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‘COB está atrasado em pesquisa’, diz ex-gestor do projeto do Laboratório

Sidney Cavalcante vê a falta de recursos humanos como grande barreira para país justificar o investimento de R$ 13 milhões do governo

Questionário LO - LANCE!
imagem cameraSidney Cavalcante atua no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Foto: Arquivo Pessoal)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 17/12/2019
19:17
Atualizado em 18/12/2019
06:21

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Doutor em atividade física e performance humana, e ex-gestor do projeto do Laboratório Olímpico, Sidney Cavalcante acredita que o Comitê Olímpico do Brasil (COB) está atrasado em produção científica, contrapartida para o financiamento de R$ 13 milhões do governo federal, conforme o LANCE! revelou em uma série de matérias.

O professor trabalhou na entidade por sete anos e teve como missões estruturar o Laboratório, comprar equipamentos e atuar naquilo que deu origem ao investimento: a criação de um modelo integrado de dados, que ajudasse a elevar a performance dos atletas.

Desligado em dezembro de 2017 por contenção de despesas, Sidney acredita que, três anos após o início da operação, o não cumprimento da promessa de geração de resultados inovadores não se justifica. E atribui a escassez de recursos humanos focados em ciência como o grande problema.

Qual era a concepção original do Laboratório? Você considera o projeto importante para o esporte brasileiro?
Quando falamos do Laboratório Olímpico, precisamos olhar para o que deu origem à sua existência. O projeto tinha na essência uma visão global dos atletas, em função das várias áreas de atuação. Você pode me questionar: “Mas isso é o que o mundo inteiro faz”. Sim! Mas o tradicional é submeter os atletas a várias baterias de testes e gerar dados, devolvendo-os de forma fragmentada, por área de atuação. A ideia que originou o Laboratório Olímpico era entender as necessidades do atleta e devolver as informações de maneira integrada.

Como isso deveria acontecer?
Os atletas seriam submetidos a avaliações em diversas áreas, que conversariam entre si, e a informação voltaria para ele de forma unificada. Em vez de receber, por exemplo, um relatório da fisiologia, um da nutrição e um da bioquímica, ele receberia um contemplando as informações geradas em todas as áreas, a partir das análises feitas, condensadas em uma visão geral. Isso é uma grande inovação: fazer especialistas de várias áreas buscarem a influência de seus dados na área do outro. Imagina a riqueza disso quando operacionalizado na forma de treino, recuperação e na busca pela excelência visando uma medalha olímpica, uma vez que a alta performance está inversamente relacionada ao risco a lesões. O que todos almejam é a sistematização integrada com foco na melhora do resultado, tornando o atleta menos suscetível ao risco de lesão. Com isso, não há como não gerar algo diferente e inovador. Foi isso que a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) enxergou no projeto do COB.

Mas, na prática, o COB ainda não produziu resultados científicos. No planejamento, havia essa expectativa?
O que não podemos esquecer é que uma verba de pesquisa foi o que deu origem ao Laboratório. Então, ele precisa gerar ciência, não somente oferecendo suporte aos atletas, mas também produzindo informação que possa ser compartilhada com a comunidade científica. Acredito que eles estão atrasados. A partir do momento que o Laboratório abriu suas portas, deixando de ser projeto, ele já deveria ter começado a pensar como atenderia a demanda dos atletas e produziria ciência com os recursos humanos disponíveis. Isso já sinalizaria onde estavam os gargalos. Essa era uma preocupação que eu tinha, pois sabia que os recursos humanos seriam escassos, frente ao desafio esperado.

Não havia um plano de produção científica enquanto você estava à frente da coordenação? Por quê?
Eu não tinha um plano montado, porque até o fim de 2016 a preocupação era cumprir todas as demandas que o projeto exigia e realizar a entrega do relatório final a Finep. Logo, isso fazia parte do ano de 2017, caso eu continuasse o trabalho como coordenador do Laboratório. Mas, a partir de 2017, passei a coordenar a área de fisiologia do exercício em decorrência da finalização do projeto.
N.R: Em 2017, a diretoria do COB nomeou Jacqueline Godoy como gerente do Laboratório

Acha plausível que, após três anos de implantação o COB, ele não tenha gerado produtos?
Eu te digo sim e não. Se você, ciente das dificuldades que te esperam frente à grandiosidade da estrutura, pensa um plano para atender às demandas dos atletas e produzir ciência, levando em conta tudo que já pontuei, era para o Laboratório estar submetendo suas primeiras produções neste ano. Fazer ciência dá trabalho. Se você não tem recursos humanos dedicados exclusivamente a isso, precisa ter um plano muito bem elaborado que permita que sua equipe tenha claras as entregas que devem ser feitas e que possibilitem projetar o tempo hábil para que isso aconteça. Se isso não foi feito, é óbvio que, após três anos, não tenha conseguido trabalhar os dados e gerar suas primeiras produções.

Acredita que os problemas do Laboratório foram de planejamento e implantação ou de condução pós-implantação?
Não podem ser de implantação. As contas e o relatório final foram aceitos pela Finep, o que mostra que a implantação foi bem-sucedida, sem pendências. Eu sempre tive em mente que o Laboratório se dividia em três momentos: O projeto de implantação, a operacionalização e a produção científica. No primeiro momento, parece fácil de conduzir, se não fosse ele formado originalmente por dez áreas de conhecimento, alocadas em aproximadamente 1.200m², ao custo total, entre os valores da Finep e o investimento COB, de mais de R$15 milhões, carregando no seu DNA a certeza de ser o maior laboratório esportivo montado no país até hoje. Sem medo de errar, posso dizer que deve ser o maior da América Latina e provavelmente um dos maiores do mundo. Creio que o COB foi surpreendido depois que o Laboratório ficou pronto e talvez ainda não tenha conseguido fazer todos os ajustes para o melhor andamento.

A proposta de laudo integrado das áreas também não ocorre como aprovado no projeto contemplado com os recursos e um sistema de armazenamento com a "inteligência artificial” também foi suprimido. Poderia contar como surgiu a ideia deste e se ele foi planejado durante sua gestão? Por que ele não foi utilizado? 
O SAHA (Sistema para Acompanhamento Holístico de Atletas) faz parte do projeto desde o início e foi ideia do prof. Luiz Viveiros. Quando assumi a gestão do projeto, a única área que existia nele era a bioquímica. Foi pensado para ser um grande repositório dos dados gerados no Laboratório. Num processo evolutivo, com a utilização, a ideia era auxiliar no fornecimento de informação e, em uma perspectiva bem mais avançada, auxiliar os pesquisadores no desenvolvimento das pesquisas. O que eu fiz foi estender a plataforma para as outras áreas, viabilizando a entrada dos dados que os coordenadores tinham como importantes. Quando o relatório foi entregue à Finep, essa parte já estava pronta e, a partir de 2017, a ideia era colocar em uso, verificar os gargalos que iriam aparecer, o que só é possível quando colocamos para uso no dia a dia, e ir aperfeiçoando. Tudo isso foi feito com outra instituição parceira do projeto o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) dentro da área de modelagem computacional que existia no Laboratório, coordenada pelo prof. Fabio Porto.

O LANCE! divulgou a subutilização de alguns equipamentos do Laboratório, como os espectrômetros de massas na bioquímica. Em que medida está sendo cumprindo o que foi prometido no projeto?
Eu saí do COB no final de 2017. Desde janeiro daquele ano, eu não exercia função administrativa no Laboratório Olímpico, atuando apenas como coordenador na área de fisiologia do exercício e lá tudo estava funcional. Não posso falar sobre todo o Laboratório, mas, em relação ao departamento de fisiologia do exercício, trabalhar apenas você e mais duas pessoas para dar conta de todos os suportes aos atletas e ter foco em gerar pesquisa de forma simultânea era impossível. Mas era uma preocupação que tinha para 2018. Precisávamos pleitear ajustes, na agenda do ano seguinte, que viabilizasse tempo dedicado exclusivamente à pesquisa.

Em adição aos R$ 13 milhões, financiados pela Finep, houve contrapartida de gastos por parte do COB? Quanto? Para quais finalidades?
No projeto, existia uma contrapartida, que foi comprovada com os gastos que o COB tinha no Parque Aquático Maria Lenk. Além disso, o COB investiu em algumas modificações que foram realizadas antes do início das obras do Laboratório e custeava todos os gastos com os profissionais que trabalharam na implantação, fora os funcionários da casa envolvidos.

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