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Socialista e cantor: ‘Patón’ Bauza é a aposta do SP para revolucionar time

Treinador argentino foi contratado para dar outra cara à equipe em 2016. Apaixonado pelo Rosario Central, ele tem gosto pela política e pelo rock e já se arriscou nos microfones

O técnico argentino Edgardo Bauza é conhecido em seu país como Patón
imagem cameraO técnico argentino Edgardo Bauza é conhecido em seu país como Patón (Foto: JUAN MABROMATA/AFP)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 20/12/2015
20:36

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Edgardo Bauza talvez ainda nem saiba, mas há em sua posição política o maior anseio dos dirigentes do São Paulo que foram buscá-lo em Quito, capital do Equador. O clube diagnosticou que precisa de uma revolução no futebol apresentado pelo time. E, provavelmente sem saber, entregou a missão de implantá-la a um socialista de 57 anos, obcecado por futebol e que entrou para o Partido Socialista ainda jovem para provar que jogador não se limita à bola.

A política não diz respeito apenas à personalidade do senhor argentino, mas de sua forma de pensar o esporte. A devoção pelo espírito coletivo flerta com o comunismo. O São Paulo, em busca de resgatar valores, aplaudiu e resolveu apostar no técnico que será apresentado na próxima quarta-feira e comandará a equipe em 2016.

Além do currículo (duas Libertadores por LDU e San Lorenzo) e a forma de encarar o jogo, seduziu o São Paulo o respeito de Bauza pela história do clube. O contrato de um ano foi firmado no primeiro encontro, após conversas por telefone com o diretor-executivo Gustavo Oliveira. O argentino já se mostrou ansioso para assumir o desafio de fazer sucesso no Brasil.

O abominável Patón de Rosario
Bauza é um apaixonado e passa isso aos atletas. Não admite que seus comandados não estejam focados em vencer. Também pudera: nasceu e criou-se em Granadero Baigorria, cidade próxima de Rosario, de onde vem talvez a maior rivalidade do futebol argentino, uma das maiores do mundo: Rosario Central x Newell’s Old Boys. Foi torcedor, zagueiro (dois títulos Argentino), treinador (semifinal de Libertadores) e ídolo do Central. Não há relação com o rival. É sagrado ao ponto de essa ligação interferir nos relacionamentos da filha Emiliana, única mulher dos três herdeiros – tem Nico, de dois anos, e Maximiliano, que trabalhava com ele no San Lorenzo.

– Embora o futebol não seja prioridade para ela, sabe que se chegar em casa com um torcedor do Newell’s a vida fica complicada – afirmou, em entrevista em 2011, para a El Gráfico, da Argentina.

O recado em tom de brincadeira deve assustar vindo de um homem que desde criança é grande, muito grande. Aos 13 anos, o “Patón”, apelido herdado do irmão mais velho que perdura até hoje, calçava 42. Aos 15, 45. A anomalia o colocou em apuros mais tarde. Um dia, o hotel onde o time estava concentrado foi assaltado e levaram todo material dos jogadores. A partida se aproximava e em que fim de mundo se encontraria calçado para aquele pézão? Bauza não jogou e passou a levar um par reserva para as partidas.

O porte físico, todavia, o ajudou em campo. É dono de um feito invejável. Marcou 108 gols, sendo o quarto defensor com mais tentos na história do futebol, marca que rendeu uma das histórias mais pitorescas.

Em 1999, Bauza foi surpreendido com o telefonema de um sujeito se dizendo representante da Fifa. A entidade máxima do futebol queria homenagear os defensores-artilheiros e a pessoa queria saber para qual endereço enviaria as passagens para o argentino receber o prêmio, ao lado de outras lendas como o holandês Koeman e seu compatriota Daniel Passarella. Desconfiado, o treinador achou tratar-se de uma brincadeira e passou o endereço de um amigo. Depois de alguns dias, as passagens chegaram. Bauza só acreditou na história depois de se certificar com um amigo agente de turismo. Não pôde ir à Fifa, mas ganhou um diploma e uma história que sempre é lembrada na imprensa argentina.

O São Paulo será o décimo clube que o técnico Edgardo Bauza irá comandar
O São Paulo será o décimo clube que o técnico Edgardo Bauza irá comandar (Foto: ALEJANDRO PAGNI/AFP)


Cantor e rock n’ roll
Patón é um fã de rock pesado. Se diz muito mais Rolling Stones do que Beatles, definição dada em entrevista ao diário “Olé”, da Argentina, dias antes do Mundial de Clubes de 2014, quando perdeu a final para o Real Madrid – em 2008, pela LDU, caiu para o Manchester United.

A paixão pela música gerou um episódio que atesta o carisma do treinador que, assim como Juan Carlos Osorio, seu antecessor estrangeiro no São Paulo, é chamado de “Profe”.

Em 2000, quando dirigia o Rosario, Bauza foi convidado pelo cantor Adrián Abonizio a gravar uma canção para um álbum de homenagens ao clube, a fim de arrecadar fundos. Hesitou, mas acabou topando e soltou a voz em “Patón y conductor“, cujo resultado pode ser visto acessando o Youtube. Bauza odiou.

– Tentei de tudo para não ir até que me levaram a um estúdio e me fizeram cantar. Para mim, foi um papelão, sou horrível – brincou depois.

Viva la revolución!
Bauza iniciará sua trajetória no São Paulo na quarta-feira, quando será apresentado e concederá sua primeira entrevista coletiva. Quem conversou com ele relata um sujeito comunicativo, educado, mas firme. Patón nunca foi de dar mole, embora se arrependa de não ter arrumado briga em 1998, quando perdeu a final da Conmebol para o Santos.

'Me roubaram. Hoje não se repetiria, porque armaria um escândalo', Bauza, sobre a final da Conmebol de 1998, contra o Santos

O argentino diz que, no jogo de ida, na Vila Belmiro, o então presidente santista Samir Abdul-Hak teria ido ao vestiário intimidar o árbitro, que depois expulsou três jogadores do Rosario, dois do Santos, e marcou um pênalti para os mandantes.

Na volta, na “Batalha de Rosario“, disse que era para ter agredido Leão, técnico santista que estava suspenso e apareceu no campo.

– Me roubaram. Hoje não se repetiria, porque armaria um escândalo.

Assim, hasta la victoria siempre!

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