Derrota para Colón mostra: São Paulo pode virar vítima do próprio estilo
Faltou repertório ofensivo ao 'time de resposta' armado por Aguirre e a identidade aguerrida apareceu com excessos no nervoso segundo tempo do jogo no Morumbi
Após a Copa do Mundo, o São Paulo mostrou no Campeonato Brasileiro a identidade aguerrida tão buscada por Diego Aguirre e se firmou como "time de resposta", como o próprio técnico define, pela estratégia de abrir mão da bola e contra-atacar. Mas diante do argentino Colón, nessa quinta-feira, no Morumbi, esse estilo mostrou seu lado negativo: faltou repertório ofensivo para furar a retranca e a equipe se perdeu nos próprios nervos na derrota por 1 a 0.
No domingo, logo depois de vencer o Cruzeiro no Mineirão, Aguirre foi claro dizendo que o Tricolor não tem necessidade de ter a bola para ganhar porque sabe se defender e consegue triunfar aproveitando as características dos jogadores. Na prática, os velozes Rojas e Everton são o principal alvo de Nenê ou até de jogadas de pivô feitas por Diego Souza. E foi exatamente isso que não funcionou contra o Colón.
Everton é o exemplo de que as linhas de quatro defensores e cinco meio-campistas, bem próximas na intermediária defensiva, seguram o São Paulo. O ponta esquerda foi visto diversas vezes atuando pelo meio, comprometendo sua capacidade de finalizar, já que é canhoto, e acumulando erros que não costuma cometer. Para piorar, sua movimentação não servia nem para Reinaldo surpreender chegando de trás.
O Colón travou o São Paulo de todas as formas no primeiro tempo. Forçou a equipe de Aguirre a jogar mais pela direita, onde Rojas demorou a achar uma forma de incomodar e Militão errou demais quando ia à frente, até porque tinha a função de não dar espaço a Estigarribia, jogador do time argentino que ficava mais solto para puxar contra-ataques.
Aguirre, provavelmente, sabia como o Colón tentaria segurar o seu time e apostou em dois volantes mais soltos, com Bruno Peres e, principalmente, Hudson, que entrou com frequência na área, para surpreender os argentinos. Mas Hudson errou demais. O Tricolor melhorou no segundo tempo quando Nenê se mexeu para ter sempre a bola no pé. Foi assim que ocorreu a pressão que a equipe tanto buscava. E, também, o nervosismo apareceu.
A partida começou com atletas de Colón e São Paulo se cumprimentando a cada desarme feito pelo adversário, mas o espírito mudou à medida que o gol dos donos da casa não saía, nem mesmo com Aguirre colocando Shaylon e Gonzalo Carneiro, em uma formação ofensiva que teve Everton improvisado na lateral esquerda. A frustração dominou o Morumbi, e Diego Souza virou vilão.
O camisa 9 que discursou no domingo como um líder para acalmar os garotos que jogaram no Mineirão nem parecia ter 33 anos de idade. Desistia de jogar para discutir com a arbitragem desde o primeiro minuto. Virou um alvo fácil para a provocação dos argentinos e, independentemente de ter sido agredido, deu um pontapé que só não virou cartão vermelho porque o árbitro não viu. Mas instaurou um clima pesado que contagiou Brenner, normalmente tranquilo, e expulso com seis minutos em campo por empurrar um adversário logo depois de sofrer uma falta.
É, com méritos, um orgulho para Aguirre ter transformado o São Paulo em uma equipe na qual os jogadores disputam com firmeza a bola em todos os cantos do campo. Mas é necessário controlar esses nervos em momentos de frustração, como ocorre costumeiramente com equipes grandes que enfrentam retrancas. O Colón mostrou como pode segurar o Tricolor que virou forte candidato a título brasileiro. E os rivais certamente repetirão a tática argentina.