Luiz Gomes: ‘Arrogantes como sempre, cartolas apostaram e perderam em Brasil x Argentina’
'Essa gente sempre considerou que o futebol é um mundo à parte'
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Ninguém é santo no circo de horrores que foi o cancelamento da partida entre Brasil e Argentina. Sobram vilões nessa história. Mentiu o tal funcionário da AFA (Federação argentina), Fernando Ariel Batista, que, como mostrou o blog do jornalista Octávio Guedes, no G1, preencheu os formulários de entrada da delegação porteña omitindo a passagem pela Inglaterra dos jogadores Emiliano Martínez, Emiliano Buendía, Cristian Romero e Giovani Lo Celso.
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Foi no mínimo dissimulado o técnico Lionel Scaloni - dando eco à cartolagem - ao dizer que jamais havia sido avisado de que o quarteto de seus comandados não poderia entrar em campo por estar em situação irregular no país.
Foram ingênuos – intencionalmente ingênuos, o que é mais provável - os que consideraram que um acordo assinado antes da Copa América, e antes das atuais restrições a viajantes, por consequência, poderia garantir a livre entrada de quem passou pela Inglaterra.
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Erraram, por fim, os que não pediram a autorização especial que permitiria a entrada dos jogadores, em caráter excepcional, ainda que não cumprindo os protocolos sanitários, como tem acontecido em outras atividades e eventos, inclusive envolvendo o próprio futebol.
Mas o problema maior do que essa sucessão de equívocos.
Ao ignorarem as recomendações da Anvisa, apesar de sucessivos contatos no sábado e no domino, nas horas que antecederam a partida, ainda no hotel onde estavam os hermanos, CBF, AFA e Conmebol fizeram uma aposta: a de que nada aconteceria depois que a bola começasse a rolar, que o assunto ficaria para depois, para ser discutido nos gabinetes e que sujeira, como de costume, seria varrida para baixo do tapete.
Perderam feio!
Sim, essa gente, sempre considerou que o futebol é um mundo à parte. Que só deve respeito e precisa seguir as próprias regras. Isso começa na Fifa, com a esdrúxula e histórica posição de proibir que clubes e confederações recorram à justiça comum de seus próprios países, mesmo para resolver questões que nem sempre são de alçada exclusiva da justiça desportiva. Passa também pela Conmebol, sempre tolerando, por mais que o discurso seja o contrário, atos de violência, racismo e xenofobia registrados nas Libertadores da vida e nunca punidos com o rigor que merecem.
Essa pandemia deixou ainda mais à mostra essa arrogância da cartolagem. A demora em suspender os campeonatos – o Brasileirão foi um dos últimos no mundo a parar quando o coronavírus explodiu - e a realização da Copa América no Brasil na base do improviso e embalada pelo negacionismo do governo daqui, sem o mínimo planejamento são apenas exemplos dessas condutas bizarras. Sem falar na pressão para a volta do público aos estádios, mesmo em países ainda com alto grau de contaminação.
O episódio da Neo Química arena, portanto, está longe de ser único, apenas extrapolou, levou ao limite a regra que rege o jogo da cartolagem.
Houvesse um mínimo de seriedade e a Fifa não precisaria aguardar acontecimentos, como anunciou que vai fazer, para decidir esse caso: a Argentina, que se recusou a continuar o jogo, levando a suspensão pelo pela arbitragem de campo e os delegados da Fifa, tem de perder o jogo por W.O. O funcionário que falsificou as declarações em nome dos jogadores precisa passar por processos na comissão de ética e ser punido como deve. Ou será que falsidade ideológica e ameaça à saúde pública não ferem o código disciplinar da cartolagem? Mas, vamos combinar, é esperar demais que o roto faça algo com os esfarrapados.
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