Pressão Total: Confira esportistas e comitês que pediram o adiamento das Olimpíadas de Tóquio
Apesar da pandemia do novo coronavírus, COI segue a programação dos Jogos e diz que não há necessidade de mudanças drásticas, o que revolta desportistas e dirigentes
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Ao longo da semana, a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) se expandiu pelo mundo, com o aumento do número de infectados e mortos, sobretudo na Europa. Com isso, diversos grandes eventos esportivos foram adiados e as nações adotaram o regime de quarentena, para evitar o contágio e a disseminação da doença. No entanto, o Comitê Olímpico Internacional (COI) reforçou o desejo de iniciar os Jogos na data prevista, o que tem gerado a revolta de atletas e dirigentes pelo mundo.
Neste sábado, foi a vez do Comitê Olímpico Brasileiro defender o adiamento do evento para 2021. Em comunicado oficial, o presidente da entidade Paulo Wanderley destacou que os atletas não têm mais condições de competirem no seu melhor nível. O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado, também afirmou não haver qualquer condição de realizar os Jogos neste ano.
– Como judoca e ex-técnico da modalidade, aprendi que o sonho de todo atleta é disputar uma Olímpiada em suas melhores condições. Está claro que, neste momento, manter os Jogos para este ano impedirá que este sonho seja realizado em sua plenitude – ressaltou o presidente do COB, Paulo Wanderley.
No início da tarde deste sábado, as confederações de diversos esportes brasileiros declaram apoio à posição do COB. Vôlei, basquete, esportes aquáticos, ginástica, judô, remo e canoagem foram as modalidades que se posicionaram em suas redes sociais.
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NOTA OFICIAL - 21/03/2020
— Time Brasil (@timebrasil) March 21, 2020
COB defende adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio em um ano.
➕ https://t.co/RUy2LfxvRH
📸Ana Patrícia/Exemplus/COB pic.twitter.com/Qex5R8S9DT
Além das entidades, atletas brasileiros também foram contra a manutenção da Olimpíada. A nadadora pernambucana Etiene Medeiros também criticou a decisão do COI e afirmou que devem focar na saúde dos atletas, olhar para o próximo, e modificar o planejamento do evento.
- O COI manteve os Jogos Olímpicos. É um ano que representa muito para nós atletas de alto rendimento. Eu não sou a favor. O mundo grita para uma outra situação, focada na saúde. Nosso planejamento está sendo recuado. Muita gente sem piscina e sem poder treinar, ou seja, sem conseguir seguir os planos de treinamento. Não cabe a mim decidir, mas sim falar sobre. Quanto mais a gente se unir e olhar para o próximo, vamos passar por essa - comentou Etiene.
Em meio à irritação dos atletas, um debate acalorado aconteceu nas redes sociais. O nadador brasileiro Bruno Fratus questionou a presidente da Comissão de Atletas do COI, a bicampeã olímpica Kirsty Coventry. A ex-atleta, de Zimbábue, afirmou que após uma reunião com 200 esportistas, e contatos com federações esportivas, os competidores devem continuar no processo de preparação para os Jogos. Com isso, o brasileiro disse que o comentário de Coventry estava desconectado da realidade.
- Kirsty, como colega nadador e atleta olímpico, eu te peço para reconsiderar e consultar com outros atletas pelo mundo. Não tenho certeza se você está sabendo que muitos atletas, como eu, estão incapazes de treinar. Além disso, o conselho para "continuar fazendo o que vocês estão fazendo" me parece desconectado com a realidade quando você vê líderes mundiais diariamente na televisão pedindo para as pessoas se isolarem - comentou Bruno Fratus.
Kirsty, as a fellow swimmer and olympian I'd urge you to reconsider and consult with some other athletes around the world.
— Bruno Fratus (@BFratus) March 19, 2020
Not sure if you're aware of the the many athletes like myself incapable of even training.
Na última quarta, a primeira esportista a criticar a postura do COI foi a canadense Hayley Wickenheiser, membro da Comissão de Atletas do COI e tetracampeã olímpica de hóquei no gelo, foi a primeira a discordar do comitê e classificar a decisão como como 'insensível e irresponsável'.
- Esta crise é maior do que os Jogos Olímpicos. Os atletas não podem treinar nem fazer planos de viagem - disse Wickenheiser, que representou o Canadá em cinco edições de Olimpíadas, no hóquei de gelo.
I’ve given this a lot of thought, and over the past few days my perspective has changed. I was voted to represent and protect athletes. As an IOCAC member, 6x Olympian and Medical doctor in training on the front lines in ER up until this week,these are my thoughts on @Olympics : pic.twitter.com/vrvfsQZ1GO
— Hayley Wickenheiser (@wick_22) March 17, 2020
A atual campeã olímpica do salto com vara, Katerina Stefanidi, também se manifestou, em sua rede social, contra as medidas da entidade e contestou o não adiamento do início dos jogos. A atleta fez duras críticas a entidade e disse que o COI quer que os desportistas sigam arriscando suas vidas e de seus familiares.
- Não é sobre como as coisas serão em quatro meses. É sobre como as coisas estão agora. O COI está querendo que a gente se mantenha arriscando nossa saúde, a saúde da nossa família e a saúde pública treinando todos os dias? Estão nos colocando em perigo agora, hoje, não em quatro meses - comentou Katerina Stefanidi.
This is not about how things will be in 4 months. This is about how things are now. The IOC wants us to keep risking our health, our family’s health and public health to train every day? You are putting us in danger right now, today, not in 4 months.https://t.co/cICKVQ4qsZ
— Katerina Stefanidi (@KatStefanidi) March 17, 2020
Na quinta, a ex-judoca e medalhista olímpica, Kaori Yamaguchi também defendeu o adiamento das Olimpíadas de Tóquio. Ela faz parte do Comitê Olímpico Japonês (JOC), e declarou que diante do surto do COVID-19, os atletas não têm mais tempo para se prepararem de maneira adequada para os Jogos, que estão previstos para o dia 24 de julho deste ano.
- As Olimpíadas não devem ocorrer em uma situação que as pessoas no mundo não possam desfrutar. Até onde eu sei, atletas dos Estados Unidos e da Europa não conseguem treinar normalmente e não conseguiram concluir seus torneios classificatórios. Isso torna impossível que eles se apresentem bem nas Olimpíadas - sem contar todos os riscos pelos quais estão passando - ressaltou Yamaguchi.
Além dos atletas, dirigentes também questionaram a decisão do COI e pediram o adiamento das Olimpíadas de Tóquio. O presidente do Comitê Olímpico Espanhol, Alejandro Blanco, disse que os atletas espanhóis não têm condições de disputar o evento de maneira justa e igualitária.
Alejandro Blanco (@COE_Presidente): "Nuestros deportistas no pueden ir a los Juegos en desigualdad" https://t.co/WLRJyvtppf pic.twitter.com/zuoBkXhVlY
— COE (@COE_es) March 17, 2020
Já o presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e ex-presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Londres 2012, Sebastian Coe, afirmou não ser difícil transferir as Olimpíadas para 2021.
- As federações internacionais, na verdade, evitam anos olímpicos com frequência para ter seu campeonato mundial. O atletismo tem seu campeonato mundial nessa data (2021). O campeonato europeu de futebol foi adiado. O calendário esportivo é uma matriz complicada e não é simples facilitar um evento de um ano para o outro. Seria ridículo dizer que algo está descartado no momento. O mundo inteiro quer clareza; não somos diferentes de nenhum outro setor - destacou Coe.
Matew Piasenti, inglês tetracampeão olímpico de remo, também defendeu o adiamento em sua rede social.
- Sinto muito, Sr. Bach, mas esse é um tom surdo. O instinto de manter a segurança (para não mencionar obedecer às instruções do governo para ficar em casa) não é compatível com o treinamento, a viagem e o foco que uma Olimpíada iminente exige de atletas, organizadores de espectadores, etc. Mantenha-os em segurança - declarou.
I’m sorry Mr Bach but this is tone deaf. The instinct to keep safe (not to mention obey govt instructions to lock down) is not compatible with athlete training, travel and focus that a looming Olympics demands of athletes, spectators organisers etc Keep them safe. Call it off. https://t.co/nKnEEiVku1
— Matthew Pinsent (@matthewcpinsent) March 18, 2020
Apesar de ser a sua primeira Olimpíada, a atleta espanhola de marcha atlética, María Pérez, também defendeu a causa e que os jogos devam ser disputados em igualdade de condições.
- Tóquio 2020 será a minha primeira Olimpíada, o sonho de todo atleta, mas se eu aprendi alguma coisa com as minhas referências olímpicas, é que um dos valores essenciais é o de igualdade de condições. Nestes tempos terríveis para todos, fica claro que nem todos os atletas estão na mesma situação, então, por mais que doa, eu defendo o pedido de adiamento desses Jogos. - defendeu.
(2/2)
— María Pérez (@garciaperezmari) March 17, 2020
En estos terribles momentos para todos, es evidente que no todos los deportistas estamos en la misma situación, por lo que, por mucho que me duela, me uno a la petición de aplazamiento de estos Juegos.
Já na sexta, a CEO da Natação norte-americana, Tim Hinchey, enviou para o Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos (USOPC), com o pedido para que a entidade apele ao COI para adiar a realização das Olimpíadas de Tóquio.
- Todos experimentaram perturbações inimagináveis, a alguns meses do início dos Jogos Olímpicos. O que está em questão é a autenticidade das condições equitativas para todos. Nossos atletas estão sob tremenda pressão, estresse e ansiedade. Sua saúde mental e bem-estar devem ser as maiores prioridades - comentou Hinchey.
Em resposta, o USOPC garantiu o compromisso com a saúde dos atleta, mas ressaltou que ainda não é o momento de fazer cobranças ao COI sobre um possível adiamento do evento.
Também na sexta, a Itália tornou-se o país com mais mortes por conta do coronavírus: 3.405. Diante da grave situação do país, os executivos do esporte Paolo Barelli e Giovanni Petrucci se mobilizaram e também fizeram um apelo ao Comitê Olímpico Internacional (COI) e pediram o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.
Giovanni Petrucci foi presidente do Comitê Olímpico Italiano por quatorze anos e hoje é presidente da Federação Italiana de Basquete. Paolo Barelli, por sua vez, é presidente das Federações Europeia e Italiana de Natação e vice da Federação Internacional de Natação (FINA).
- Não sou contra os Jogos Olímpicos. Mas dizer que as Olimpíadas vão seguir é um grande erro de comunicação - afirmou Giovanni Petrucci em entrevista à agência Associated Press, e em seguida completou.
- Essa pandemia afeta o mundo todo. Eu sei que existem contratos bilionários. Eu sei disso tudo. Mas a vida humana vale muito mais que todas essas coisas - disse.
Já Petrucci ressaltou não ser o único que pensa no adiamento da Olimpíada, mas que muitos italianos têm medo de falar sobre isso. Para ele, cabe ao comitê avaliar toda situação em que o mundo se encontra no momento e reavaliar a decisão, pensando nos atletas, treinadores, árbitros e torcedores.
- Não quero atacar o COI. Há muitas pessoas lá que conheço. Mas eu não sei mais o que dizer. Não estou tentando criar uma controvérsia. Eu sou realista. É só olhar os boletins médicos. - alertou.
A Federação Norueguesa de Esportes e o Comitê Olímpico e Paralímpico da Noruega (NIF), em uma carta enviada a Thomas Bach, presidente do COI, também pediu o adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em virtude da pandemia global do novo coronavírus.
Segundo o presidente do esporte no país, Berit Kjoll, os eventos devem ser adiados até que a pandemia do coronavírus esteja sob controle e que os atletas possam trenar e se preparar de maneira adequada, sem risco de contágio ou problemas de saúde.
- Dada a situação altamente não resolvida na Noruega e em grande parte do mundo em geral, não é justificável nem desejável enviar atletas noruegueses para as Olimpíadas ou Paralimpíadas de Tóquio até 2020 antes que a comunidade mundial coloque essa pandemia para trás - comentou Berit Kjoll.
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