‘COVID-19 é teste para quando precisarmos agir sobre as mudanças climáticas’, diz chefe da Fórmula E
Espanhol Alejandro Agag, fundador e presidente da Fórmula E, diz ao LANCE! que o surto do novo coronavírus e a suspensão global do esporte são um aviso para o futuro do planeta <br>
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Dia 22 de abril. Desde 2009, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece a data como o Dia da Terra, com o objetivo de propor uma reflexão sobre os problemas da contaminação, da conservação da biodiversidade e de outras preocupações ambientais à humanidade. Em momento crítico da história, devido à pandemia do novo coronavírus, o LANCE! propõe o debate sobre a relação da indústria do esporte com o planeta, abrindo espaço para o espanhol Alejandro Agag, fundador e presidente da Fórmula E, categoria de carros elétricos do automobilismo que conta com os pilotos brasileiros Felipe Massa e Lucas Di Grassi. Confira.
No sábado, 18 de abril, as ruas de Paris deveriam estar lotadas.
Esperava-se que milhares de fãs lotassem as arquibancadas da Cidade Luz para curtir a corrida da Fórmula E na França e torcer por pilotos como Felipe Massa, para ultrapassarem os limites da tecnologia da mobilidade elétrica.
Infelizmente, essas ruas agora estão vazias.
A emergência de saúde global causada pelo surto de COVID-19 tem sido uma situação muito inquietante para todos nós. Nos países em que estou muito próximo - como Espanha, Itália e Reino Unido - essa pandemia está assumindo proporções dramáticas. A saúde, a economia e o modo de vida de nossa comunidade estão ameaçadas, com trágicas consequências que governos, empresas e cidadãos enfrentam com coragem. Todo o nosso apoio vai para eles, e especialmente para os profissionais de saúde que estão na linha de frente.
Como parte das medidas de saúde pública, o esporte, assim como todas as formas de entretenimento público, foram algumas das primeiras atividades a serem completamente encerradas. O adiamento das Olimpíadas de Tóquio para o próximo ano, uma ação que não acontece em tempos de paz desde o ano 369 d.C, foi a decisão mais marcante que a comunidade esportiva global teve que tomar.
Um bloqueio total do governo, como os que estamos observando em quase todo o mundo, é certamente uma medida de último recurso destinada a lidar com um perigo de muito curto prazo, como uma pandemia. No entanto, temos o dever de olhar além dessa crise e tentar entender como e quando esses cenários podem ocorrer a médio e longo prazo.
Como publiquei recentemente no Instagram, o COVID-19 atuou como um teste para quando precisarmos agir no combater às mudanças climáticas. Essa hora é agora.
Por que o clima é relevante para esta crise? Existem dois fatos conectados a serem observados.
Primeiro, o maior risco de nosso tempo para a saúde humana é a poluição do ar, o que também nos torna menos resistentes aos sintomas de infecções respiratórias, como as causadas pelo COVID-19. Em muitas partes do mundo, assim como o COVID-19, a poluição do ar já está afetando a vida cotidiana e impedindo as pessoas de deixar suas casas.
Em segundo lugar, os cientistas alertam que um aumento descontrolado das emissões de gases do efeito estufa levará a episódios climáticos cada vez mais extremos. Se deixarmos de agir, os desastres naturais podem tornar os bloqueios públicos uma ocorrência mais frequente para todos nós, levando ao fim da vida normal como a conhecemos, incluindo o esporte.
Como a resposta humana resiliente à crise do COVID-19 mostrou, não é tarde demais para fazermos a diferença. A dramática redução da poluição na China - e em todas as nossas cidades europeias - da suspensão de viagens e fechamento temporário de fábricas mostra que não é tarde demais para mudarmos de rumo coletivamente.
Assim como engenheiros e cientistas talentosos estão encontrando soluções inovadoras para ajudar na luta contra o COVID-19, a tecnologia também desempenhará um papel importante na criação de um futuro mais limpo e mais rápido. A evolução tecnológica será essencial para compatibilizar a luta contra as mudanças climáticas com o crescimento econômico sustentável e equilibrado.
Governos e empresas estão respondendo a essas questões, introduzindo medidas específicas e buscando soluções tecnológicas para reduzir o impacto ambiental, graças a uma opinião pública atenta que está se envolvendo cada vez mais ativamente na conscientização sobre o assunto.
Reduzir as emissões globais por meio da mobilidade elétrica é um exemplo do que a pesquisa tecnológica pode fazer pelo meio ambiente, e é com essa premissa que a ideia do campeonato ABB FIA de Fórmula E foi criada em 2011. Mostrar como a eletricidade é uma alternativa sustentável aos motores de combustão.
Desde então, em conjunto com nossos parceiros, realizamos pesquisas constantes, produzindo importantes avanços tecnológicos, como baterias expandidas de 52 kW / h, introduzidas na última temporada.
Isso não é tudo. A sustentabilidade é o nosso foco quando se trata de organizar corridas. Não é por acaso que acabamos de renovar nossa certificação ISO 20121, o padrão internacional de eventos sustentáveis. Queremos levar nossa mensagem para as gerações e instituições mais jovens, com nossos motoristas atuando como nossos embaixadores. Campeão de uma das temporadas, Lucas di Grassi, não é apenas um piloto da equipe Audi Sport ABT Schaeffler, mas também um defensor do ar limpo nas Nações Unidas.
É com a mesma visão sobre questões ambientais que também tenho orgulho de ter lançado a série Extreme E racing, a versão off-road da Fórmula E, que terá SUVs 100% elétricos em lugares remotos do planeta e que também correm risco do ponto de vista climático. Oferecer mobilidade sustentável como uma das soluções possíveis, além de usar nossos recursos para implementar iniciativas com legados positivos dependendo das necessidades locais.
A série começará em 2021 e representará um novo conceito no rally off-road, com corridas que ocorrerão em áreas já danificadas pelas mudanças climáticas, como geleiras na Groenlândia e florestas tropicais na Amazônia.
Os desafios que todos estamos enfrentando agora podem muito bem ser replicados nos próximos anos como resultado das mudanças climáticas. Não apenas nos lugares remotos onde serão as corridas do Extreme E, mas nas cidades onde moramos, trabalhamos e brincamos todos os dias.
Embora a COVID-19 esteja fresca em nossas mentes, devemos fazer todos os esforços possíveis para garantir que isso não ocorra novamente. Hoje é o Dia da Terra, mas deveria ser todos os dias do calendário. O trabalho deve começar agora.
A ABB Formula E Race at Home Challenge será disputada no próximo sábado (25), dando início a competição realizada no simulador rFactor 2 e em parceria com a UNICEF. A pontuação seguirá a mesma da competição oficial, premiando os dez primeiros colocados, além de um ponto extra para o piloto que conquistar a Julius Baer Pole Position e também cravar a volta mais rápida da prova. A prova será as 11h30 (horário de Brasília) e terá transmissão da Fox Sports.
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