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Atletas se articulam para construir chapa estratégica na eleição do COB

Esportistas terão um quarto dos votos na escolha de presidente, vice e oito integrantes do Conselho de Administração, com membro independente e representantes das modalidades<br>

Montagem - Paulo Wanderley, Alberto Murray, Rafael Westrupp e Emanuel Rego
imagem cameraPaulo Wanderley, Alberto Murray, Rafael Westrupp e Emanuel: peças no jogo do poder do COB (Foto: Divulgação)
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Rio de Janeiro (RJ)
Dia 10/08/2020
18:16
Atualizado em 12/08/2020
11:41

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Os bastidores do esporte olímpico brasileiro vivem grande expectativa pelo posicionamento da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil (COB) na construção do cenário eleitoral da entidade, que abriu na segunda-feira o processo de candidatura para presidente, vice, e representantes das confederações e membro independente do Conselho de Administração.

A eleição está marcada para o último trimestre de 2020, em data ainda não definida. Nas últimas semanas, as movimentações esquentaram, mas os rumos do processo dependem do candidato que ganhar a confiança dos esportistas.

O atual presidente, Paulo Wanderley, mantém uma base consistente de apoio de dirigentes, mas a Comissão de Atletas está empenhada há meses em fortalecer uma chapa de oposição, ainda em processo de montagem. Em reunião recente, o grupo decidiu que votará em bloco, unido, na proposta que for "melhor para o esporte", ainda que existam divergências. 

Ao todo, serão 49 votantes na eleição, sendo que cerca de um quarto (12) são do grupo de atletas ou ex-atletas. Até o ciclo anterior, eles tinham direito somente a um voto. Em 2018, a presença já foi maior no pleito que elegeu Marco La Porta como vice, mas isso ainda não ocorreu na escolha de um presidente. A partir de 2021, a participação será ampliada, pois eles representarão um terço dos votos da Assembleia, com 19 no total.

Além deles, a Assembleia Geral é composta pelos mandatários das 35 confederações olímpicas e pelos dois membros brasileiros do Comitê Olímpico Internacional (COI), Andrew Parsons e Bernard Rajzman. 

Ex-presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Wanderley acumula alguns desgastes na relação com a Comissão e não admitiu publicamente até o momento a intenção de se reeleger. O prazo para registro de candidaturas vai até o dia 8 de setembro, e especula-se que ele ainda pode renunciar, para que La Porta, um nome forte, represente a situação.

A gestão de Paulo teve como ponto alto a implementação de mecanismos mais modernos de gestão, como a própria criação dos Conselhos de Administração e Ética, bem como o aumento na participação dos atletas nas Assembleias. Por outro lado, sua tentativa de alterar às pressas o estatuto do COB em 2019, tirando poderes do Conselho de Ética em meio à denúncias de irregularidades em contratos de tecnologia, colocou em xeque o discurso de uma gestão transparente e participativa. Entre os atletas, existe um entendimento de que as camadas ainda precisam estar mais presentes.

Mas outro ponto que pode pesar a favor de Wanderley para sua reeleição foram suas medidas de auxílio às confederações para enfrentar a pandemia, que aconteceram oportunamente em ano eleitoral, como a derrubada de um teto de gastos administrativos para evitar cortes nas entidades.

Defensor de maior igualdade nos repasses entre as confederações "maiores" e "menores", o advogado Alberto Murray, neto do ex-presidente Sylvio de Magalhães Padilha e crítico ferrenho de Carlos Arthur Nuzman, de quem Wanderley foi vice antes de chegar ao poder, já confirmou sua candidatura e tem a simpatia de alguns atletas, como o ex-judoca Tiago Camilo, um dos líderes da Comissão. A chapa de Murray terá como vice Mauro Silva, presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe). 

- Minha campanha começou em fevereiro, com absoluta transparência. Nosso grupo elaborou uma Agenda Positiva que abarca todos os setores do esporte Olímpico e propõe mudanças significativas nos conceitos que presidem o COB, seu relacionamento com as Confederações, Atletas, Técnicos e a sociedade em geral. Propõe fazer o COB para o Brasil e voltar que ele seja a reserva moral do esporte. É a primeira vez na história que se faz um documento assim para que seja debatido democraticamente pela sociedade - afirmou Murray.

O presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), Rafael Westrupp, que se desvinculou do Conselho de Administração a tempo de concorrer, também articula sua chapa, ainda que não declare a intenção. Ele representa uma geração mais nova de dirigentes que se opõem a Wanderley.

Cada vez mais próximo de Westrupp está um nome respeitado por diversos atletas e ex-atletas: o campeão olímpico Emanuel, recentemente demitido da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento (SNEAR) do governo federal. Conforme revelado pelo blog "Olhar Olímpico", na sexta-feira, ele está disposto a ser presidente. Mas ainda calcula o passo mais inteligente a ser dado.

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- Para eu construir algo, preciso enxergar o cenário - disse Emanuel, ao LANCE!.

O paranaense integrou a Comissão de Atletas do COB entre 2013 e 2019, mas acabou se licenciando no ano passado, devido ao cargo na Secretaria Nacional de Alto Rendimento, por acreditar que haveria conflito de interesse entre as funções. Uma de suas tarefas era analisar relatórios da entidade olímpica sobre a liberação dos recursos da Lei Agnelo/Piva. Fora do governo, acredita que o momento é oportuno para liderar a gestão da entidade de alguma forma.

- Tenho vontade de ver o COB liderar o esporte novamente, em todas as áreas, pois é ele quem cadencia o movimento de todas as confederações. Vejo que construí um nome para chegar a esse momento e gostaria de participar de movimentos que sejam bons para o esporte em geral, para que mais apoiadores acreditem no projeto. Ainda não sei qual será minha contribuição, mas estou aberto ao diálogo e criando uma base sólida - completou o medalhista de ouro nos Jogos de Atenas-2004, ao lado de Ricardo.

Emanuel, que é apoiado pelo velejador Lars Grael, outra figura relevante no campo da gestão, sabe que não tem a garantia do votos da Comissão de Atletas e que enfrentaria dificuldades de concorrer sem suporte dos dirigentes de confederações, maioria no pleito.

Até o momento, o ex-atleta do vôlei de praia manteve conversas tanto com Murray quanto com Westrupp, com discurso em comum de lutar por avanços na entidade, mas não pretende adotar um tom combativo contra a gestão de Wanderley, como tem feito Alberto.

Em meio à articulação da oposição, a Comissão de Atletas terá papel decisivo, uma vez que garantirá 12 votos. Pessoas ouvidas pela reportagem acreditam que uma chapa forte de esportistas e cartolas é "a única forma" de vencer Wanderley. 

Na mesma eleição, a Assembleia Geral definirá ainda os sete representantes das confederações que tomarão assento no Conselho de Administração por quatro anos.

Qualquer brasileiro pode se candidatar aos cargos de presidente e vice do COB desde que, no momento da posse, tenha mais de 18 anos de idade; não tenha sofrido pena de exclusão pelo COI ou por quaisquer Federações Internacionais reconhecidas pelo COI; e não mantenha vínculo empregatício com entidade de administração ou de prática desportiva, exceto os representantes dos atletas com contrato especial de trabalho desportivo.

Não são elegíveis também pessoas que não puderem concorrer a cargos públicos; estiverem afastadas por gestão temerária ou fraudulenta no esporte; inadimplentes na prestação de contas de recursos públicos em decisão administrativa definitiva; inadimplentes na prestação de contas do COB, por decisão deste ou judicial definitiva; inadimplentes das contribuições previdenciárias e trabalhistas inscritos em dívida ativa; e administradores, sócios gerentes ou dirigentes de empresas que tenham tido sua falência decretada.

Para inscrever uma chapa formada por candidatos ao cargo de presidente e vice-presidente do COB, é preciso preencher as declarações de apoios de três membros da Assembleia Geral, de cumprimento dos requisitos de elegibilidade; e de Cláusula Compromissória; além de um currículo dos candidatos.

- Estamos realizando um processo transparente, com ampla divulgação e dando total liberdade para que os interessados em participar da gestão do esporte olímpico do Brasil se sintam convidados a fazer parte do processo eleitoral, sempre respeitando o Estatuto e as regras vigentes. Não temos dúvidas de que o processo democrático instaurado no COB nos últimos anos sairá mais forte deste processo que fecha um ciclo em que a governança corporativa do COB foi aprimorada e hoje é referência no Brasil e no mundo - disse o diretor Geral do COB e campeão olímpico de judô, Rogério Sampaio.

A Comissão de Atletas atual tem mandato até 31 de dezembro de 2020. A eleição para o próximo ciclo está programada para ocorrer entre os dias 24 e 28 de agosto.

No último pleito, os vencedores foram Arthur Zanetti (ginástica artística), Baby Futuro (rugby), Brunno Mendonça (hóquei sobre grama), Duda Amorim (handebol), Emanuel (vôlei de praia), Emerson Duarte (tiro esportivo), Fabiana Murer (atletismo), Fabiano Peçanha (atletismo), Hugo Hoyama (tênis de mesa), Iziane Marques (basquete), Marcelinho Machado (basquete), Poliana Okimoto (maratonas aquáticas), Tiago Camilo (judô), Thiago Pereira (natação), e Yane Marques (pentatlo moderno). O COB selecionou ainda outras quatro integrantes: Fabi Alvim (vôlei), Hortência Marcari (basquete), Isabel Clark (snowboard) e Isabel Swan (vela).

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