Prostitutas temem efeito negativo da Copa em BH
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Em entrevista ao blog 'Copa Pública', Maria Aparecida Menezes Vieira, uma das fundadoras Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), disse temer o processo de supervalorização de sua área de atuação devido aos empreendimentos resultantes da Copa do Mundo de 2014.
Cida, de 46 anos, trabalha há mais de 20 anos na Rua Afonso Pena, ponto de maior movimento entre as profissionais do sexo da capital mineira. Com a subida de prédios e hoteis, dentre eles um de propriedade do empresário Roberto Justus, Maria Aparecida teme que muitas fiquem sem teto, já que o prédio fará com que muitas pessoas tenham de ser removidas.
- Já fomos à Prefeitura perguntar o que será feito de nós, mas ninguém responde. Vão querer nos varrer, né? Nos esconder dos gringos. É assim que sempre fazem. Que fique muito claro: exploração sexual de adolescente e criança é crime. Nós lutamos por respeito e condições dignas para as profissionais do sexo - disse Cida
Confira partes da entrevista ao 'Copa Pública':
Como o anúncio da Copa do Mundo afetou o trabalho de vocês?
Temos medo de que com esse falso moralismo e com essa higienização do centro da cidade, eles fechem os hoteis, tirem as mulheres, queiram nos esconder. A gente briga para que as mulheres possam participar dessa revitalização. Que não mexam com essas trabalhadoras como tem acontecido nas outras cidades que vão receber a Copa. Desde que começaram as obras do hotel Golden Tulip tivemos uma reunião na Prefeitura de Belo Horizonte, mas ainda nada aconteceu. Se tirarem essa mulheres, que estão lá há tanto tempo, para onde elas vão? É sempre assim, os mais pobres são os que sofrem. A gente luta pelo direito de estar, permanecer e sermos respeitadas.
Vocês tiveram uma audiência com o Ministério Público?
Nós fizemos uma proposta de audiência pública no Ministério Público Federal, junto a outros movimentos de excluídos da Copa. Mas estamos aguardando.
E sobre o Hotel Golden Tulip? Quando vocês tiveram conhecimento disso?
As coisas acontecem do dia para a lua. Nós sabemos que estão sendo feitas reuniões no município com vários comércios, lojistas, é um projeto que não sabemos muito bem quem está por trás. Tivemos uma conversa com o secretário da prefeitura para saber mais a respeito mas ele não nos informou.
O que você acha que vai acontecer com essa revitalização?
Estamos com medo. Não sabemos para onde vamos. A prefeitura dizer que vai dar um espaço para a gente trabalhar não vai acontecer, a gente sabe que isso é ilegal. Estamos só por nossa conta mesmo.
Com a chegada da Copa, a preocupação com o aumento do tráfico de pessoas e da prostituição infantil aumenta. E muitas vezes isso é usado também contra as prostitutas. Como vocês lidam com isso?
É claro que temos sofrido mais pressão por causa da Copa, temos sido marginalizadas. Mas vamos começar com a questão da exploração: exploração sexual de criança e adolescente é crime. Nós denunciamos. Aí vem o conselho tutelar, pega as meninas, chama a mãe, mas no dia seguinte elas estão lá de novo. Porque precisam trabalhar, porque vivem na miséria e não têm para onde ir. A questão do tráfico de pessoas… Será que se legalizasse a profissão, isso não acabaria? Porque seria um campo de trabalho. Mesmo o estupro (das profissionais do sexo) diminuiria. As pessoas precisam entender que nenhuma mulher está lá obrigada. Se estiver, é violência contra a mulher. Aí é crime. Hoje nós temos mulheres formadas, muitas têm duas profissões, inclusive. Eu mesma sou massoterapeuta e acupunturista durante o dia. Mas não estamos falando de mulheres em situação de prostituição, aquelas que se prostituem para pagar drogas, porque o dinheiro é mais rápido, por exemplo. Esses casos são diferentes e a gente nem considera como profissionais do sexo.
A despeito de todo esse medo que vocês estão vivendo, qual é a importância desse Mundial para a Associação de Prostitutas? Vocês estão se preparando para receber uma demanda maior?
Nós temos um relatório da África do Sul que mostra que, eu não sei se devido à questão da AIDS por lá, os resultados não foram tão bons. Não teve clientela. Não sei se vai se repetir com o Brasil. Não podemos negar que estamos esperando oportunidades melhores.
E vocês estão dando cursos para as mulheres atenderem melhor o público durante o Mundial?
Nós estamos trazendo, junto ao EJA (Educação de Jovens e Adultos), cursos para quem não tem o fundamental completo. Elas vão terminar o fundamental. O segundo grau ainda está em discussão, porque aí é com o estado e não com o município. E idiomas. Estamos programando cursos junto ao Sindicato dos Professores e vendo a possibilidade de cursos de idiomas. Embora a Dilma já tenha lançado uma iniciativa parecida, com cursos gratuitos. Várias mulheres já estão cadastradas para fazer esses cursos. Também estamos com um projeto de um curso de fotografia, para as mulheres mostrarem o lado delas na Copa. São ideias que vêm delas mesmas e a gente vai atrás de parcerias para realizar.
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