Ser como Bolt e ‘mirar o sol para ir às estrelas’: Hernanes dá suas lições
Profeta fala em paciência para o São Paulo atingir os objetivos no Campeonato Brasileiro e conta que está descobrindo características de liderança nessa luta para recuperar o time
Cada entrevista de Hernanes parece uma palestra, com metáforas para indicar o que passa por sua cabeça. E não foi diferente na manhã desta terça-feira, quando o Profeta atendeu a imprensa antes do treino no CT da Barra Funda. Com pedido de paciência, o capitão do São Paulo disse se inspirar no velocista Usain Bolt e tratou de falar que se manter na busca por 47 pontos, suficientes para não cair, não impede o time de ir à Libertadores.
- É possível (a vaga na Libertadores), sabemos que o fim do campeonato pode ser diferente. Mas a firmeza precisa ser mantida. É como falam: mirem o sol porque, se errar, estará nas estrelas. Se alcançarmos o objetivo o mais rápido possível, podemos começar um caminho para atingir outros objetivos. Não é necessário mudar agora o nosso foco. Vamos começar a trilhar caminho para objetivos maiores, mas ainda não é o momento. Paciência. Em alguns dias, começamos a falar do que querem. Vamos manter o foco. Um pouquinho mais de paciência.
Com esse pensamentos, e o foco nos 47 pontos desde a derrota para o Fluminense, no dia 18, o São Paulo saltou para a nona posição, a oito pontos da zona de rebaixamento e a quatro da faixa de classificação à Libertadores. E Hernanes, com nove gols em 16 jogos, é o símbolo da recuperação do time, embora ele prefira nem pensar em prêmios individuais.
- Aprendi a pensar e encarar essas coisas com o Usain Bolt. Ele nunca pensou em bater recordes, só queria correr o mais rápido possível e vencer. Quando recorde era quebrado, era cereja na torta. Era importante pensar em ganhar prêmios, mas precisa se dedicar e manter a consistência, a regularidade. O que vier no final, será um acréscimo. Essas coisas de análise de melhor contratação deixo com vocês, não faz parte do meu trabalho, penso no treino, o time que será escalado, se adaptar. Não cabe a mim falar se foi bom ou ruim. Estamos começando a viver momento feliz em um ano muito complicado e que parece estar se descomplicando no final.
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Busca pelos 47 pontos
Enquanto não atingirmos esse nosso objetivo, e não foi ninguém que nos colocou essa meta, temos de ser fiel no nosso objetivo. Depois que conseguirmos, nos próximos jogos, começamos a traçar novos objetivos. Independentemente do que aconteça, o que signifique isso, o objetivo está bem claro, são 47 pontos. E vamos tentar buscar o mais rápido possível, essa é a chave.
Chance pequena de ficar
Quando falei, pensei mais no clube chinês, tenho dois anos de contrato lá. Seria algo improvável de acontecer eu, com 32 anos, e alguém me comprar por um valor alto. Acho difícil essa transação, é mais viável o empréstimo. Mas não cabe a mim essa situação. E acho também que não acabou.
Copa do Mundo
Nunca deixei de pensar na Seleção, sempre foi um objetivo. Tudo que fiz nos últimos anos, foi buscando crescimento e atingir objetivos. Na Juventus, joguei pouco mais de um ano improvisado, como primeiro volante, como não gosto, mas evoluí, cresci. dentro de campo, apesar de dez anos no futebol, você aprende sobre futebol e você mesmo. Na China, foi muito importante, tomei posição muito diferente de tudo que já tinha feito, sempre me adaptei onde treinador quis. Na China, decidi qual seria minha posição para ajudar. Cada etapa, teve crescimento e autoconhecimento, e nunca deixei de pensar na Seleção. É um objetivo primordial, de primeira instância.
Prejuízo por ser curinga
Só tomei posição quando, realmente, passei por diversas situações, e me veio entendimento e autoconhecimento que me fez mudar de postura. Se isso tivesse acontecido antes, teria tomado decisão antes. Na Inter, estava de meia-atacante e muito bem, tanto que a Juventus me comprou, mas fui improvisado em outra posição por necessidade. Até depois lamentei ter aceitado jogar naquela posição. Mas tudo faz parte do processo. Essa foi a minha história. Precisei passar por todas essas posições, times e países para poder me encontrar.
Respeito ao São Paulo
Está voltando. No futebol, as coisas mudam muito rapidamente. A qualidade do time que coloca respeito e preocupação aos adversários. É como o time está jogando e se comportando em campo, independentemente da história. É uma faca de dois gumes. Contra o São Paulo, os caras têm motivação extra. Se não aprendemos isso e nos motivamos em equivalência, daremos vantagem ao adversário, porque a camisa do São Paulo faz o adversário se armar de forma muito grande. Se não tomamos respeito, o adversário toma proveito. Estamos recuperando resultados, e isso faz o adversário ter certo receio. Isso é bacana.
Lamenta tempo curto?
Nem penso em sair. Vocês pensam muito. Nem penso no futuro. Quando o momento é intenso, você não tem tempo para projetar, você vive. Não dá para fazer as duas coisas, ou você pensa ou você vive. Estou vivendo com intensidade, ainda não penso se o tempo é curto. Aproveito o momento, as coisas ainda estão começando a clarear, não podemos nos empolgar. Aos pouquinhos, estamos aproveitando.
Clima nos vestiários
Só estamos conseguindo ter reação porque, independentemente do momento ruim antes, nosso ambiente sempre foi muito bom, grupo não teve problema, tudo resolvido com transparência. Isso foi fundamental para começar nossa reação. É muito bacana que o grupo nunca se abalou, não deixou momento interferir na convivência. Se não estivéssemos bem, seria muito difícil. Há muito mais alegria, entusiasmo, risadas, cada um participa da sua maneira. Nunca fui muito de puxar essa questão, de fazer a galera se divertir, mas é um momento tão feliz que as coisas mais simples acabam sendo motivo de descontração, de dar risada. Estamos aproveitando cada detalhe para estar bem.
Chapecoense
Precisaremos estar muito atentos. Veio no Allianz Parque e ganhou do Palmeiras, fez jogos que ninguém esperava e fizeram resultado. É um adversário perigoso, fazendo seu caminho. Vem jogar com tranquilidade, porque não estão tão pressionados. Vão jogar um pouco mais descontraídos, precisaremos ter cuidado. São fortes e podem causar danos.
Ausência de Cueva
O Cueva tem sido muito importante, decisivo, apesar da pouca idade, tem experiência grande. Consegue segurar a bola, ter passe de qualidade, tem visão de jogo muito boa. É uma perda considerável. Mas, no elenco, temos peças suficientes para dar conta do recado no lugar dele. Provavelmente, a partir de hoje Dorival posiciona quem vai entrar no lugar, mas quem entrar dará continuidade ao trabalho.
Importância no São Paulo
É engraçado, porque, até o Pratto me conceder a faixa, eu não esperava. Sempre fui um cara na minha, tímido, não falava muito, tinha minha maneira particular de pensar, e às vezes era diferente da maior parte da galera. Sempre fui muito tranquilo. Fiquei meio curioso de ver como levaria ao assumir esse posto de capitão. Talvez eu tenha encontrado, mesmo vendo como sou, um lado de me colocar sem ser diferente do que sou. Consegui ter uma liderança que vem com experiência, idade, resultados, boas performances, dedicação aos treinos. Isso vale mais do que qualquer palavra, é o seu exemplo como profissional e apaixonado pelo futebol. Sobre os números, se eu não estivesse, outro poderia dar contribuição. Se está no São Paulo, tem qualidade suficiente para realizar coisas boas.
Artilheiro
É muito legal quando você toma postura e as coisas acontecem no mesmo caminho. Na China, após me encontrar e tomar decisão de que, daquele momento em diante, eu entraria em campo para realizar o que mais sei fazer: finalizar. Minha maior habilidade é o chute. Queria entrar em campo para colocar isso para fora. Graças a Deus, em pênalti, falta, de alguma maneira, as coisas têm acontecido. É bacana ver esses resultados. Tudo começa com postura e qualidades. É bem bacana esse momento.