Divisão da medalha de ouro nos Jogos de Tóquio quebra tabu centenário: ‘Simboliza o espírito olímpico’
Italiano e qatari entram para história dos jogos ao subirem juntos ao topo do pódio no salto em altura. Medalhista de bronze no 4x100 feminino exalta atitude dos atletas
A final do salto em altura masculino, no último domingo, proporcionou uma das grandes histórias dos Jogos Olímpicos de Tóquio. O italiano Gianmarco Tamberi e o catari Mutaz Essa Barshim empataram na decisão e resolveram encerrar a competição, dividindo o lugar mais alto do pódio com a medalha de ouro.
Gianmarco Tamberi e Mutaz Essa Barshim empataram com a marca dos 2m37. Com isso, a organização do evento ofereceu a possibilidade de mais um salto, 2m39, para desempatar a disputa ou ambos poderiam dividir a medalha de ouro. Sendo assim, escolheram a segunda opção.
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Tabu quebrado
O empate encerrou uma marca de 113 anos na história das Olimpíadas. A última vez que dois atletas dividiram a medalha de ouro havia acontecido nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1908, quando Edward Cook e Afred Carlton Gilbert, ambos dos EUA, empataram na disputa do salto com vara em 3m71.
Assim como nos Jogos de Tóquio, os árbitros deram a possibilidade de Edward Cook e Afred Carlton Gilbert conquistarem a medalha dourada de forma conjunta.
Na história do atletismo, existe outro caso semelhante de título compartilhado. Na Olimpíada de Estocolmo em 1912, o americano Jim Thorpe venceu as provas de Pentatlo e Decatlo, mas perdeu as conquistas após o Comitê Olímpico Internacional descobrir que ele violou as regras da época.
Em 1912, só era permitido atletas amadores na Olimpíada. Na ocasião, o COI descobriu que Jim Thorpe recebeu dinheiro para jogar beisebol. Ou seja, ele não era mais considerado amador. Em 1982, o COI revisou a decisão e declarou Thorpe como co-campeão ao lado de Ferdinand Bie e Hugo Wieslander, que herdaram o ouro.
Dividir uma medalha de ouro nas Olimpíadas é raro e pode ser uma decisão difícil, já que se trata de uma competição onde todos os atletas almejam conquistar a glória. Entretanto, o italiano e o catari já possuem uma amizade antiga e que já simboliza o espírito olímpico.
Em 2016, Tamberi sofreu uma grave lesão que o impediu de disputar os Jogos Olímpicos do Rio. Após uma dura reabilitação, o italiano retornou às atividades no ano seguinte, mas sofria com a falta de confiança e fracassou na etapa de Paris. Tamberi ficou frustrado e, foi nessa hora, que Barshim foi essencial.
Barshim procurou Tamberi para uma conversa e se colocou à disposição para ajudá-lo. O italiano desabafou e falou sobre o temor de nunca mais voltar ao nível que tinha antes da contusão. E o papel do catari foi fundamental para a recuperação mental de Tamberi.
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A decisão dos atletas foi aprovada por Evelyn dos Santos, medalhista de bronze pelo Brasil nos 4x100 metros feminino em Pequim-2008. Ao LANCE!, a atleta destacou que a atitude de Tamberi e Barshim simboliza o espírito olímpico.
- Os Jogos Olímpicos são muito mais do que uma competição. Existe a filosofia do Olimpismo, que prega a paz entre os povos e vários conceitos relacionados a superação, coragem e amizade - disse.
A amizade entre os dois pode ter contado na hora de definir o pódio, mas segundo Evelyn, outro fator pode ter pesado também para a escolha dos dois ouros.
- Acredito que eles já estavam cansados, pois foi uma prova longa. Contou a amizade e o Olimpismo. Foi uma atitude bem legal - completou.
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A filosofia do Olimpismo foi herdada dos Jogos da Grécia antiga, e o esporte entra como instrumento para a promoção da paz, da união, e do respeito por regras, e adversários.
A amizade, a compreensão mútua, a igualdade, a solidariedade e o fair play são as premissas do Olimpismo. Mais que uma filosofia esportiva, o Olimpismo é uma filosofia de vida. A ideia é que a prática destes valores ultrapasse as fronteiras das arenas esportivas e influencie a vida de todos.
*Colaborou ao LANCE!
Confira o quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos de Tóquio: