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Dia de todos os Santos #7: Geração Ney

Entre 2010 e 2013, Neymar encantou o futebol com a camisa santista e comandou uma geração vitoriosa do Santos 

O Santos ganhou a Copa do Brasil de 2010 e viu Neymar e companhia baterem o Peñarol na final da Copa Libertadores de 2011
imagem cameraNeymar marcou o primeiro gol do Santos na final da Libertadores de 2011 (Foto: Nacho Doce/Arquivo LANCE!)
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Lance!
Santos (SP)
Dia 13/04/2020
04:30
Atualizado em 13/04/2020
23:37

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A conquista do Brasileiro em 2002 foi redenção e reinício para o Santos. Mas não foi libertação. Poderia ter sido em 2003, mas a equipe que encantara o Brasil um ano antes não foi páreo para o Boca Juniors como o Peixe de 63 havia feito. Embora dê para reescrever, é impossível desconsiderar a história. E entre 74 e 95, o santista havia aprendido que tudo é gradual e nada é da noite para o dia.

Entre a última volta olímpica de Pelé na Vila Belmiro e as oito de pedaladas de Robinho no Morumbi, passaram-se 28 anos e apenas dois títulos estaduais, um Rio-SP e uma Copa Conmebol no Memorial das Conquistas. A partir do momento que o mundo conheceu Robinho, o Alvinegro Praiano levantou sete Campeonatos Paulistas, dois Brasileiros, a inédita Copa do Brasil, uma Libertadores e Recopa Sul-americana. Mas, para que boa parte desses títulos viessem, o Rei das Pedaladas precisou retornar ao Santos cinco anos após a sua despedida, em 2005, e descer do pedestal de protagonista para coadjuvante de luxo em uma geração liderada por outro jovem franzino, tão abusado quanto, mas de penteado excêntrico e coreografias nos gols.

Era o cetro do Rei Pelé passando de um Menino da Vila para outro. Até hoje a nação santista não consegue chegar a um consenso sobre a injusta pergunta que compara a grandeza de Neymar e Robinho em uma história de tantas glórias.

– Para o Santos, acho que o Neymar. Agora, se fosse para a torcida, creio que o Robinho – afirma o autônomo Caio Fernandes, 24.

– Os dois craques marcaram muito a história santista, mas créditos ao Neymar, que até hoje é eleito um dos melhores do mundo, jogando na Europa e camisa 10 da seleção – disse o estudante de jornalismo, Lenildo Silva, 26.

– Pelo fato do Robinho ter jogado mais tempo e ter ganho aquele Brasileirão histórico em 2002, depois de 18 anos na fila, eu acho que ele tem uma identificação maior com a torcida. Então acredito que ele represente mais na história. Mas, o Neymar não fica muito atrás – pontuou o estudante Gustavo Oliveira, 15.

De volta às origens

Ao conectar-se com a geração do início do Século XXI, o Peixe voltava às suas origens. Jovem. De time, torcida e sangue. Sem divisões ou distinções. Não se tornava de Vanguarda, porque assim já era desde 14 de abril de 1912. Talvez perdido no caminho, o clube recalculou a rota.

E essa atualização do mapa foi novamente necessária após o dia 24 de agosto de 2005, quando Robinho se despediu pela primeira vez do Santos. Assim como o Rei, 31 anos antes, sem a companhia dos craques que construíram consigo uma geração vencedora. Aquela partida contra o Paysandu, na Curuzu, em uma noite de quarta-feira, era o último suspiro do time base de 2002. Na conquista nacional de 2004, apenas três eram os remanescentes, Léo, Elano e o Rei das Pedaladas. O lateral-esquerdo transferiu-se ao Benfica um mês antes que Robson, já o meia havia deixado o Alvinegro Praiano ao fim da temporada vitoriosa, rumo ao futebol ucraniano.

Para não retornar aos tempos obscuros, a diretoria santista optou pelo saudosismo ao repatriar Giovanni dez anos após o vice-Brasileiro. E deu certo. Até a página dois. As mesmas que atrapalharam o título quase certo em 95. Arbitragem. Giovanni volta o mesmo que a torcida do Santos conheceu, jogando o fino da bola. O Peixe não era um grande time tecnicamente, é fato, mas liderava o Brasileirão, quando descobriu que dentre os jogos que seriam remarcadas devido manipulações de resultados, estava o 4 a 2 contra o Corinthians, na Vila, pela 16ª rodada. No novo confronto, vitória corintiana por 3 a 2, com um pênalti duvidoso decidindo a partida. O Messias fez-se carne. E osso. E indignação. Talvez uma somatória diluída em uma década. Refletida em um chute para o alto na saída de bola - voltara em 2010 para encerrar a carreira, enquanto o Alvinegro Praiano se reinventava mais uma vez.

Em 2006, o Alvinegro Praiano retornou a vencer o Paulistão, depois de 22 anos. Essa conquista, inclusive, abriu a porteira para uma dinastia alvinegra, em âmbito estadual, nas últimas temporadas. Entre aquele ano e 2019, foram 14 Paulistas disputados, onde o Peixe conquistou sete e foi finalista em dez. 

2007: bi estadual, uma semifinal de Libertadores, onde o Santos lutou até o final contra o Grêmio, e o vice Brasileiro. Time comandado por Zé Roberto, que voltara da Alemanha para desfilar o seu futebol na Vila Belmiro, imortalizar o seu nome na história santista e retornar ao Velho Continente na temporada seguinte.

2008 e 2009 foram temporadas mais duras para o Peixe. Por dois anos consecutivos, principalmente o primeiro, o time brigou até a reta final do Brasileirão para evitar o inédito rebaixamento - muito embora foram esses anos que surgiram, aos poucos, os primeiros expoentes de uma geração vitoriosa que estava por vir. Ser rebaixado naquela altura do campeonato era como um chute torto de um limitado meia equatoriano, enquanto permanecer era o destino colocando a perna no meio do caminho, mudando o rumo da bola e transportando-a ao gol.

A “Era Neymar”

A expectativa em torno de Neymar era compatível às propagandas feitas durante a sua formação – que transformaram-se em campanhas após o seu estouro. Nascido em Mogi das Cruzes e filho de um ponta direita andarilho, sem muito sucesso na carreira, o garoto chegou ao Santos com 11 anos de idade e pouco tempo depois foi taxado como a joia rara da equipe, Lapidou-se. 

Em 2009, a sua primeira temporada como profissional, desencantou, foi decisivo ao marcar o gol da virada por 2 a 1 contra o Palmeiras, no confronto de ida das semifinais do Paulistão, contra o melhor time da primeira fase, e começou a mostrar o seu cartão de visitas, embora ainda discreto. No segundo semestre, sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, foi muito mais reserva do que titular, mesmo sendo ele o autor do gol da vitória na estreia do Professor. Recebeu a alcunha de “Filé de Borboleta”. Se assim fosse, aquele ano ainda era lagarta. No ano seguinte, desabrochou.

Paralelamente, o time santista já tinha em seu planetel um tal de Paulo Henrique Lima, apelidado como Ganso, que futuramente assumiria o posto como nome de batism. Ele foi preponderante para o título paulista de 2010 e poderia até ser o “dono da era”, já que foi colocado por muitos como superior a Ney. No entanto, graves lesões no joelho acabaram influenciando diretamente em seu plano de carreira e desenvolvimento profissional.

2010 marcava o início de um novo momento para o santista. No fim do ano anterior, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro desbancou Marcelo Teixeira, que estava há nove anos na presidência do clube. Antes da virada, acertou com Dorival Júnior como treinador. Informara ao comandante a dificuldade financeira em reforçar o elenco e a necessidade em apostar nas categorias de base. Filme repetido e com final glorioso. Repetiu-se.

– Representa um novo capítulo de uma linda história. O time de 2010 moldou a atual geração assim como o de 2002 moldou a minha – disse Caio Fernandes.

Garantia em Neymar e Ganso como linha de frente; após tentativas frustradas em contratar o português Nuno Gomes, já em fim de carreira, como centroavante, André foi bancado; o goleiro Felipe, que aguardava uma oportunidade de fixar-se como titular desde 2006, a recebeu e foi campeão paulista em 2010, mas as constantes falhas abriram espaço para que Rafael Cabral, que fizera ótima Copa São Paulo em janeiro, assumisse o posto no segundo semestre; aposta em um atacante que estava emprestado, sem sucesso, ao Athlético-PR tornando-o meia, volante, como foi Wesley na mão de Dorival; uma troca contestável, ao seder Rodrigo Souto ao São Paulo para receber Arouca, rotulado como loucura por todos, mas, posteriormente considerado um dos maiores achados daquele clube. Isso tudo, além de contratações pontuais de atletas vindo por baixo custo, mas que foram fundamentais para o sucesso daquele time, como os zagueiros Edu Dracena e Durval e o meia Marquinhos.

Por fim, o achado em trazer Robinho de volta em um ano que o eterno camisa sete necessitava de reafirmação para a disputa da Copa do Mundo da África do Sul. Ele foi a cereja do bolo para aquele time, em um momento que o Santos precisava dele, tanto quanto ele necessitava ao clube.

O time de um semestre avassalador foi o ponto alto de diversos jogadores que nunca mais conseguiram grandes feitos em sua carreira, mas sobrevivem profissionalmente até hoje por ter feito parte daquele elenco.

Santos.com

Primeira geração esportiva conectada com as redes sociais, os Meninos da Vila, versão 2010, foram apresentados ao mundo da mesma forma que eles mostravam ao Universo o jeito moleque e interativo da Geração Y. A exposição foi boa para a notoriedade de um time que até de talk show participou, mas passou do ponto quando determinado atleta veio a público humilhar um torcedor. Erro moleque. Juvenil. Natural de um time que não chegava a 23 anos em sua média de idade.

Excluam-se as selfies e Periscopes, recordemos, então, da alegria, dancinhas e estilos que tornaram-se tendências, da gola da camisa levantada ao corte de cabelo moicano. Lembremos das goleadas, 10 a 0 contra o Naviraiense, 9 a 1 contra o Ituano, 8 a 1 contra o Guarani. Ficamos com a média 3,1 gols por partidas na conquista do Paulistão.

– Goleadas, as famosas dancinhas, penteado extravagante e, o mais importante de tudo, a alegria. Além deles serem convidados pra programas famosos e sempre transmitirem alegria e fazer as pessoas se divertirem dentro e fora dos estádios – afirma Gustavo.

Em agosto daquele ano, o Chelsea faz uma investida de 20 milhões de euros por Neymar. O Santos bateu o pé. Para o bem do povo e felicidade geral da nação, o craque ficaria por mais algum tempo. Enquanto isso, alguns saíam. Wesley rumou ao futebol alemão, André ao ucraniano e Robinho transferiu-se ao Milan no segundo semestre de 2010. Mas, Neymar ficou. A sua Era, então, prosseguiria, a fim de um novo rumo, em busca de um grito libertador.

Libertação

Um novo e lindo capítulo pós-2010 foi construído no ano seguinte. Se a “Geração de 2002” bateu na trave quando o assunto foi conquistar as Américas, a capitania de Neymar Júnior entrou em ação em 2011.

Mas, no começo a barca estava furada. Nenhuma vitória nas três primeiras partidas e demissão de Adílson Batipsta e Marcelo Martelotti do comando da equipe. Chegou, então, Muricy Ramalho para colocar o time no prumo e o Peixe começou a dar os seus primeiros passos rumo ao tri da Libertadores ao vencer o Cerro Porteño, no Paraguai, mesmo sem Neymar, Elano e Zé Eduardo, suspensos. Mais outras duas vitórias na segunda metade da fase de grupos e classificação garantida ao mata-mata.

Nas oitavas de final, o Peixe livrou-se por um dia de fazer parte da noite mais sombria para os brasileiros na competição. Quatro dos cinco times do Brasil no torneio entraram em campo naquela quarta-feira, dia 4 de maio. O Santos foi o único que atuou um dia antes. Empate sem gols contra o América, no México, e classificação garantida devido a vitória simples no jogo ida, na Vila Belmiro. Enquanto os que jogaram no dia seguinte, foram eliminados.

Após isso, “O Último dos Moicanos” desbancou os adversários para colocar a bandeira do país do futebol pintada em preto e branco no topo das Américas em 2011. Um grito libertador. Libertadores. A primeira do Alvinegro Praiano, após a geração mais vitoriosa do clube, comandada por Pelé.

A conquista continental aquele ano foi a prova cabal da vida longa ao time do Rei, com ou sem ele.

* Sob supervisão de Vinícius Perazzini

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