Time ideal, personalidade e bom ambiente: 75 dias de Jair no Santos
Treinador chega em sua primeira decisão com o Peixe querido dentro do clube e próximo de escalação considerada ideal. Nesta quarta-feira, põe trabalho à prova na Vila
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Há 75 dias no comando técnico do Santos, Jair Ventura tem, nesta quarta-feira, às 19h30, na Vila Belmiro, sua primeira decisão no Alvinegro. Curiosamente, diante de um Botafogo, este de Ribeirão Preto e não mais o do Rio de Janeiro, precisa de uma vitória simples para classificar o Peixe às semifinais do Campeonato Paulista e começar a construir uma história de sucesso na Baixada Santista.
O LANCE! ouviu várias pessoas que fazem parte do dia a dia do clube alvinegro e todas foram só elogios ao treinador. Abaixo, a reportagem destrincha alguns dos pontos mais relevantes dos primeiros meses de trabalho do Jair Ventura no Santos, juntando fatos às características escutadas.
Conhecer para ser conhecido
Internamente, Jair é visto como um cara positivo e alto astral. De bem com a vida, conversa com todos de igual para igual, desde a comissão técnica até os demais funcionários. E, embora praticamente já tenha encontrado seu time ideal, usou a primeira fase do Campeonato Paulista para conhecer seu elenco, testando 31 jogadores. Por planejamento e por justiça, quis, na prática, saber com quem pode contar na hora do aperto. Ganhou a confiança dos jogadores.
E justamente a opção por rodar os atletas aponta para a personalidade forte do treinador. Deu prioridade à boa condição física dos jogadores sabendo estar abrindo mão, em parte, de vitórias e apresentações primorosas na primeira fase do estadual. Ficou suscetível à pressão, deu a cara a tapa, e agora espera colher os frutos de suas escolhas.
O time
O carioca de 39 anos penou, demorou, mas parece ter encontrado sua formação ideal. Numa espécie de 4-1-4-1, tem em Alison peça fundamental para o setor de marcação e conta com o dinamismo de Léo Cittadini e Jean Mota no meio-campo para ver fluir o jogo. Eduardo Sasha, inteligente, com boa noção de posicionamento e bom passe em profundidade, e Rodrygo, o jovem "rayo", completam o ataque com Gabriel, escalado como um centroavante.
O time de Jair, embora ainda tenha números pouco expressivos, é competitivo e na maior parte do tempo prefere propor os jogo. Além disso, sabe armar bons contra-ataques quando acuado. Foi assim em vitória importante contra o Nacional-URU, no Pacaembu, por exemplo. Recém-chegado, Dodô é o homem das bolas paradas.
Entretanto, na partida de ida contra o Botafogo, rival desta quarta, Jair foi questionado sobre uma postura diferente do Santos, mais defensiva e com poucas chances criadas. Em coletiva, admitiu não ter sido o melhor jogo do ano e citou o cansaço dos atletas como fator primordial para a queda de rendimento. Como ele mesmo costuma dizer, o excesso de jogos e o pouco tempo de treino "é como trocar o pneu com o carro andando".
Roupa suja se lava em casa...
Jair prefere resolver os pequenos problemas cotidianos do elenco sem expor seus jogadores. Foi assim com Gabriel, por exemplo. As suspensões consideradas bobas do camisa 10 não foram suficientes para Jair criticá-lo em público. Quando falou, fez elogios, ponderações e adiantou que o assunto seria tratado internamente. Com o camisa 10, inclusive, tem ótima relação. Antes mesmo de Gabriel se apresentar, já havia recebido uma ligação do novo professor, dizendo como gostaria de usá-lo.
Rodrygo, o "Rayo"
Após uma das primeiras boas atuações do garoto Rodrygo, de 17 anos, na temporada, Jair Ventura disse metaforicamente que queria saber se o Menino da Vila era um camisa "7 ou 17". Na prática, se era jogador para ser titular ou se era apenas peça para incendiar o jogo no segundo tempo. Aos poucos, o treinador percebeu duas coisas: a primeira delas é que o "Rayo" da Vila tem futebol para começar jogando,e a segunda diz respeito ao fato de que ajudar no desenvolvimento de Rodrygo no time profissional é uma de suas principais missões no Santos.
Aos poucos, o garoto, que já é xodó da torcida, aumenta seu tempo dentro de campo e caminha para se tornar protagonista. Tido como uma das maiores joias do clubes nos últimos anos, vê no treinador a figura de um "paizão". Após o jogo contra o Nacional, do Uruguai, concederam entrevista coletiva juntos e brincadeiras e sorrisos não faltaram.
Diretoria e reforços
Um dos primeiros esforços da atual diretoria foi justamente a contratação de Jair Ventura, apresentado dia 5 de janeiro. A multa rescisória junto ao Botafogo, de cerca de R$ 800 mil, era considerada altíssima para os vazios cofres do Peixe. Em sua chegada, Jair enalteceu o fato do Santos ter "bons meninos" e é transparente na pedida por reforços: ainda torce pela chegada de um meia-armador e um centroavante.
Nem mesmo divergências políticas entre os figurões do Santos ou as numerosas demissões feitas pelo clube no reajuste financeiro parecem afetar o trabalho do treinador que, quando teve de se reunir com seu elenco para falar sobre assuntos extra-campo, o fez sem alarde. É considerado um cara respeitoso, que sabe ouvir e de futuro promissor. Questionado sobre o trabalho de Jair, o gerente de futebol William Machado disse que "seria criminoso" julgá-lo antes de seis meses.
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