Habituada a reerguer Rafaela Silva, coach trabalha nova volta por cima
Considerada peça-chave na conquista do ouro na Rio-2016, Nell Salgado afirma que atleta está vencendo a cada dia processo doloroso de doping e acredita em final feliz em Tóquio
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Do céu ao inferno em 2019, Rafaela Silva se reconstrói longe dos holofotes, enquanto aguarda julgamento do caso de doping na Corte Arbitral do Esporte (CAS), na expectativa de redução de sua pena para competir nos Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para 2021. Ao seu lado, a coach Nell Salgado, a quem a judoca atribuiu grande parte do sucesso da conquista do ouro na Rio-2016, trabalha para, mais uma vez, reerguer a atleta de um golpe traumático.
- Estamos vencendo. Um dia (ela) está melhor, o outro pior, mas estamos lutando. Ela nasceu para isso, é uma lutadora, passou uma vida inteira rasgando, quebrando tudo, e sempre venceu. Dessa vez, não vai ser diferente - afirmou Nell, em entrevista ao "De casa com o LANCE!".
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A profissional é considerada por Rafaela uma das responsáveis por reerguê-la. A judoca sofreu ataques racistas pela internet após sua eliminação nas oitavas de final da Olimpíada de Londres, em 2012, quando acabou punida ao aplicar um golpe ilegal na húngara Hedvig Karakas. Após o episódio, chegou a cogitar largar os tatames.
Ao conhecer Nell, que era voluntária no Instituto Reação, no Rio de Janeiro, a carioca voltou a estabelecer objetivos claros, e não largou mais um trabalho constante de amadurecimento emocional aliado aos treinos técnicos e físicos.
A judoca e a coach apostam nisso para virar mais uma página. A atleta recebeu dois anos de suspensão da Federação Internacional de Judô (IJF), em janeiro deste ano, após ter sido flagrada com a substância fenoterol, durante os Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019. Enquanto aguardava o julgamento, se colocou em suspensão voluntária no dia 25 de outubro.
Ao ser comunicada da decisão, contratou o advogado Marcelo Franklin para tentar reduzir a pena a tempo da nova data dos Jogos. Se o gancho cair para 16 meses (em caso de culpa moderada) ou até oito meses (sem culpa, mas penalizada por negligência), Rafaela poderá lutar pelo bicampeonato na categoria até 57kg.
- Um processo como esse é muito doloroso. Eu nunca tinha tido a experiência de ter um atleta envolvido com doping. Ela é uma atleta extremamente séria, dedicada e decidida. Uma pessoa de grande caráter, independentemente da vida de atleta. É um dia de cada vez. É o que temos conversado. No que se sustenta uma parceria como a nossa, em que se trabalha performance, é entender isso. O que você pode fazer hoje por você e seu sonho. Há coisas que não controlamos, e perdemos muito tempo focados no problema. Tem todo um processo que ela precisa respeitar, que depende de outras pessoas, datas, órgãos, CNPJs, então ela tem de focar no que ela pode fazer, para não sofrer pelo que ela não sabe - falou Nell, que trabalha com outros atletas olímpicos da elite, como Pepê Gonçalves (canoagem slalom), Ingrid Oliveira (saltos ornamentais), Eleudis Valentim, Maria Portela e Nathália Brigida (judô), além de jogadores do futebol, cujos nomes ela não revela.
Rafaela começou o ano de 2019 batendo na trave, mas emplacou grandes resultados a partir de maio, com os títulos do Grand Slam de Baku e do Grand Prix de Budapeste. Depois, veio o ouro em Lima e os dois bronzes no Mundial do Japão, no individual e por equipes. Naquela ocasião, ela testou negativo para qualquer substância proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada).
Nell lembrou que, após a conquista no Rio, a missão de recolocar a judoca no caminho das medalhas não foi fácil. Rafaela havia se tornado celebridade, e era preciso buscar novas inspirações. Até o Rio, a atleta "incorporou" o personagem Zé Pequeno, do filme “Cidade de Deus”, onde ela nasceu e cresceu Para Tóquio, a meta, contra todas as adversidades, é ser a melhor de todos os tempos.
- Ela se preparou uma vida inteira para ser campeã olímpica, e quando você alcança o objetivo há um esvaziamento natural. Não só nela, mas até em mim houve isso. Nas primeiras semanas, ela ia para minha casa e ficávamos morgadas, assistindo televisão. E o que vai fazer você continuar trabalhando, indo em frente? Tivemos de buscar a resposta. Ela queria fazer história, ser uma das melhores de todos os tempos. Então vamos buscar isso. Até então, a Rafa não tinha um Grand Slam. Mas conquistou no ano passado - lembra Nell.
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