Relembre brigas e tensões geopolíticas históricas que marcaram os Jogos Olímpicos
Em Tóquio, dois judocas se recusaram a enfrentar o israelense Tohar Butbul; outras tensões já marcaram os Jogos como atentados terroristas e boicotes
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Tensões geopolíticas entre países já atrapalharam e marcaram por inúmeras vezes os Jogos Olímpicos. Mais recentemente, na última segunda-feira, o judoca Mohamed Abdalrassol, do Sudão, se recusou a enfrentar o israelense Tohar Butbul na fase oitavas de final da categoria até 73 kg das Olímpiadas de Tóquio.
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Antes dele, Fethi Nourine, da Argélia, desistiu dos Jogos depois dos sorteios da chave indicarem um possível duelo contra o judoca Tohar Butbul. Fethi e seu treinador afirmaram que o motivo da desistência é o fato da Argélia se recusar a normalizar as relações com Israel.
Ambos os judocas foram suspensos pela Federação de Judô. No entanto, o motivo ou os motivos que levaram à desistência de Mohamed Abdalrassol não foram revelados. Dessa forma, o LANCE! fará uma "viagem no tempo" para relembrar tensões geopolíticas que estremeceram os Jogos e entraram para a história.
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BOICOTES
Um dos primeiros boicotes a uma Olimpíada aconteceu nos Jogos de Melbourne, em 1956. Na ocasião, o Egito, o Líbano e o Iraque desistiram de competir do evento por causa dos ataques de Israel ao Canal de Suez. Além deles, Suíça, Países Baixos e Espanha também ficaram de fora dos Jogos, mas o motivo foi a invasão soviética à Hungria.
Fora isso, uma discussão entre a China e Taiwan fez com que aquele (China) se recusasse a comparecer porque este (Taiwan) estava presente nos Jogos de Melbourne. Por outro lado, amenizando as tensões provocadas pela Guerra Fria, a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental competiram juntas sob a bandeira olímpica.
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Os boicotes mais famosos, contudo, aconteceram nos Jogos de 1980, em Moscou, e de 1984, em Los Angeles, durante a Guerra Fria. A Olímpiada sediada na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), inclusive, teve um dos maiores boicotes de toda a história. Os Jogos Olímpicos de Moscou contaram com apenas 80 delegações.
Um dos episódios da Guerra Fria - e que tencionou as relações entre Washington e Moscou - foi a invasão das URSS ao Afeganistão, já no fim de 1979. Assim, como forma de pressionar a retirada das tropas do território afegão, o até então presidente Jimmy Carter, do Partido Democrata, determinou que os atletas dos Estados Unidos não poderiam viajar à URSS para competir nos Jogos.
Eles, inclusive, sequer poderiam competir com uma bandeira neutra, uma vez que estavam sob pena de cassação de seus próprios passaportes. Os Estados Unidos ainda pressionaram aliados ocidentais e outros parceiros mais próximos para não irem às Olimpíadas. A Alemanha Ocidental, o Japão e a China, por exemplo, se retiraram dos Jogos.
Dessa forma, em 1984, a União Soviética boicotou os Jogos Olímpicos de Los Angeles. No entanto, a URSS negou que tenha se retirado das Olimpíadas por causa do boicote estadunidense que havia ocorrido quatro anos antes.
Oficialmente, os líderes soviéticos afirmaram que temiam que sentimentos "chauvinistas" pudessem colocar em risco a segurança dos atletas. Segundo o dicionário de língua portuguesa "Michaelis", "chauvinismo" é o "patriotismo exagerado, quase desprezo aos estrangeiros".
Assim, 17 países desistiram de participar do evento. Quase todos os países do Pacto de Varsóvia - uma aliança militar do Leste Europeu - acompanharam o boicote, exceto a Romênia, que, inclusive, terminou os Jogos no segundo lugar no quadro de medalhas.
ATENTADOS
Os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, foram marcados por um massacre liderados por terroristas da facção palestina "Setembro Negro". Eles invadiram a Vila Olímpica e fizeram um grupo de atletas e técnicos da delegação de Israel de reféns.
Os terroristas exigiam a libertação de 200 palestinos que haviam sido presos em solo israelense e, também, um avião para fugir de Munique. Contudo, o governo de Israel não cedeu às exigências, e, assim, as autoridades alemãs procuraram outras saídas, o que não surtiu efeito.
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Numa tentativa de emboscada, a polícia alemã atraiu os sequestradores até o aeroporto para que, de avião, pudessem fugir de Munique - como reivindicavam. Quando os terroristas já estavam na pista, as forças de segurança abriram fogo contra eles. Os membros do "Setembro Negro", então, trocaram tiros e mataram os reféns.
A ação resultou na morte de 11 reféns israelenses, um policial alemão e cinco sequestradores. Três terroristas foram presos e um dos reféns chegou a ser morto durante as negociações.
Apesar da tragédia, o Comitê Olímpico Internacional decidiu seguir com os Jogos de Munique. Uma cerimônia no Estádio Olímpico homenageou os atletas mortos no massacre, bandeiras foram postas a meio mastro, e as competições foram retomadas no dia seguinte.
Há 25 anos atrás, ocorreu o atentado aos Jogos Olímpicos de Atlanta, que ocorreu em 1996. Este, inclusive, foi o último atentado que ocorreu durante um evento esportivo. Uma explosão de bomba caseira no Centennial Olympic Park matou duas pessoas e feriu 110 no dia 27 de julho daquele ano.
O espaço era aberto para turistas e abrigava uma feira de negócios e entretenimento. No entanto, o parque olímpico precisou ser fechado por alguns dias para investigação do FBI. Assim como em Munique, os Jogos não foram interrompidos, mas foi decretado luto com bandeiras a meio mastro e um minuto de silêncio antes das competições.
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O culpado do atentado foi Eric Rudolph, um extremista de direita, que foi descoberto anos depois. Ele foi preso após realizar mais três atentados e confessou o crime na prisão.
As autoridades americanas suspeitaram do segurança Richard Jewell (1962 - 2007), que foi o primeiro a ver o artefato para afastar as pessoas do local. Hoje, Jewell é apontado como herói por ter salvado vidas. Ele, inclusive, foi homenageado pelo diretor Clint Eastwood no filme "O Caso Richard Jewell", que retrata esse momento de sua vida.
A CARTA OLÍMPICA
Esta carta, escrita pelo Barão de Coubertein, em 1899, tem alguns objetivos. Entre eles, pode-se citar a reafirmação dos princípios fundamentais e dos valores essenciais do Olimpismo, servir de estatuto para o COI e definir os direitos e as obrigações dos Comitês Nacionais, Federações Internacionais e, também, do Comitê Organizador dos Jogos.
No primeiro, de cinco capítulos, a Carta Olímpica mantém vivos os ideias do Barão de Coubertein e tem oito áreas de atuação. São elas: escolha da cidade-sede, organização dos Jogos; proteção aos atletas; promoção da igualdade de gênero, desenvolvimento pelo esporte, promoção do desenvolvimento sustentável, promoção da cultura e da educação olímpica; e respeito à trégua olímpica.
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Sobre este último ponto, a trégua olímpica remonta à interrupção dos conflitos na Grécia Antiga durante os Jogos Olímpicos daquela época. Na década de 90, o COI resgatou a ideia e transferiu para a Organização das Nações Unidas (ONU) esse chamado, que é simbólico, para que países e grupos armados abaixassem as suas armas.
Neste ano não foi diferente. No dia 15 de julho, o secretário-geral da ONU, António Guterres, cumpriu com a tradição do pedido simbólico para interrupção dos conflitos em períodos de Jogos Olímpicos. Contudo, vale ressaltar que não existe uma obrigação para que sejam interrompidos quaisquer tipos de confrontos.
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