Raí: ‘Quando vejo injustiça social e vidas ameaçadas, eu falo’
Ídolo e diretor do São Paulo volta a citar a importância do isolamento social e a criticar a postura do presidente Jair Bolsonaro, além de manifestar-se a favor da democracia
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Ídolo e atual diretor de futebol do São Paulo, Raí voltou a criticar as ações do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia da COVID-19 e reforçou sua posição favorável à democracia em entrevista à RFI (Radio France International).
- Estamos enfrentando uma crise política, em que a democracia e os verdadeiros valores humanos estão sendo discutidos. O limite também, do autoritarismo entre os poderes. Agora, em uma democracia, precisamos do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e de um poder executivo. Minha postura é em favor da democracia, de viver em um país onde há um debate construtivo. Não me envolvo com polêmicas, mas quando vejo tanta injustiça social, que vidas estão sendo ameaçadas pelo vírus, eu falo. O presidente foi eleito democraticamente, mas você precisa ouvir a ciência, os especialistas e não colocar em risco a vida das pessoas - disse o ex-jogador.
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Raí já havia criticado a postura do presidente no fim de junho, quando chegou a falar em renúncia. A manifestação sobre política deixou algumas pessoas insatisfeitas dentro e fora do São Paulo, mesmo que ele tenha deixado claro na ocasião que tratava-se de uma opinião pessoal e não institucional. A maior crítica, mantida agora, é sobre o negacionismo à ciência e à importância do isolamento social para conter o vírus.
- A mensagem é confusa, claro, porque o presidente e seus apoiadores têm uma posição diferente, mas felizmente a Constituição garante aos governadores e prefeitos o poder de tomar as decisões. Governadores e prefeitos aprenderam, com os exemplos da epidemia na Ásia e na Europa, e também com os cientistas, com salvar vidas. É difícil para a economia, mas a saúde deve vir em primeiro lugar - disse Raí, antes de contar o que a sua Fundação Gol de Letra vem fazendo para minimizar o impacto da pandemia nas comunidades mais necessitadas.
- Há 22 anos, a Fundação Gol de Letra é voltada para a edução de jovens nas periferias de São Paulo, onde moro, e do Rio de Janeiro. Mas, neste momento de crise sanitária, adaptamos nossas atividades e estamos distribuindo cestas básicas, com alimentos para as famílias que sofrem com a fome. A fome nunca desapareceu do Brasil, mas nas grandes cidades, apesar das desigualdades sociais, era menos visível. A pandemia e o isolamento social, instaurado desde o início de março, tornaram urgente a ajuda para as famílias pobres que ficaram confinadas e sem recursos. Com o confinamento, todas as famílias dependentes de empregos irregulares no setor informal se viram sem nada. Sem renda e um auxílio do governo de difícil acesso. Distribuímos mais de 40 toneladas de alimentos. É por isso que lancei essa campanha de doações, especialmente na França - contou ele.
Embora cite efeitos negativos do isolamento social na economia, Raí mantém o posicionamento favorável a ele para que vidas sejam salvas.
- Nós, com a Fundação, defendemos o confinamento porque o sistema de saúde está sobrecarregado, não há mais lugares. Considerando as grandes desigualdades sociais no Brasil, temos alguns dos melhores hospitais do mundo, mas são privados e reservados para uma minoria. E os hospitais públicos, sem grandes recursos, são para a maioria da população. Espero que, diante dessa situação dramática, pensemos em uma sociedade mais justa em um futuro próximo.
O dirigente são-paulino ainda salientou que não é favorável ao retorno do futebol neste momento.
- Ainda não. Alguns clubes estão preparando seus protocolos sanitários, mas enquanto o número de vítimas estiver aumentando seria difícil ver a retomada do futebol. Além disso, vários estádios, como o Pacaembu, abrigam hospitais de campanha. Dirigentes, como eu, tentam planejar um retorno, mas não enquanto vidas estão em perigo. Somente quando tudo estiver sob controle.
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