Ao L!, especialistas avaliam crescimento de competições de clubes, mas alertam: ‘Futebol brasileiro tem muito a aprender’
Autores do artigo 'A Era do Futebol de Clubes', Ricardo Góes e Pedro Trengrouse exaltam avanços da Premier League e Champions League e alertam para estagnação no Brasil<br>
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O futebol brasileiro terá de lutar para se organizar em um cenário ainda mais desafiador. Autores do artigo "A Era do Futebol de Clubes", Ricardo Góes e Pedro Trengrouse detalharam ao LANCE! que as competições entre clubes tendem a subir cada vez mais de valor, principalmente na Europa.
Administrador e especialista em marketing esportivo, Ricardo Góes crê que as mudanças nos formatos de competições já trazem um indício desta ideia.
- A Copa do Mundo era a competição mais relevante do futebol até o final do século passado. Por mais que o torneio siga com um grande valor, ao longo dos últimos 20 anos temos visto um processo muito radical, no qual as competições entre equipes tiveram um crescimento muito grande e há muitas expectativas. Hoje, vemos notícias de um "novo" Mundial de Clubes, o projeto de uma nova Champions League, a busca por uma Liga de Superclubes Europeus. A questão é como esta sucessão de mudanças trará impacto no futebol brasileiro - afirmou.
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Advogado e coordenador acadêmico do programa de Gestão do Esporte da FGV, Pedro Trengrouse apontou um contraste entre os clubes brasileiros e as potências europeias.
- Enquanto o final do século XX traz uma mudança de eixo gravitacional, na qual a Premier League e a Champions League faturam mais do que a Copa do Mundo, no Brasil vivemos em um tempo no qual a Seleção ainda é o produto mais valioso. O Barcelona, o Real Madrid, o PSG têm mais receitas que suas respectivas seleções. Isto é um sinal de atraso - e destacou o que considera um problema na competição de clubes:
- Temos a questão dos clubes associativos, sem fins lucrativos. Não temos liga profissional. O Brasil está entre os dez principais países no futebol porque a Rede Globo conseguiu organizar o mercado publicitário em torno do futebol, encaixando em torno da sua programação. Neste momento no qual as receitas dos clubes estão atrofiadas, há uma dependência excessiva da televisão - completou.
Góes crê que se trata um divisor de águas inédito nos negócios do futebol nos últimos anos.
- Estamos vivendo um modelo de transformação no futebol que a gente conhece. Há inclusive hoje a modificação na forma de negócio, como o City Group, uma multinacional investindo forte no futebol. É importante sair dessa bolha. O modelo de negociação da Copa de 1978, quando a Fifa fez a primeira comercialização de direitos da Copa do Mundo, passou a ser o lugar comum de como se negocia um evento esportivo, mas na época era revolucionário. Hoje, nós, aqui do Brasil, não estamos nem na periferia das transformações. Mais do que nunca, temos de esperar o que vem pela frente - disse.
O especialista em marketing, que foi consultor de clubes como Grêmio, Athletico-PR e Atlético-MG, falou sobre o aceno da Fifa de um novo formato do Mundial de Clubes, com 24 clubes e que passaria ser realizado de quatro em quatro anos. O torneio, que teria sua primeira edição em 2021, foi adiado em virtude da pandemia de Covid-19.
- Esta competição não é causa, mas consequência de um processo que vem antes, que é o crescimento da importância do futebol de clubes em detrimento do futebol de seleções, especialmente dos anos 2000 para cá. Vemos a competição de clubes no seu alto nível têm um peso maior. A Copa do Mundo foi, e é, uma recordista de audiência de número de telespectadores, em especial na sua final. Porém, economicamente, não é um ativo que lidere o ranking da Fifa... - declarou.
Góes ainda expôs a maneira como as competições entre clubes ascenderam com o decorrer dos anos.
- A Copa do Mundo tinha sido a introdutora do marketing esportivo em 1978. Mas, no modelo de negociação da Copa de 1982, houve uma situação curiosa. Patrick Nally, visto como "pai" do marketing esportivo, negociou, digamos como acessórios, os direitos do Mundial Juvenil e a Taça dos Clubes Campeões da Europa, que era a principal competição continental. Veja só... - e em seguida apontou o que foi crucial para a Champions League se consolidar:
- Havia esta estrutura em torno do futebol. Mas a TV se tornou um agente indutor e, no caso da Champions League, houve também a questão do "timing". Em 1992, a Uefa decidiu reformatar o produto, com foco na TV e no patrocinador. No mesmo período, houve uma desregulamentação das transmissões da TV, que deixaram de ficar nas mãos exclusivamente de estatais e deram espaço a transmissões via satélite. Aí há um crescimento bastante expressivo - complementou.
Aos seus olhos, a valorização da Premier League trouxe um resultado significativo no seu saldo.
- Por mais que o valor doméstico tenha diminuído um pouco em um ano, o valor global se manteve em alta. Este valor vem de quem acompanha os jogos da Premier League no Brasil, na Malásia, em outros países... O Brasil realmente precisa aprender com este modelo, pois é fundamental contar com estes valores internacionais - declarou.
Pedro Trengrouse se mostra cético em relação a este "aprendizado" dos dirigentes brasileiros.
- Os clubes não se entendem, não conversam. Nenhum clube sozinho vai se posicionar nesta onda - disse.
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