Final da Libertadores – Xico Sá: ‘Ao sol e à sombra com Eduardo Galeano no Uruguai’
Palmeiras x Flamengo: Em Montevidéu, jornalista e escritor escreve em crônica especial para o LANCE! sobre 'toda sorte de mandingas e superstições'para a decisão
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Amigo torcedor, amigo secador, a véspera do embate é uma eternidade sem Deus. Vale toda sorte de mandingas e superstições.
Esta decisão, para muitos flamenguistas e palmeirenses, começou, pasme!, desde que a enfermeira enfiou o cotonete nos seus narizes para o PCR da Covid-19. Naquela cócega, seguida de espirro, alguns fanáticos tiveram premonições, como me confessaram rubro-negros e alviverdes que seguiam de São Paulo para Montevidéu, na madruga de quinta para sexta-feira.
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Sim, para entrar no Uruguai o visitante precisa testar negativo para a doença pelo menos 72 horas antes da partida, sem essa de firulas e dribles negacionistas.
“Fechei os olhos, lacrimejei e vi o Bruno Henrique só encostando para o fundo das redes”, narrou Antonio Costa, Mengo desde as fraldas, mineiro de Uberlândia. Pedro Gonçalves veio de Araçatuba, ouviu o papo na fila do aeroporto de Guarulhos e tirou onda: “1 x 0 pro Verde, gol contra da zaga deles, meu espirro não falha”.
Tempos malucos em que as profecias e os pressentimentos passam por místicas mucosas. Meu desafinado espirro de Mãe Diná, por exemplo, previu um 0 a 0 até os 40 do segundo tempo. E nada mais enxerguei doravante, apenas um campo coberto por fumaça de sinalizadores. Quando o fumacê dispersou, reparei que o juiz da peleja se dirigiu à cabine de VAR para tirar uma dúvida fatal.
Transtorno delirante de véspera. Sigo apenas como um mendigo forasteiro que clama por gols bonitos (mas de canela aos 30 da prorrogação também vale) no estádio Centenário.
Quem me sopra tudo isso é o compay Eduardo Galeano, um amante do Nacional do Uruguai (tri da Libertas) e autor da bíblia “O futebol ao sol e à sombra” — meu guia nesta viagem, em uma edição de bolso lindíssima da L&PM, com direito ao Santa Cruz na capa em escultura de barro do artista pernambucano Zé Caboclo. Recomendo.
Sigo como mendigo futeboleiro, Galeano, mas em finais extraordinárias como a de agora, admito, já torci deveras pelos pênaltis. Um momento em que não há cutucada de cotonete no nariz que seja capaz de ensaiar um prognóstico.
Que a decisão seja dramática, à altura das tantas batalhas dos heróis do continente, como o general José Artigas (1764-1850), representante uruguaio na galeria dos Libertadores da América.
Sextou e a véspera do embate leva ao transe e ao delírio o mais sóbrio e centrado dos mortais. Cada um rabisca seu sonho de final conforme o repertório de crendices e superstições de outras temporadas.
E nem o corvo Edgar, minha estimada ave de agouros ludopédicos, arrisca um palpite, mesmo com a sua natural queda de asas para os urubus do Henfil.
Quem sabe, depois de um assado e de um vinho, o bicho desperta e me abre o jogo sobre quem ficará com a taça. Conto na próxima crônica.
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