‘Tite por Dunga pode ser seis por meia dúzia’
Luiz Fernando Gomes, editor-chefe do LANCE!, analisa cenário da Seleção Brasileira
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Tite tem uma história como treinador. Do minúsculo Guarany gaúcho ao Corinthians campeão do mundo, construída passo a passo. Dunga não. Foi inventado pela CBF e com a CBF morre abraçado.
Tite, por onde passou, conquistou os jogadores por sua capacidade de ser líder. Dunga não. Não raramente se impôs pela força, não pela autoridade.
Tite tem a capacidade de mudar, definir o esquema de jogo pensando no elenco que tem em mãos, adaptar o time de acordo com o adversário que vai enfrentar. Dunga não. É teimoso. E refém de suas crenças.
Tite muda o andamento de um jogo com uma única substituição. Dunga não. Está sendo trocando alhos por bugalhos. Como na eliminação do Brasil para o Peru nessa Copa América Centenário, quando acabou o jogo com duas substituições não feitas.
Tite ganhou Brasileiro, Libertadores, Mundial de Clubes. Dunga ganhou o superclássico das Américas.
As diferenças não são poucas. É quase como ter uma pena e um chumbo dos dois lados da balança.
Mas tudo isso pode ser muito pouco. O problema da seleção e do futebol brasileiro não se esgota em Dunga. E Tite não poderá resolvê-los.
A continuidade de práticas obscuras, os interesses privados de Teixeira, Marin e Del Nero, a falta de apoio às divisões de base, a insistência em um calendário anômalo, a subserviência dos clubes ao poder da CBF, a falta de gestão profissional e empresarial, a inexistência de uma liga nacional autônoma, o amadorismo disseminado por todos os níveis não se resolve com Dunga ou com Tite. Nem com Guardiola, Sampaoli ou Jesus Cristo.
Tite sabe disso. Tanto que assinou o manifesto que, ano passado pedia a saída de Del Nero. Talvez seja isso que esteja o levando a refletir tanto.
Sem mudanças estruturais verdadeiras não se poderá resgatar a escola brasileira de bom futebol. E os resultados – ainda que melhores pela capacidade de um sobre outro – serão apenas efêmeros. O risco é que Tite por Dunga seja, no final da história, uma troca de seis por meia dúzia.
* Por Luiz Fernando Gomes, editor-chefe do LANCE!
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