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‘Ainda enfrentamos dificuldades por sermos mulheres’, diz Martine Grael

Primeira brasileira a disputar a Volvo Ocean Race tenta absorver lições da corrida para sua campanha olímpica, enquanto lida com barreiras para testar outras categorias no futuro<br>

Martine Grael durante a passagem por Itajaí na Volto Ocean Race
imagem cameraPedro Martinez/Volto Ocean Race
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Lance!
Enviado Especial a Itajaí (SC)*
Dia 21/04/2018
00:25
Atualizado em 21/04/2018
11:07

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O ano de 2018 é de experiências inéditas para Martine Grael. Campeã olímpica na classe 49erFX nos Jogos Rio-2016, ao lado de Kahena Kunze, a brasileira vem realizando uma meta antiga, de se tornar uma velejadora mais completa. Na Volvo Ocean Race, sobram lições.

Levantar peso, passar horas em posições desconfortáveis ou sem dormir e lidar com o frio intenso foram alguns dos desafios que a niteroiense de 27 anos aceitou no ano passado, quando resolveu percorrer o mundo. A satisfação é evidente no sorriso da atleta ao contar suas aventuras. Mas o mesmo se esconde ao falar sobre a resistência que as mulheres ainda enfrentam ao tentar se aventurar em outros barcos.

- Eu sempre quis ser uma velejadora completa, "all-arounder" (que tem muitas habilidades). Até por isso busquei bastante esta regata. É uma área da vela muito legal e intensa. Gostaria de testar regatas em outros barcos, mas ainda enfrentamos dificuldades por sermos mulheres, por não termos a mesma força dos homens. Então, tudo depende das oportunidades que vierem para a gente - disse Martine, ao LANCE!.

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A Volvo Ocean Race incentivou o aumento da participação feminina nesta edição, ao permitir que as equipes com homens e mulheres sejam mais numerosas.

Pela primeira vez, há pelo menos uma velejadora a bordo em cada time. Mas só um barco compete com quantia igual de homens e mulheres (cinco), o Turn The Tide On Plastic, chefiado pela única skipper da regata, a britânica Dee Caffari.

O barco de Martine, o holandês AkzoNobel, ocupa a quarta colocação na classificação geral da Volvo e encerrou a última etapa, de Auckland (ZNE) até Itajaí (SC), em terceiro. Ela afirma se sentir ainda inexperiente diante de nomes mais acostumados com a vela oceânica, mas busca aproveitar o momento.

- Essa regata é bem desgastante, psicologicamente e fisicamente. Agora, não tenho responsabilidade nenhuma, então fica mais fácil, mas é uma disputa difícil para quem tem um companheiro, uma família. Mas não descarto a possibilidade de tentar outras vezes no futuro - afirmou a atleta.

Martine e Kahena buscarão a vaga olímpica em Tóquio-2020 no Mundial da Dinamarca, em agosto, menos de um mês após o desfecho da Volvo. As duas conquistaram o título da competição em 2014 e ficaram com o vice no ano passado.

'Eu teria medo de enfrentá-la', diz comandante

O holandês Simeon Tienpont, skipper do AkzoNobel, mostra respeito quando o assunto é Martine Grael. Embora a brasileira seja uma das menos experientes da equipe na Volta ao Mundo, o comandante destacou o crescimento da atleta em sua missão na vela oceânica nos últimos seis meses.

- Quando ela entrou no barco, até pelo tipo de força, com catracas muito maiores, levou um tempo para se acostumar. Mas é uma velejadora incrível. Ela me impressionou como aprendeu rápido ao sair de um barco pequeno como o 49erFX para um VO65 nos mares do Sul nas condições que enfrentamos. É uma pessoa que tem sempre um sorriso, uma companheira de time. Se eu fosse correr de 49er, ficaria muito assustado de ter que correr contra ela - disse Tienpont.

O clima no AkzoNobel é outro em comparação ao início da temporada. Em outubro, uma batalha jurídica pelo comando da equipe quase tirou o comandante do grupo. Na época, Simeon se desentendeu com o patrocinador e precisou ir à Justiça para voltar ao cargo, no lugar do neozelandês Brad Jackson. O barco ficou dividido e Martine, insatisfeita com algumas decisões de Tienpont, cogitou sair.

- Tivemos um início difícil, mas já superamos isso. Estamos unidos. Nas últimas três pernas, somamos mais pontos do que o resto da flotilha - disse o skipper.

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BATE-BOLA
Martine Grael
Velejadora

Ainda enfrenta algum tipo de preconceito por ser mulher em um esporte que valoriza a força física?
Preconceito enfrentamos todos os dias. Temos de provar que podemos, diariamente, nas pequenas coisas. Por outro lado, minha equipe tem sido muito compreensiva. Não posso reclamar de nada. Eles esperam que a gente faça o melhor e nos tratam igual (aos homens).

Como você viu o acidente com o John Fisher, do Sun Hung Kai/Scallywag? Você e sua equipe mudaram algum procedimento de segurança?
Depois do acidente, todos no barco ficaram muito baqueados. A mudança que aconteceu foi que todos passaram a prestar muito mais atenção nos outros. Meus companheiros de turno ficam mais atentos se os outros estão equipados. É muito difícil determinar que se deve usar o colete. Eu, por exemplo, me sinto mais insegura com o colete do que sem. Por outro lado, passo o tempo inteiro equipada. O que aconteceu com ele foi uma série de coincidências e fatores, e um pouco de erro humano. Tudo isso somado levou a um acidente fatal.

O que acha que pode levar da Volvo Ocean Race para sua corrida olímpica para Tóquio-2020?
A união e saber lidar com pessoas. Quando se convive com gente tão diferente de você, de outras nacionalidades, e em condições extremas, vira um aprendizado. Tenho procurado relaxar mais e aceitar que existem culturas diferentes, maneiras diferentes de lidar com as situações. Eu sou muito cabeça dura, mas, às vezes, é melhor não discutir para manter a amizade (risos).

Como tem sido conciliar a Volvo com a expectativa da campanha olímpica?
Nossa campanha olímpica foi bem intensa. Treinamos para caramba. Sabíamos que se fizéssemos os quatro anos juntas novamente, seria difícil de a parceria fluir. Temos uma amizade muito grande, mas o trabalho obviamente desgasta a relação. Quando trabalhamos, passamos as partes estressantes juntas. Quando temos um dia livre, vai cada uma para um lado e volta mais animada. Precisávamos de uma motivação depois do ouro. Agora, tenho esse sentimento. Estamos atrás das meninas da classe, mas vamos recuperar o tempo perdido. A Volvo calhou de vir em boa hora.

* O repórter viaja a convite da Volvo Ocean Race

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