Recordar é viver: há 50 anos o Brasil batia Uruguai; rumo à final da Copa
O fantasma de 1950 estava definitivamente enterrado. Em jogo violento e dramático, com gols de raça e Pelé fazendo das suas, a Seleção fazia 3 a 1 no Uruguai. O tri era logo ali
Há 50 anos, no dia 17/6/1970, na semifinal da Copa do Mundo do México, o Brasil derrotou o Uruguai por 3 a 1, em Guadalajara, e deu duas incríveis alegrias para o seu torcedor: conseguiu acabar o fantasma Celeste que vinha desde a derrota na final do Mundial de 1950 e arrancou a classificação para a decisão contra a Itália, rumo ao tri, para ficar definitivamente com a Taça Jules Rimet. O triunfo foi de virada: Cubilla marcou para a Celeste e Clodoaldo ainda empatou no primeiro tempo. Na etapa final, Jairzinho e Rivelino definiram o 3 a 1, que também ficou marcado por jogadas inesquecíveis de Pelé. Este é o jogo que o LANCE! relembra.
O jogo
Esta foi a segunda partida em que o Brasil entrou em campo com os 11 que ficaram eternizados na história: Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Pelé e Tostão. Vale lembrar que esta foi a escalação no 4 a 1 da estreia contra a Tchecoslováquia (hoje República Tcheca). No 1 a 0 contra a Inglaterra, Gérson não jogou. No 3 a 2 contra a Romênia, Rivellino e, mais uma vez, Gérson, ficaram de fora. Já no 4 a 2 sobre o Peru, o selecionado não contou com Everaldo.
Enquanto o Brasil vinha de quatro vitórias convincentes, o Uruguai chegou à semifinal aos trancos e barrancos. Um triunfo insosso contra Israel (2 a 0), empate arrancado na retranca com a Itália (0 a 0) e derrota para a Suécia (1 a 0). Se tivesse perdido por dois gols, estaria eliminado. Já nas quartas, a vitória sobre a URSS (atual Rússia) foi por 1 a 0, só no fim do segundo tempo da prorrogação. Por isso, o 'Éscrete Canarinho' era o favorito.
Só que na prática não era bem assim. Talvez por causa da comoção de torcida e imprensa, diante do jogo da forra do Maracanazzo, o Brasil começou mal, viu o Uruguai truncar o jogo e chegar ao primeiro gol quando Brito errou um passe fácil, deixou a bola nos pés de Morales e este lançou para Cubilla. O atacante recebeu na área pela direita e chutou todo sem jeito, fraquinho. Era uma bola fácil para Félix defender, mas o goleiro cometeu uma falha incrível, quase um frango.
O jogo estava complicado. O Uruguai se fechou e começou a bater. Eu falei que, no jogo da Romênia, o Brasil apanhou muito? Nem se compara com o que os jogadores sofreram contra os uruguaios. Eles entravam para quebrar Carlos Alberto, Rivellino, Jairzinho, uma catimba danada. A situação estava tão crítica que o Brasil começou a bater também. Carlos Alberto entrou para quebrar Morales
E foi nessa guerra que, sem jogar bem, o Brasil empatou quando, aos 44 minutos, Clodoaldo, que era um volante que quase não avançava, fez uma troca de posição com Gérson, tabelou com Tostão pela esquerda, recebeu dentro da área e tocou de primeira. Um gol que enganou toda a defesa do Uruguai. O Brasil seguia para o intervalo com o placar em 1 a 1.
No segundo tempo, o Brasil voltou com a faca entre os dentes, para jogar bola. Pelé fez uma jogada incrível, driblando quatro e sendo derrubado na linha da área. Muitos pediram pênalti. Nessa jogada, o zageuri Fontes pisou na perna do Pelé. Alguns minutos depois, o 10 atacando pela esquerda, percebeu que Fontes iria pegá-lo na perna e arranjou um jeito de dar uma cotovela na cara do Uruguaio. Era lance para expulsão, mas foi tão na moite que o Pele, além de arrebentar a cara do uruguaio ainda teve a falta marcada a seu favor, Pelé aias, ainda deu uma outra cotovelada no jogo.
O árbitro espanhol José Maria Mendibil não agia à altura do necessário para controlar a partida. Ele só dava um ou outro cartão amarelo. Ao todo, apenas 4 num jogo com mais de 20 lances violentos.
A partir do segundo tempo, Jairzinho começou a usar velocidade para escapar das botinadas. E foi o Furacão o responsável pela virada. Aos 30, ele recuperou uma bola quase na área do Brasil, partiu com tudo e tocou para Pelé no meio do campo. O rei deu para Tostão, que fez um lançamento rasteiro para Jairzinho, que não tinha parado de correr. O camisa 7 deu um drible de corpo no uruguaio Matosas, entrou na área e chutou rasteirinho na saída de Mazurkiewicz.
O Uruguai foi para cima e continuou batendo. Zagallo chegou a entrar em campo para reclamar do juiz (nem amarelo levou). Félix se redimiu fazendo uma defesa incrível numa cabeçada à queima-roupa de Cubilla. Enfim, aos 44 - e só aos 44 - veio o gol do alívio. Numa jogada de Pelé pela esquerda, o rei foi levando até entrar na área e tocar para o arremate de Rivellino, quase na linha, pela esquerda. O chute rasteiro cruzado bateu na trave esquerda de Mazurkiewicz e morreu no gol. 3 a 1.
Já nos acréscimos houve tempo para uma jogada memorável de Pelé. Num contra-ataque, ele recebeu de Tostão, livre pelo centro do ataque, diante de Mazurkiewicz. O goleiro veio com tudo para abafar ou fazer falta, mas Pelé abriu as pernas e deu o drible de corpo mais famoso da história, deixando o goleiro perdido e pegando a bola para um chute cruzado. A bola passou raspando. Este é considerado um dos lances mais fantásticos da história do futebol.
BRASIL 3 X 1 Uruguai
Jogo 5 da Seleção na Copa 1970 (Semifinal)
DATA: 17/6/1970
LOCAL: Estádio Jalisco, Guadalajara (MEX)
Público: 51.261
Árbitro: José Maria de Mendibil (ESP)
Cartões Amarelos: Carlos Alberto (BRA), Fontes, Maneiro e Mujica (URU)
Brasil: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Pelé e Tostão. T: Zagallo
Uruguai: Mazurkiewicz; Ubinas, Ancheta, Matosas e Mujica; Montero, Maneiro (Esparrago, 32'2T) e Fontes; Cubilla, Cortez e Morales T: JUan Hohberg.
Gols: Cubilla, 19'/1T (0-1), Clodoaldo, 44'/1T (1-1), Jairzinho, 30'/2T (2-1), Rivellino, 44'2T (3-1).