A vitória do Brasil diante do Uruguai, na última sexta-feira, representa um 100% de aproveitamento de Tite após a eliminação na Copa do Mundo da Rússia. No Emirates Stadium, Neymar marcou, de pênalti, o gol do triunfo, mas a atuação da Seleção não transmitiu confiança, excluindo alguns momentos no segundo tempo. O LANCE! traça o panorama do desempenho brasileiro.
Primeiro tempo: Roberto Firmino se movimenta, mas ninguém acompanha
Sob o comando de Jürgen Klopp no Liverpool, Roberto Firmino atua, em teoria, como o principal atacante da equipe. Na prática, porém, é comum ver o atleta saindo da área, possibilitando a entrada de Salah ou Mané na área, jogando, de fato, como um "camisa 10", que busca carregar a bola desde o meio-campo.
No Emirates, Firmino tentou repetir essa situação, mas não obteve o mesmo sucesso, já que o restante dos jogadores não acompanharam os movimentos. Algo natural, pensando em uma possível falta de entrosamento de uma equipe que se encontra praticamente uma vez por mês.
Neymar, que está atuando em uma posição mais central no PSG, fazia sempre esse movimento de sair dos lados e ir para o meio, em diagonal. Douglas Costa, do outro lado, tentava fazer movimentos diagonais apenas quando estava com a bola em seus pés, sem se mexer sem estar com a posse da bola. Resultado: Firmino deixava a área, mas ninguém - na maioria das ocasiões - fazia outro movimento, o que resultava em um pragmatismo dentro de campo.
Filipe Luís aparece bem na etapa inicial
Taxado por ser um lateral que apenas defende, Filipe Luís provou, mais uma vez, que pode ser uma interessante opção ofensiva para Tite. De fato, o atleta é um bom marcador, mas seu jogo não fica limitado apenas à marcação. No primeiro tempo, o camisa 6 sempre subia quando Neymar saía do lado para o meio, se tornando uma espécie de ala pela esquerda.
Essa movimentação foi chave para as pretensões do Brasil no primeiro tempo, já que essas trocas de posições entre Filipe Luís e Neymar foram importantes para confundir a defesa uruguaia e, por consequência, deixar o camisa 10 com liberdade. Com bons passes, o atacante do Paris Saint-Germain tentou criar algumas oportunidades, mas, no fim, nada foi tão efetivo para o Brasil.
A marcação do Uruguai na etapa complementar melhorou, assim como toda a equipe, e, diante da forte pressão na saída de bola brasileira, Filipe Luís não conseguiu aparecer como uma forte opção para compensar os avanços em diagonal de Neymar. Em âmbito geral, porém, a atuação do camisa 6 foi acima da média, o que pode dar uma dor de cabeça para Tite em futuras escalações.
Faltaram ações ofensivas
Com uma postura diferente em relação à Copa do Mundo, com uma equipe de jogadores com menor capacidade de infiltração, mas com a maior presença de atletas que sabem ler os espaços dentro de campo, o Brasil se tornou um time mais seguro, melhor postado na defesa, o que explica não ter levado nenhum gol no pós-Copa, mas que pena para construir chances no ataque.
O jogo passa demais pelos pés de Neymar. Naturalmente, já que é o principal jogador da equipe e vem mostrando, nos jogos dessa temporada, ser capaz de distribuir passes desde o meio-campo para o ataque, sendo um ponta que arma e cria o jogo. Para isso, porém, precisa de companheiros de ataque que façam corridas atrás dos zagueiros adversários - e, como citado anteriormente, Roberto Firmino e Douglas Costa não fizeram esse tipo de movimentação.
O desempenho brasileiro é um tanto quanto burocrático, já que a canarinho muitas vezes está com a bola no pé, mas pouco consegue produzir de forma efetiva. Como o jogo passa na maioria das vezes por Neymar, o esperado é criar um sistema que favoreça seu desempenho em campo e, para isso, um ataque mais dinâmico, com a possibilidade de triangulações e movimentações para criar um passe que rompe as linhas de marcação, é necessário.
Estreia de Allan foi a chave para o triunfo da Seleção
Nos primeiros 45 minutos, Renato Augusto e Arthur, por partilharem, em parte, do mesmo estilo de jogo, se confundiram muito em campo, não oferecendo as movimentações que o meio-campo precisava para ajudar o ataque. A saída do camisa 8, que não jogou mal, marcou a estreia de Allan vestindo a camisa verde e amarela, o que foi essencial para a construção da vitória.
Com Allan, o Brasil encontrou o equilíbrio que tanto buscou durante o primeiro tempo. A bola chegou do meio-campo ao ataque de uma forma mais dinâmica, o que ajudou a equipe de Tite a criar chances de gol, ainda mais aproveitando uma postura mais ofensiva do Uruguai na etapa complementar.
O jogador do Napoli e Richarlison foram os dois jogadores que entraram no segundo tempo e ajudaram a Seleção Brasileira a melhorar sua produção em campo. O primeiro, pelas já citadas conduções de bola, melhorando a transição entre os setores de meio-campo e ataque, e o segundo por oferecer aquilo que Neymar precisava: corridas para receber a bola por trás da defesa - em uma dessas, o atacante do Everton quase marcou após receber um lançamento.