Sob o ponto de vista sanitário já se falou tudo e mais um pouco do quanto essa Copa América no Brasil é absurda. Mas tem outro buraco nessa história. Com o país quebrado, comemorando um pibizinho a mais e sem recursos para pagar um auxílio-pandemia decente, o governo decide gastar os tubos para promover um torneio mambembe.
Sim, quanto não vai custar essa brincadeirinha? Ainda que se consiga montar as tais bolhas sanitárias para não contaminar jogadores e a população, quanto isso vai custar? O uso dos estádios públicos, manutenção, iluminação, estrutura de atendimento médico, aparato de segurança, esquemas de trânsito, despesas de transporte das delegações, nada disso vai ser pago pela CBF ou a Conmebol.
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Ainda mais com os estádios vazios, sem a receita da venda de ingressos, quem vai pagar essa conta é você, somos todos nós. Especialmente os milhões, cada vez mais, que não têm o que comer e se espalham por ruas e avenidas desse país.
Ah, mas o Campeonato Brasileiro está rolando, a Copa do Brasil, a Libertadores. Sim, mas questões sanitárias de lado, que é o que estamos discutindo aqui, são torneios privados e que não envolvem dinheiro público. E fazem parte de um calendário que, bom ou ruim, já estava estabelecido.
Ah, mas as Olimpíadas de Tóquio vão rolar mesmo sem ter turistas, também vão dar um prejuízo grande. Sim, mas a economia japonesa, apesar da crise, vive em outro patamar. E o Japão se esforça para honrar compromissos assumidos há anos. E que têm custos altíssimos de rescisão. Bem diferente daqui, quando o país assume custos e responsabilidades de última hora com os quais não tínhamos absolutamente nada a ver. Não há termos de comparação, portanto.
A quem interessa, então, a Copa América tupiniquim? Tite e os seus jogadores já deixaram claro que são contra. Podem tomar, na terça-feira, após o jogo com o Paraguai, a atitude histórica de recusarem-se a participar. Jogadores de outros países também já demonstraram desconforto. E economistas, sanitaristas, a maior parte dos governadores também já disseram não.
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A Copa América só interessa a quem deve alguma coisa. Para Rogério Caboclo e Jair Bolsonaro é uma tentativa de desviar atenções. Do escândalo de assédio moral e sexual na CBF e da responsabilidade por 500 mil mortes que se aproximam e devem chegar em plena disputa da taça. Mas enganam-se os dois ao achar que o futebol ainda é o ópio do povo.
Antes da Copa de 2014 manifestantes vestidos de verde e amarelo saíram às ruas gritando que não ia ter copa. Que o Brasil precisava de hospitais e não de estádios de padrão Fifa. Que ironia! Agora, são os mesmos que defendem a Copa América em alguns dos estádios que foram feitos naquela época. E que ignoram a falta de hospitais para internar pacientes e salvar vidas em uma pandemia que parece não ter fim.