Mineirinho ‘zera’ lesão e miopia, e avisa rivais: ‘Quero voltar mais forte’
De volta ao Circuito Mundial após oito meses e três cirurgias, campeão mundial vê chance de recomeço e diz que acelerou o processo de recuperação, devido ao risco de perder vaga
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O Oi Rio Pro, quinta etapa do Circuito Mundial de surfe (WCT), que começa nesta quinta-feira, em Saquarema (RJ), é uma tentativa de recomeço para Adriano de Souza.
No dia 17 de outubro do ano passado, o campeão mundial de 2015 torceu o joelho direito antes de iniciar a bateria da repescagem em Peniche (POR), no penúltimo evento da temporada. Até tentou surfar, mas sentiu um estalo, desabou na prancha e abandonou a disputa.
Os exames apontaram estiramento parcial do ligamento colateral medial com ruptura do ligamento cruzado. Pela primeira vez na carreira, o paulista passou tanto tempo longe do mar. Não foi fácil.
Em entrevista ao LANCE! durante evento da Oi, sua patrocinadora, no Rio de Janeiro, Mineirinho relembrou a luta para voltar, admitiu que acelerou o processo com medo de perder o lugar na elite em 2020 e revelou uma motivação extra para a volta: a cura da miopia.
– Foi um choque muito forte poder enxergar as coisas. É maravilhoso. O problema zerou, mesmo. Antes, eu só surfava no instinto – afirmou o brasileiro, que voltou a praticar o esporte há um mês.
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Como se sente após oito meses afastado das competições?
Nunca tinha passado por isso. É uma experiência nova e estou ansioso para a reestreia. Não poderia ter escolhido um lugar melhor para voltar, com a torcida brasileira me incentivando. Usarei este benefício.
Você estabeleceu metas para este retorno ou terá de sentir como o corpo vai reagir aos poucos?
Eu estou me readaptando. É uma lesão de um ano e meio, e estou no prazo mínimo. Não posso exigir de mim, a princípio. Pelos médicos, eu nem deveria estar competindo. Briguei com todos. Estou aqui com muito esforço e dedicação, que tive nesses últimos meses, para chegar ao mínimo necessário e tentar fazer algo próximo do meus 100%. Essa é minha meta.
O que buscou fazer para retornar na etapa do Brasil? Terá de se segurar?
Devido à cirurgia, o que vale é o tempo de cicatrização. O que pude fazer foi acelerar, por isso estou apto a competir. Geralmente, uma pessoa com esta lesão faz uma hora de fisioterapia por dia. Eu fazia seis horas por dia. Visualmente, está bem, mas internamente, existe a preocupação, Pelo fato de ter acelerado o processo, há o risco de romper novamente. Eu estou em um meio-termo da cicatrização. Tenho de tomar um cuidado. Mas não sinto dores.
O que fez para não se afundar em uma depressão durante o período?
Tive de ter aceitação. Aceitei o que eu estava passando. Na vida, quando acontece algo, é para aprendermos e vivermos aquilo. Como nunca tive lesão séria antes, foi tudo novo. Uso de positivo o período afastado, pois aprendi muita coisa. Quero retornar mais forte. Eu preferi me afastar mesmo. Eu senti que, assim, o tempo passava mais rápido. Não fiquei pregado às competições de surfe. Procurava assistir a partidas de futebol e do Corinthians, e programas que curto, e fazer o tempo passar.
Além do joelho, você fez outras cirurgias no período, uma delas na vista. O que foi exatamente?
Fiz três cirurgias. Uma no joelho, a correção da miopia e uma ortognática, para corrigir a minha mordida. Aproveitei o processo e consertei o corpo totalmente para voltar. Durante as competições, não tem como. As recuperações são longas e não temos tempo. Fui arrastando durante a vida inteira. Quando soube que ficaria de seis a sete meses parado, decidi que era o momento de cuidar de tudo.
Como era surfar sem enxergar bem? E como é após a operação?
Eu tinha 2,5 graus em cada olho. Já estou surfando há um mês e me readaptei a esta nova fase. Foi um choque muito forte poder enxergar as coisas. É maravilhoso. Ela zerou, mesmo. Antes, era tudo no instinto. Já usei óculos. Lente de contato é horrível, pois exige cuidados. Tinha medo de usar e acontecer algum problema na hora do “vamos ver”. Então, me acostumei a surfar sem.
Você não está convocado para os Jogos Mundiais da ISA, já que só os três melhores brasileiros no ranking foram. Mas vê alguma chance de ir a Tóquio?
Zero. Não tenho nenhuma chance. Estou no meio do percurso para voltar bem. Desejo muita sorte ao Italo (Ferreira), ao Filipe (Toledo) e ao Gabriel (Medina), que seguem na batalha, mas espero ir ao Japão como torcedor, pelo menos. Não teria como me recuperar a tempo.
Você fez as contas para avaliar os riscos de não ficar na elite?
Eu penso em 2019. Tentarei me requalificar pelo menos na última posição do ranking mundial. Se eu cair como lesionado no ano que vem, fico em último lugar. Por isso, fiz todo esse esforço para voltar agora. Tenho esperanças de conseguir entrar e, para tanto, preciso terminar o ano dentro da zona de classificação, que vai até o 22 lugar.
NR: Adriano está em 40 lugar neste momento
Embora não esteja na briga para ir a Tóquio, você sentirá os efeitos do surfe como esporte olímpico. A WSL passou a ter um controle antidoping mais rígido. O que achou da medida?
É maravilhoso. As famílias que não entendem o surfe, quando veem um esporte com regras, já falam: “nossa, que legal”, especialmente nesta questão do doping. É outra visão. Entre nós, atletas, não é problema. Quem está limpo, não teme, né? Então, ter a oportunidade de me expressar para a sociedade em um esporte controlado pela Wada, com integridade, é excelente.
O Brasil vai muito bem lá fora, mas a Confederação Brasileira de Surfe (CBSurfe) vive um impasse de comando, com disputas na Justiça. O esporte tem algum futuro aqui?
O problema está se arrastando. O que posso dizer sobre isto? Enquanto as brigas judiciais não se resolverem, vamos continuar assim e nada vai mudar. O esporte só tem a perder.
QUEM É ELE
Nome
Adriano de Souza
Nascimento
13/2/1987, em Guarujá (SP)
Altura e peso
1,70m / 66kg
Posição no ranking
40
Títulos mundiais
1 (2015)
Títulos em etapas do WCT
7 (Mundaka-2009; Rio-2011; Peniche-2011; Bells Beach-2013; Margaret River-2015; Pipe Masters-2015 e Rio-2017).
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