Próximos investimentos, mudanças na legislação e Fair Play Financeiro: o futuro da SAF no Brasil
Em entrevista ao LANCE!, Cláudio Pracownik, CEO da Win the Game, faz balanço do início da SAF e opina sobre os próximos passos do modelo<br>
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A Sociedade Anônima de Futebol segue um assunto em alta no Brasil. A temporada 2022 foi a primeira com SAFs em operação e representou o "início de uma maratona" que promete transformar o futebol brasileiro. Agora, a expectativa é acompanhar os próximos passos deste novo modelo de gestão de clubes.
Neste sentido, o LANCE! entrevistou o empresário Cláudio Pracownik, CEO da Win the Game, empresa do grupo BTG que auxilia clubes na busca por investidores. Além de fazer um balanço sobre o começo da SAF, o empresário opinou sobre possíveis alterações na legislação e no cenário geral do futebol brasileiro.
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Uma mudança prevista dentro da indústria é no perfil dos clubes que receberão investimentos em 2023. Após operações de grande porte em Cruzeiro, Vasco, Botafogo e Bahia, a tendência é que o segundo ciclo de investimentos se concentre em clubes de menor expressão financeira e envolva valores menores.
- O foco vai ser clubes médios e clubes pequenos, clubes que têm alguma tradição de clube formador ou que reúnam infraestrutura para que se tornem um centro de formação de atletas. Clubes que têm um CT, uma sociedade imobiliária, que possua equipamentos… Acho que vamos ter um ano de operações com um compromisso de investimento bem menor do que nós tivemos no ano passado. Talvez o Atlético Mineiro pode ser uma exceção se a operação sair - disse Cláudio Pracownik, ao L!.
Outro assunto abordado na entrevista foi a questão legislativa. A Lei da SAF (Lei 14.193), em vigor desde agosto de 2021, representou um novo marco regulatório do futebol nacional, mas já se tornou alvo de críticas de John Textor, sócio majoritário da SAF do Botafogo. Defensor da legislação, Pracownick concorda que é preciso uma nova edição da Lei e cita a importância da implantação do Fair Play Financeiro.
- Para mim, foi um passo muito bem dado, mas a legislação não é muito clara ainda em relação às dívidas fiscais e às dívidas esportivas. Acho que é fundamental que venha uma nova edição legislativa e que seja incluído o Fair Play Financeiro. Porque o clube que se transforma em Sociedade Anônima de Futebol é um clube que vai ser mais racional e conservador nos seus investimentos. Não é correto que ele compita contra clubes que efetivamente gastam mais do que podem.
Esta é a primeira parte de uma série de reportagens do LANCE! com a participação de Cláudio Pracownik. As próximas matérias serão publicadas nos próximos dias e terão como tema o possível impacto da criação da Liga no cenário das SAFs e a situação confortável do Flamengo nesta corrida por investidores.
Confira as respostas de Cláudio Pracownik na íntegra:
Qual é o balanço da SAF até o momento?
"Balanço positivo, um balanço de um início de uma jornada. É uma maratona que começa com os primeiros passos. A gente teve, na primeira leva, clubes que foram movidos mais pela necessidade do que por uma motivação racional, do que um planejamento de longo prazo. A fome foi o melhor tempero nesse caso. Os clubes grandes que se transformaram em SAF fizeram porque não tinham muita opção de seguir no mundo esportivo de portas abertas, aptos a contratar e a pagar suas dívidas.
Os investidores que vieram são sérios. Os clubes começam a apresentar modelos de gestão profissionais, lastreados em resultados e metas, mudando o perfil do profissional e com cobrança de resultados. Tem também alguma injeção adicional de capital nas contratações. Clubes que ficaram muito tempo ficando longe das contratações, como é o caso do Vasco e do Botafogo, voltaram a contratar."
Quais são os riscos da SAF?
"SAF é meio e não fim. Se os 20 clubes da Série A se tornarem SAFs, vamos ter quatro rebaixadas. Ser uma SAF não significa que o clube está imune à crise. É uma sociedade anônima. As empresas quebram. O risco de você ter uma SAF é porque pode quebrar se for mal gerida. Um clube associativo não quebra.
Então, é muito importante que o clube escolha bem o investidor que vai estabelecer essa parceria para não aceitar o primeiro dinheiro que entre na sua conta. Há um processo seletivo, que o clube precisa observar um montão de restrições, detalhes e números para entender se existe uma comunhão de interesses entre a parte compradora e a parte vendedora. A parte compradora tem que ter a credibilidade, a capacidade financeira de honrar com os compromissos que ela se propõe."
O que esperar do segundo ciclo de investimentos?
"O mercado nacional está mais maduro com esse tipo de operação, mas o contexto macroeconômico nacional e mundial é um contexto de pós-guerra. Então, não há tanto capital assim disponível. Nós temos aí Coritiba, Atlético-MG e América-MG com possíveis “closings” de curto prazo. Temos outros clubes que ainda podem acontecer esse ano.
Na verdade, o foco vai ser clubes médios e clubes pequenos, clubes que têm alguma tradição de clube formador ou que reúnam infraestrutura para que se tornem um centro de formação de atletas. Clubes que têm um CT, uma sociedade imobiliária, que possua equipamentos… Acho que vamos ter um ano de operações com um compromisso de investimento bem menor do que nós tivemos no ano passado. Talvez o Atlético Mineiro pode ser uma exceção se a operação sair.
E, na minha visão, nós vamos ter investidores querendo comprar clubes das Séries B e C na expectativa de ter uma valorização rápida dos seus investimentos. Até mesmo pela criação da Liga. Imagina você compra um time da Série B e consegue, em um ano, passar para a Série A com uma liga formada? Você teria muito mais valores à mesa e um retorno de investimento muito rápido. Você pode comprar um clube barato, com poucas receitas comerciais agregadas, mas, em menos de nove meses, você tem um retorno gigantesco ao entrar na Série A, por exemplo. Mesma coisa alguém da Série C subir para a Série B e, dois anos depois, chegar na Série A. A gente percebe que vamos ter um ano com operações em clubes de menor expressão financeira."
O que mudar na Lei da SAF?
"Eu não critico a lei. Como eu falei, é o primeiro marco regulatório que a gente tem bem feito. Então, para mim, foi um passo muito bem dado. A legislação não é muito clara ainda em relação às dívidas fiscais e às dívidas esportivas. A lei precisa buscar soluções melhores para o Regime de Execução Centralizado, para que efetivamente exista a proteção ao investidor. O regime da recuperação judicial e da extradição é um regime muito mais seguro hoje em dia para o investidor, até porque ela não é regulamentada pela lei.
Acho que é fundamental que venha uma nova edição legislativa e que seja incluído o Fair Play Financeiro. Porque o clube que se transforma em Sociedade Anônima de Futebol é um clube que vai ser mais racional e conservador nos seus investimentos. Não é correto que ele compita contra clubes que efetivamente gastam mais do que podem.
Então, se a legislação busca trazer uma racionalização, a ética, a governança para o esporte, é fundamental que o Fair Play Financeiro seja regulamentado. Eu acho que o que a gente precisa agora é complementar a lei, mais do que sanar algumas dessas lacunas existentes. Mas a complementação desta legislação é o que eu acho que a gente deve ter como objeto de estudo por parte do legislador."
Qual modelo vai dominar o futebol brasileiro no futuro?
"Acho que o modelo preponderante vai ser o da SAF, não tenho muita dúvida sobre isso. Porque é um modelo que reduz a taxa de juros e aumenta a possibilidade de injeção de capital. A inserção do esporte como entretenimento transformou o esporte em negócio. E não há negócio que sobreviva sem dinheiro.
Está mais do que provado que o balanço financeiro de uma associação ou de um clube-empresa está completamente em sintonia com a capacidade que esse clube tem de ganhar jogos e títulos. Quanto mais dinheiro, mais competitivo você vai ser. Então, vai ser necessário dinheiro. Por isso, não tenho muitas dúvidas de que a Sociedade Anônima do Futebol vai ser o modelo preponderante no médio e longo prazo."
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