A conquista da medalha de prata na prova dos 20 km da marcha atlética do Pan-Americano de Lima neste domingo, dia 4, teve um sabor duplamente especial para o brasileiro Caio Bonfim. Primeiro, representou uma homenagem ao filho Miguel, que nasceu no último dia 26 de junho. Depois, por lhe dar um final feliz em uma cidade na qual passou mal após uma prova e chegou até a correr risco de vida.
- No Pan-Americano de marcha atlética em 2017, corri aqui neste mesmo
circuito e acabei passando mal. Saí da pista em uma ambulância e precisei
ser hospitalizado. Meus batimentos chegaram a 234, minha urina estava
preta. Depois, soube que foi por causa de um suplemento que estava
tomando e que estava contaminado. O médico perguntou quantos
comprimidos eu tinha tomado e disse que um só. Foi quando ele respondeu
que era por isso que eu estava ali contando a história. - disse o brasileiro.
Medalha de bronze nesta prova no último Mundial de atletismo, em 2017,
realizado em Londres, Caio Bonfim recorda que quando estava na ambulância, só pensava em retornar a Lima para disputar uma nova prova
e sair dela com uma medalha.
- Acho que comecei a ganhar esta medalha do Pan de Lima justamente há
dois anos, quando estava a caminho do hospital. Pedi a Deus para que me
desse uma nova oportunidade de voltar e hoje saio com esta medalha de
prata”, disse o marchador brasileiro, que completou a prova com o tempo
de 1h21m57. A medalha de ouro ficou com o equatoriano Daniel Pintado,
enquanto o guatemalteco José Alejandro Barrondo levou o bronze.
Segundo o brasileiro, a prova deste domingo em Lima foi extremamente
difícil.
- A gente sabia que seria uma prova forte. Arbitragem nova, não tem
experiência. Vimos que no feminino eles deram muitas advertências. Aqui
tivemos que fazer uma prova muito estratégica, sem pensar em marca. Piso
também muito molhado, curvas difíceis de fazer. Foi uma prova bem complicada. Ainda bem que consegui me manter no primeiro pelotão. Fomos
desgarrando e quando vi que poderia levar a medalha, administrei. Podia
até arriscar um pouco, mas como já tinha uma falta no quadro, fiquei com
medo da interpretação subjetiva dos juízes. - afirmou Caio, que no Pan de
Guadalajara-2011 foi eliminado após três punições.
A alegria de ter subido ao pódio foi também por ser uma forma de
homenagear a mulher Juliana e o pequeno Miguel, que nasceu prematuro
no último dia 26 de junho.
- Era para ele ter chegado em 6 de agosto, mas como ele é esperto, veio antes para não deixar o pai correr sozinho nesta prova. - brincou Caio, que fez questão de agradecer à sua mulher.
- Não é fácil ser mãe recentemente e ficar sozinha nestas horas. Ela sabe o
que representava estar aqui e dez dias depois do Miguel nascer, eu estava
em Cuenca (EQU), fazendo aclimatação para o Pan. As pessoas não sabem
os sacrifícios que um atleta precisa fazer, como ficar vem do seu filho
apenas chamada de vídeo, sem poder estar ao lado dele, dando banho ou
trocando as fraldas.
Embora tenha como maior objetivo voltar a conquistar uma medalha no
Mundial de Doha, em outubro, Caio Bonfim assegura que em nenhum
momento chegou a pensar em se poupar e não vir para o Pan de Lima.
- Meu país investe em mim, tenho prazer em representar o Brasil. Atleta tem
que gostar de competir. Eu marcho em média 30 km por dia. Minha prova
será daqui a dois meses, dá para me recuperar bem. E é preciso estar aqui
para sentir este feeling, esta pegada da prova. Para mim, isso é necessário.