Cifras bilionárias! Entenda o impacto do adiamento dos Jogos de Tóquio
COI e Comitê Organizador terão de renegociar seus contratos em meio aos prejuízos do coronavírus para a economia. Despesas extras e prováveis ações judiciais estão no radar
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Alguns dos principais patrocinadores do Comitê Olímpico Internacional (COI) começaram a sinalizar a intenção de manter o apoio aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio-2020, após o adiamento para 2021, ainda sem uma data certa. A notícia é um alívio para os organizadores, que torcem para não terem de devolver os milhões já arrecadados, mas está longe de dar tranquilidade a um projeto que sofrerá salto inevitável em suas despesas.
Ainda que os números não sejam precisos, a postergação das competições devido à pandemia do novo coronavírus pode demandar um gasto adicional de US$ 2,7 bilhões (cerca de R$ 13,5 bilhões), segundo o jornal japonês especializado em economia "Nikkei". Isso em um momento de grave crise econômica mundial, intensificada pela disseminação da doença.
- Não é possível avaliar com precisão os números, por não se sabermos os termos dos acordos firmados entre COI e Comitê Organizador com seus respectivos patrocinadores, quais contratos serão rompidos e quais serão mantidos, qual o percentual do público que solicitará eventual reembolso dos ingressos, se ele for efetivamente autorizado, e deixarão de trazer receitas para o turismo. Mas podemos afirmar que essa edição dos Jogos indubitavelmente será prejudicada, mesmo que se obtenha a apólice do seguro contratado, e que seja necessário um esforço conjunto entre organizadores, federações e o país sede para amenizá-las - acredita o advogado Josiel Vaciski Barbosa, sócio fundador da Suttile & Vaciski Advogados Associados.
A conta dos Jogos já não era modesta antes do imprevisto. Embora os números oficiais, divulgados em dezembro, falem em US$ 12,6 bilhões (cerca de R$ 63 bilhões), uma auditoria do governo japonês estima que o gasto final chegue a US$ 26 bilhões (cerca de R$ 130 bilhões). Já se trata da edição mais cara da história. Os Jogos do Rio, por exemplo, custaram oficialmente R$ 39,07 bilhões.
Paralelamente às ações do Japão, como construção e reformas de arenas, o COI tem suas metas de arrecadação com a visibilidade dos Jogos, e um grupo de empresas assume um papel de destaque. Dentre todos os apoiadores, 14 marcas são classificadas como "patrocinadores olímpicos de primeira linha", que assinaram contratos que totalizam cifras superiores a US$ 4 bilhões (cerca de R$ 20 milhões). Já o Comitê Organizador Tóquio-2020 firmou cerca de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões) em acordos para suas operações.
Segundo a agência "Reuters", Procter&Gamble, Intel, Airbnb, Coca-Cola e Samgung não deverão cobrar a devolução dos valores desembolsados ao COI. Um porta-voz da Coca-Cola, mais antigo apoiador do evento, afirmou que a marca está disposta a trabalhar ao lado da entidade e do Comitê Organizador para criar um evento seguro e bem-sucedido. A Samsung afirmou que manterá o "estreito contato com os entes para garantir uma Olimpíada "segura e memorável". A Bridgestone não declarou manutenção do auxílio, mas falou que "buscará soluções criativas" diante do adiamento, sem informar quais. É provável que as entidades tenham de negociar diversas compensações.
Os patrocínios, no entanto, não constituem a maior fatia das receitas dos Jogos Olímpicos. No último ciclo (2013 a 2016), cerca de 73% do montante obtido pelo COI vieram de contratos de direitos de transmissão, enquanto cerca de 17% saíram de patrocínios. O faturamento no período foi de US$ 5,7 bilhões.
Diante do adiamento, será preciso enfrentar impasses, como a questão das grades de redes televisivas, que podem colidir com a programação de outras competições esportivas previamente agendadas, os calendários das federações internacionais e a reserva das instalações esportivas e Vilas Olímpicas, que custam caro e precisarão ficar fechadas durante meses.
A comercialização dos 7,8 milhões de ingressos disponíveis, dos quais 5 milhões já foram vendidos, também preocupa os organizadores. As vendas começaram em junho do ano passado no mercado interno, e seguiriam a partir de maio.
- Estima-se que mais de US$ 800 milhões (cerca de R$ 4 bilhões) foram arrecadados com a venda de ingressos e, caso o Comitê Organizador confirme a possibilidade de reembolso pelo adiamento, o rombo pode ser significativo - acredita Clarissa Massaneiro Viana, também advogada do escritório Suttile & Vaciski Advogados Associados.
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Adiar era solução menos onerosa
Ainda que não possa precisar até quando o coronavírus afetará a população mundial, o COI e o Comitê Tóquio-2020 sabem que a escolha pelo adiamento para o ano que vem era a menos onerosa. O conservadorismo dos dirigentes ficou de lado, afinal, segundo a Carta Olímpica, os Jogos deveriam, por tradição, ocorrer de quatro em quatro anos.
- Se fossem cancelados, os contratos já assinados seriam rescindidos, mesmo que por caso fortuito, ou força maior, levando um prejuízo maior ao COI e às empresas parceiras, inclusive tendo que devolver o valor integral dos ingressos aos consumidores. Já o adiamento, que também acarretará prejuízos, tem a facilidade de poder renegociar o contrato, pois haverá a prestação, porém em outra época - explicou Rodrigo das Neves Pereira, advogado do Escritório Cortes e Silva Advogados.
Desde Atenas-2004, o COI firma contratos com empresas seguradoras para cobrir perdas em determinadas situações relativas aos contratos de direitos de televisão, patrocinadores e venda de ingressos, o que amenizará os danos.
- Certamente um cancelamento ocasionaria em um derrame de ações judiciais pelo mundo, movidas tanto pelos patrocinadores, atletas, seguradoras e pelo público em geral. O adiamento foi, sem dúvidas, a melhor solução, por aproveitar as obras bilionárias feitas para os Jogos, atrair turistas, mesmo que talvez em número inferior ao previsto, e manter os contratos do COI e do Comitê Organizador com patrocinadores e com as emissoras de TV detentoras dos direitos de transmissão - avaliou Clarissa.
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