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Coluna do Bichara: uma apendicite, um menino e uma Ferrari

Guerra declarada no Circo da Fórmula 1, enquanto Verstappen passeia na pista

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imagem cameraVerstappen, na 56ª vitória (Foto: Oracle Red Bull Racing)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 12/03/2024
14:59
Atualizado em 12/03/2024
21:46

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Ver as vitórias consecutivas de Max Verstappen é um pouco como o Bolero de Ravel: bonito, mas cansa. Na F1 atual só há verdadeiramente um desafio importante: à nossa paciência. A perene e longeva hegemonia de um único piloto está tornando a categoria tão chata, que resta nos apegarmos a pequenas distrações: semana passada foi uma fofoca (que ainda rende). Nesse final de semana, uma apendicite – que motivou a fulgurante estreia de um menino guiando uma Ferrari.

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A F1 chegou aos domínios do Crown Prince Mohammed bin Salman (aka “MBS”) sob a certeza do tedioso absolutismo de Max Verstappen, mas com o "Hornergate" pegando fogo. Aparentemente, Cristian Horner conseguiu se articular politicamente – apesar de toda confusão relatada na semana passada – e, aos trancos e barrancos, se manter à frente do time dos touros vermelhos. A novidade é que Helmut Marko foi implicado na confusão, sendo, aparentemente, o responsável pelo vazamento das provas contra Horner. E por isso o todo-poderoso Marko está, ele próprio, sendo alvo de outra investigação, e corre o risco de ser suspenso.

Em paralelo, Max Verstappen declarou publicamente seu apoio a Marko, meio que dando a entender que se ele sair, vai junto. Já Toto Wolf, que ronda a Red Bull com seu jeitão de galã de quermesse e o agudo faro das oportunidades, vem cortejando Marko publicamente, e ofereceu a ele o papel que era de Niki Lauda na Mercedes. Mas todos sabem que Marko é apenas um arquiteto subsidiário do sucesso da equipe austríaca. O que Toto sonha, é claro, é atrair Verstappen e – talvez até principalmente – Adrian Newey. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos e ver quem tem mais garrafas vazias para vender. A guerra interna na Red Bull está declarada e não dá sinais de arrefecimento.

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Mas a investigação na Red Bull não é a única em andamento. Como disse um amigo da coluna, a F1 está parecendo a Lava Jato. O presidente da FIA, o outro MBS - Mohammed Ben Sulayem - também está sendo alvo de uma apuração, por supostamente ter intercedido a favor de Fernando Alonso, e pressionado comissários a evitar uma punição de 10 segundos para o espanhol, em Jeddah, no ano passado. O circo está pegando fogo – com trocadilho.

Ainda na linha das novidades off track, outra notícia que sacudiu a F1 foi o ingresso de uma medida judicial por Felipe Massa, insistindo na tese de que o título de 2008 lhe pertence. Uma vez que no âmbito da FIA o assunto terminou em pizza, Massa resolveu subir o tom e debater o tema judicialmente numa Corte Londrina. Será interessante seguir o rumo dessa ação. A tese de Massa parece muito interessante. Provado o roubo, e provada a ciência dos chefões da F1 sobre ele, como não anular aquele fatídico GP de Singapura? Lewis Hamilton já declarou que é contra revolver o tema. É claro…esperar o contrário seria como esperar que o peru saísse em defesa do Natal.

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Dentro da pista, o final de semana começou sacudido pela notícia de que Carlos Sainz, faria uma cirurgia emergencial de apendicite, e que a Ferrari escalaria o inglês Oliver Bearman, de 18 anos, para o seu lugar. O jovem mancebo, que havia cravado a pole para a F2, foi acordado no sábado com a informação de que deveria se apresentar à equipe imediatamente para ocupar o lugar de Sainz. E a surpresa deve ter sido ainda maior, porque Bearman é o 3º piloto reserva da Ferrari – no fim da fila que se imaginava ser liderada pelo experiente Antonio Giovinazzi e por Robert Shwartzman. Assim, o inglês se tornou o 1º piloto de F1 a fazer sua estreia numa Ferrari, desde Arturo Mezzario, 52 anos atrás.

No treino de sábado nessa desafiadora pista – a que tem mais curvas no circuito, 27 – Verstappen confirmou seu favoritismo cravando a pole, e Charles Leclerc – sempre bem nos treinos – a 2ª posição. Todos os olhos se voltavam, no entanto, para a outra Ferrari. E Bearman não fez feio, ficando na 11ª posição, quase beliscando um Q3.

No domingo Verstappen largou tranquilo segurando a ponta, enquanto Leclerc conseguiu se defender de Sergio Perez apenas até a 4a volta, quando a superioridade da Red Bull se impôs numa das 3 zonas de DRS da pista de Jeddah. Logo depois, na volta 6, Lance Stroll fez das suas e tocou com a roda no muro, quebrando a suspensão do carro e batendo de frente. Foi uma batida exatamente idêntica à que ele deu no treino, revelando que o jovem tem alguma dificuldade na sutil arte de aprender.

O safety car foi disparado e quase todo mundo parou nos boxes. Lando Norris e Lewis Hamilton ficaram na pista, assumindo a liderança da prova, e fazendo uma aposta alta – que não pagou dividendos – na entrada de outro safety car. Foi só uma questão de tempo para que ambos fossem alcançados, na volta 13, por Verstappen e logo em seguida pelo resto do pelotão.

O Holandês seguiu então com a tranquilidade de sempre para a vitória, cravando sucessivas voltas mais rápidas, e abrindo grande distância. O de sempre. O pódio – o 100º de Verstappen - foi semelhante ao do GP anterior, com as duas Red Bull e uma Ferrari – mas dessa vez a de Leclerc. Oscar Piastri fez uma bela corrida, cravando um 4º lugar, mas a grande atração do dia foi mesmo o intimorato Bearman, que fez uma consistente prova, chegando em 7º lugar. Imaginem a emoção do rapaz: ao sair do carro, quem estava lá para abraçá-lo? Sir Lewis Hamilton, o maior campeão de F1 de todos os tempos. O multicampeão, que tem mais que o dobro da idade de Bearman, foi o 1º a cumprimentar seu conterrâneo, lembrando ao mundo que é um cavalheiro de fina estampa.

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Bearman deu um show, e apresentou com galhardia seu cartão de visitas, aceitando com desenvoltura o seu destino. Como disse Jorge Luis Borges: "qualquer destino, por mais longo e complicado que seja, consiste em um único instante: o momento em que o homem sabe para sempre quem é".

Last but not least, comemoremos a impecável Vitória de Enzo Fittipaldi na F2, com direito à ultrapassagem dupla no final da prova. Vamos torcer para que em breve mais um membro dessa dinastia brasileira chegue à F1.

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