúdo. O torcedor dessa faixa já não tem mais disposição para assistir aos 90 minutos de uma partida. Isso é um reflexo do comportamento fora do esporte também, haja visto o sucesso de plataformas de vídeos curtos como Tik Tok. Este torcedor dá preferência aos melhores momentos, aos resumos do Twitter, aos chats e aos aplicativos de resultados.
Os atletas assumem cada vez mais protagonismo como geradores de conteúdos e influenciadores digitais, tendo muitos uma quantidade extremamente maior de seguidores do que os clubes. As marcas também passam a ter voz neste ambiente, já que aquelas que conseguem se posicionar como veículos de mídia entram de vez na conversa do dia a dia do torcedor.
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Conversa essa, aliás, que agora precisa estar em linha com os valores e a cultura do novo fã. Temas que antigamente eram ignorados, passam agora à primeira prateleira de importância. Tanto clubes como atletas precisam estar antenados e bem posicionados a respeito de temas como diversidade, equidade e inclusão.
Especificamente no esporte, o tema da saúde mental ganha ainda mais relevância, depois do retorno triunfal da ginasta Simone Biles, após dois anos afastada para tratar desta questão. Outros temas de responsabilidade social como educação, moradia, alimentação também são cobrados cada vez mais de atletas e clubes.
Os papéis e responsabilidades dos principais atores do futebol ficam cada vez mais claros sob a ótica do torcedor do futuro. Ser o espelho e modelo de comportamento ideal é o que será cobrado de cada um deles. Clubes cada vez mais voltados a questões de responsabilidade social e atletas que ostentem menos e que façam mais pelos menos favorecidos, especialmente àqueles ligados as suas origens, são os comportamentos esperados daqui para a frente.
Atitudes como a de Sadio Mané, que construiu hospitais, escolas e até agência de correios em sua vila natal (Bambali, Senegal) são exemplos que arrastam. A vida pessoal do atleta ganha mais espaço, pois os fãs têm cada vez mais interesse em saber quem é o ser humano por trás do profissional de chuteiras. Qual é seu estilo de vida? O que faz nas horas vagas? Como se comporta em casa e com a família? Não à toa, o interesse por esses temas é tão grande que acaba transformando os atletas em canhões de mídia.
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Por fim, o futebol precisa romper fronteiras, pois, afinal de contas, é um estilo de vida. O fã do futuro não quer mais ficar dentro do ecossistema do esporte. Ele quer ir além. Aqui, oportunidades surgem para marcas de moda, como fizeram Empório Armani/Napoli e Reserva/Flamengo, desenvolverem projetos em colaboração com os clubes. As opções não param por aqui, se estendem para o mundo da música, carros, perfumes, e-sports, e todos os interesses periféricos que fazem sentido na vida do torcedor do futuro.
O torcedor, como disse Fernando Fleury, é um ser fluido. Assim como qualquer consumidor e indivíduo, se transforma ao longo do tempo. O caminho que ele deseja hoje não é o mesmo de ontem e nem será o mesmo de amanhã. Captar este novo trajeto é tarefa obrigatória de qualquer indústria que queira se manter relevante.
No caso do esporte, passa diretamente por uma estratégia de posicionamento como uma plataforma de mídia. Daqui para a frente, tão importante quanto ter um camisa 9 que faça gols será ter uma produção e distribuição de conteúdos consistente e que fale a mesma língua do novo fã. O esquema tático que funcionou no passado só funcionará neste jogo do torcedor do futuro se ele for constantemente atualizado.
* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Lance!
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