Sair cedo do país, disciplina e força mental: Nenê conta suas dicas ao L!
Aos 36 anos, camisa 7 se assume como líder do elenco, usa sua carreira como exemplo para quem quer jogar no exterior, elogia Aguirre e diz o que falta para o São Paulo ser campeão<br>
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Nenê é um dos líderes do seu time do coração, e não esconde isso. Aos 36 anos de idade, o jogador indica aos companheiros como é aceitar ser negociado com a Europa muito cedo, elogia o técnico Diego Aguirre por sua disciplina e sabe exatamente o que o São Paulo precisa para voltar a ser campeão.
Nessa sexta-feira, o camisa 7 conversou por quase 30 minutos com o LANCE! no CT da Barra Funda. À vontade, expôs o momento do Tricolor e admitiu que aumentou sua importância com a troca de Dorival Júnior por Aguirre no comando da equipe, em março.
- Pensei que precisava ajudar também nessa parte, principalmente na parte mental. De passar que 'pô, tem tudo aqui, time bom pra caramba, elenco bom, vamos, temos tudo que precisamos, vamos nessa, temos de confiar'. Começou assim. Acredito que sou esse líder extra-campo - disse o jogador.
Confira abaixo a primeira parte da entrevista de Nenê ao LANCE! - a segunda será publicada neste domingo:
Você saiu do Brasil aos 22 anos de idade, trocando o Santos pelo Mallorca, da Espanha, em 2003. Atuou por 12 anos no exterior, mas acabou não jogando na Seleção. Que conselho você pode dar para jogadores como Militão, prestes a sair com 20 anos?
Cada situação é diferente. Se você tem a possibilidade de estar jogando em um time grande aqui, com estrutura e tudo que você precisa, ainda jovem, e com possibilidade de ir para a Seleção... Hoje, eu não iria. Na época, eu estava bem cotado, sendo convocado (para a Seleção Olímpica) e tal. Mas sei lá. Depende também. Se é um time na Europa, um sonho do cara, vai melhorar muito... O cara também tem de pensar na família dele. São muitas coisas que temos de pensar. É claro que temos de pensar no clube, primeiro, na gente e na nossa família. Depende de momento, time, país, contrato. São muitas coisas. Você fica sempre na cabeça que a carreira é curta e tem de aproveitar. Mas não pode ser assim de: 'pronto, eu vou'. Tem de ser com calma, bem pensado, colocar na balança realmente tudo, os prós e contra. Não é para falar: 'pô, é meu sonho ir para a Europa, então estou indo'. Eu fui assim. Não coloquei nada na balança, não pensei um ou dois meses, foi uma coisa muito rápida. São n situação, mas, se puder, tem de pensar com carinho, calma. Esse é o conselho que dou. Não falo para ir ou não ir, depende da situação. Eu estava jogando em time grande, titular, bem, com possibilidade de ir para a Seleção, que era o meu maior sonho. Depende do sonho de cada um, né? Mas Seleção é Seleção. Esse seria um dos fatores que me fariam pensar não duas, mas cinco vezes antes de tomar a decisão e sair tão novo.
Você sente que conseguiria uma sequência na Seleção se tivesse ficado no Santos?
Acredito que sim. Mas a gente nunca sabe, essa é a questão. Não dá para saber. Você acaba se machucando, não joga e deixa de ser convocado, aí pensa 'pô, perdi aquela chance (de ir para a Europa)'. Não tem como saber. Não me arrependo de ter tomado a atitude que tomei, quero deixar bem claro. Mas hoje, com a cabeça que tenho, eu demoraria um pouco mais, eu pensaria um pouco mais a respeito, colocaria as coisas na balança pra ver se seria aquele o momento certo.
Como você se vê no São Paulo? Você é uma liderança técnica e, também, fora do campo, com os outros jogadores?
Como tem muita molecada, e me dou bem com todos, a molecada tem um respeito muito grande, fico muito feliz. Eu me tornei esse líder fora de campo. No que eu puder ajudar, sempre falo com eles que estou aí para o que precisarem. Fico feliz de ter isso com tão pouco tempo de clube. Não tem muita gente mais velha, digamos assim, e estávamos em um momento difícil, de troca de treinador, tive que colocar isso. Foi uma coisa bem natural.
O Aguirre te elogiou, disse que você é comprometido, muito técnico, tem demonstrado seu valor e, por isso, é o único que participou dos 13 jogos com ele. Como é a relação de vocês?
Eu já o conhecia. Ele é um cara muito aberto, isso é muito bom para nós. Ele sempre pergunta a nossa opinião e, se pedimos algo, ele é bem aberto e tranquilo. É um cara com uma disciplina muito forte, era o que precisávamos dentro do clube. O bom dele é que dá importância para todos igualmente, seja com quem ele já conhecia, com quem joga, não joga ou nunca é convocado. Isso é muito bacana. Ele sempre frisa isso, até modificando alguns treinos para mostrar essa importância para quem não está iniciando os jogos.
Você já disse que o São Paulo precisava de disciplina e tinha uma lacuna de liderança que você preencheu. Certamente, o Aguirre percebeu tudo isso. Por te conhecer, ele conversou com você para te ter como uma espécie de aliado?
Conversamos um pouco sobre tudo. Que tínhamos de mudar a situação e a dinâmica. Ele já me conhecia e pediu para eu continuar do mesmo jeito. Sou um cara que gosta de ganhar tudo, nos treinos, no futmesa. Isso é bom, principalmente para a molecada, você ser um exemplo de determinação. Sempre procuro fazer isso. Naturalmente, conversamos. Já era uma coisa normal, para ajudar ao máximo no que puder. E, também, na língua. Ele já falava um pouco de português, aquele portunhol, dá para entender, mas, com alguma coisa que não dava para entender, eu traduzia.
Você tem feito uma série de elogios ao São Paulo. O que falta para ser campeão?
Temos esse potencial. O clube tem toda a estrutura necessária e um elenco bom. Só precisa colocar realmente isso na cabeça. Mentalizar: 'pô, podemos chegar'. Não é que a gente não tenha isso, mas temos de frisar, ter essa confiança. E saber que temos de melhorar sempre em alguma coisa. Não é para ficar no conformismo, achar 'já sou fera, está bom'. Qualquer um tem de melhorar. Até eu, que estou com 36 anos, tenho coisa para melhorar. Se colocar isso na cabeça, tentar a cada dia melhorar performance, intensidade, inteligência tática... É claro que precisamos de tempo, entrosamento. Mas poucos elencos são melhores do que o nosso no Brasil. Dá para conquistar coisas importantes. A Copa Sul-Americana temos muito em vista para conquistar, e imagina ganhar o Brasileiro com o São Paulo depois de tanto tempo...
Você acha que precisa ter mais força mental, então?
É. E entrosamento dentro de campo. Precisamos ter essa sequência. E falta pouco para a gente engrenar. Teve dois jogos que poderíamos ter ganhado e, se tivéssemos ganhado, seríamos líderes. Mas acabamos deixando empatar, contra Fluminense e Atlético-MG. Mas temos potencial para estar ali, entre os primeiros. Então, pô, vamos. É a chance da nossa vida. Quero ganhar um título importante para ficar marcado na história. Isso não tem preço.
O elenco enxerga tudo isso que você está falando?
Acredito que sim. Só precisa, realmente, colocar em prática. E mentalizar que a gente pode.
Falando nisso, o quanto incomoda ser invicto, mas ter quatro empates seguidos, inclusive jogando bem?
Incomoda pelo fato de a gente não ganhar. Só que depende a situação. Pô, fiquei muito p... contra o Fluminense (levou gol no fim), mas acontece, está fora de casa, não deixa de ser um resultado positivo. Agora, em casa, não. Temos de ganhar em casa. Se queremos estar ali mesmo, não podemos perder pontos em casa. Esses pontos que perdemos contra o Atlético-MG, por exemplo, temos de recuperar no próximo jogo fora de casa. Fico feliz pela invencibilidade, mas ela incomoda porque temos de ganhar também. Só empatando, não ganharemos nada. Em casa, principalmente, temos de ganhar.
Nesse seu raciocínio de obrigação de ganhar em casa, imagino que ainda esteja engasgado aquele empate diante do Atlético-PR, depois de abrir 2 a 0, na eliminação da Copa do Brasil, no Morumbi...
Muito. Muito engasgado. Estávamos com o jogo e a classificação na mão. Até no primeiro jogo mesmo, sofremos dois gols que poderíamos ter evitado, e perdemos por 2 a 1. Mas sabemos que, se melhorarmos algumas coisas, vai ser difícil ganhar do São Paulo.
Você acha, então, que falta ao São Paulo saber matar o jogo?
Isso! Tem isso também. Falta isso. Sempre falamos que tomamos o gol, mas o que falta é matar o jogo. Do meio para frente, tem jogo em que precisamos matar, fazer o segundo gol. Tem hora que dá para fazer e parece que mudamos. Não, temos de continuar da mesma maneira vencendo por 1 a 0. Conversamos sobre isso também. Estamos de acordo e não queremos mais que isso aconteça.
O que muda na sua função em campo com o time jogando com três ou quatro na defesa?
Não muda muita coisa, não. Quanto está na linha de quatro, tenho de voltar mais com o lateral se estou aberto. Com a linha de três, não precisa. Mas, se estou atrás do atacante, não diferencia se é linha de três ou quatro. Então, não tem muita diferença, não. Para mim, está de boa.
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