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‘É hora de parar de fazer política e trabalhar’, diz presidente da CBDA

Ainda não reconhecido pela Federação Internacional de Natação, Miguel Cagnoni mostra confiança por manutenção no cargo após exigência de novas eleições. Pleito será dia 20<br>

Miguel Cagnoni
imagem cameraAinda sem ser reconhecido pela Fina, Miguel Cagnoni terá de disputar nova eleição (Foto: Satiro Sodré/CBDA)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 08/12/2017
02:23
Atualizado em 08/12/2017
08:10

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Eleito em junho deste ano para presidir a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Miguel Cagnoni diz que ainda não conseguiu a tranquilidade que gostaria para comandar a entidade.

Sem ser reconhecido pela Federação Internacional de Natação (Fina), uma vez que o pleito desrespeitou o estatuto então em vigor, ao permitir votos de clubes e atletas em meio a uma intervenção judicial, o paulista foi obrigado a organizar nova votação, prevista para 20 de dezembro.

Aos 72 anos, Cagnoni luta para justificar despesas antigas da CBDA mal explicadas e desbloquear contas devido a irregularidades da gestão de Coaracy Nunes, que ficou no poder durante 29 anos. Ele diz que há interferência do grupo político do ex-presidente no processo eleitoral. Mas nega haver ressentimento com a Fina e mostra confiança em sua permanência no cargo.

Até a semana passada, o dirigente afirmava que não faria outra eleição. Diante da possibilidade de uma suspensão, mudou o discurso.  

– Está na hora de parar de fazer política e voltar a trabalhar intensamente durante 100% do tempo – afirmou o dirigente, ao LANCE!.

As chapas têm até esta sexta-feira para se registrar na eleição da CBDA, que acontecerá no dia 20 deste mês. O mandato vai até 2021.

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LANCE!: Até que ponto a convocação de novas eleições na CBDA afeta o seu trabalho na entidade?
Miguel: Atrapalha, pois é preciso terminar o processo eleitoral. Faz quase um ano que estamos nisso. Temos de dedicar o tempo ao trabalho. Nosso compromisso é com o esporte. Queremos fazer com que tenhamos competições melhores e precisamos cuidar da parte esportiva. A atividade política interfere nisso e em uma série de coisas. Está na hora de parar de fazer política e voltar a trabalhar intensamente 100% do tempo.

L!: Como avalia o seu período na CBDA em termos financeiros?
M: Assumi a presidência com enormes dificuldades. Estamos conseguindo fazer todas as prestações de contas, nem todas da nossa gestão, mas de 2016 e 2015. Estamos atendendo às exigências do COB, que às vezes são difíceis de atender por causa do tempo. Comprovar embarque de atleta em 2015 é algo complicado. Mas temos contato com as companhias aéreas. Esses problemas estão sendo sanados. Uma vez feito isso, liberamos mais recursos. É um trabalho intenso nesse sentido. Conseguimos levar. Quando entrei e vi a situação com clareza, não imaginava que conseguiríamos passar de outubro. Já estamos em dezembro. Se Deus quiser, vamos virar o ano.

"Quando entrei e vi a situação financeira com clareza, não imaginava que conseguiríamos passar de outubro. Já estamos em dezembro. Se Deus quiser, viramos o ano"

L!: Ainda existem contas bloqueadas? Quantas?
M: Tem bastante. De cabeça, não sei o número. Nós conseguimos desbloquear mais de 50 contas bancárias, pelas quais recebemos verbas da Lei Agnelo/Piva, que vêm do COB, e de Leis de Incentivo, pelo Ministério do Esporte. É uma situação que está andando.

L!: Você acredita que ainda há uma imagem da gestão anterior neste novo processo eleitoral?
M: Certamente existe. Ainda há interferência da gestão passada nessas eleições. Mas faz parte. Acho que temos de botar um ponto final na conversa da diretoria anterior e tratar da vida. Essa é a mensagem que procuramos passar. O que passou, passou.

L!: Ficou algum desconforto após a decisão da Fina de manter a exigência pelo novo pleito? Vocês tentaram de tudo para fazer valer a eleição de junho, que não foi reconhecida...
M: Não, de maneira nenhuma. Eles estão no papel deles. A Fina tem mais de 200 filiados e não pode atuar de uma forma com um país e de modo diferente com outro. O importante agora é que, com o novo estatuto, não haverá motivo para contestação. Tenho confiança de que terei, de novo, o apoio da comunidade aquática.

L!: Você esteve na Assembleia que aprovou o aumento dos assentos dos atletas no COB e votou a favor dos 12. Mas vários dirigentes mudaram de lado depois da pressão que sofreram. Existe uma divisão entre os cartolas brasileiros?
M: Tem de haver uma maior participação do atleta. O resultado da Assembleia (a favor dos 12 assentos) foi o reconhecimento de que estamos nesta posição por causa do atleta. As pessoas que falaram que eles não tem representatividade tão expressiva para votar mudaram de opinião, porque entenderam que os atletas oxigenam a Assembleia. Ainda bem que acabou tudo em paz, sem discordância. Foi feita uma proposta entre os presidentes de parar com a encrenca e tocar o barco para frente.

QUEM É ELE

Nome
Miguel Carlos Cagnoni
Idade
72 anos
Vice
Luiz Fernando Coelho de Oliveira
Carreira
É empresário formado em Direito, foi atleta de polo aquático e presidiu a Federação Aquática Paulista (FAP) por 22 anos. Nos últimos tempos, se consolidou como principal voz da oposição a Coaracy Nunes e teve o maior número de apoio de federações (nove) e de nadadores famosos, como Cesar Cielo e Poliana Okimoto, no último pleito. Ele liderou a chapa “Inovação e Transparência”.

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RELEMBRE O IMBRÓGLIO NA CBDA

Investigação
O ex-presidente da CBDA, Coaracy Nunes, e os ex-diretores Ricardo Cabral, Ricardo de Moura e Sérgio Alvarenga foram presos em abril, acusados de fraude em licitações e desvios de verba durante a Operação Águas Claras, da Polícia Federal. Eles conseguiram habeas corpus em junho.

Eleição cancelada
A CBDA deveria ter realizado sua eleição presidencial em março, mas ela não ocorreu por falta de transparência na escolha do presidente da Comissão de Atletas, que participa do pleito. Coaracy nomeou o ex-nadador Thiago Pereira, mas houve contestação em meio ao caos político e financeiro da entidade. Em maio, Leonardo de Deus acabou eleito.

Intervenção
A CBDA recebeu intervenção da Justiça brasileira em março, quando a juíza Titular da 25ª Vara Cível do Rio de Janeiro, Simone Gastesi Chevrand, afastou a diretoria de Nunes, que ficou no poder por quase 30 anos. Em seguida, nomeou como interventor o advogado Gustavo Licks. No período, ele deveria apenas administrar a confederação, mas conduziu a eleição que deu vitória a Miguel Cagnoni. O paulista derrotou Cyro Delgado e Jefferson Borges.

Reação
Em junho, a Fina afirmou que não reconheceria o resultado do pleito, uma vez que ele feriu o estatuto da CBDA. Em agosto, a atual diretoria marcou uma Assembleia Geral a aprovou modificações no regulamento, antes de submeter as alterações à Fina.

Obedeceu
No dia 30 de novembro, a entidade mundial aprovou o novo estatuto em reunião do Conselho Executivo, em Sanya (CHN), mas manteve a exigência de novas eleições. A CBDA, então, decidiu atendê-la para evitar o risco de ser suspensa. Em todas as cartas enviadas ao Brasil, a Fina não se dirige ao mandatário ou a qualquer membro da CBDA. Escreve apenas “to whom it may concern”, que em português quer dizer: “a quem interessar possa”, em sinal de não reconhecimento do pleito.

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