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Ela mudou a forma como o Brasil vê Barbosa. Ao L!, diz: ‘Quero muito mais, mas estou muito realizada’

Com vínculos de amor e luta frequente, Tereza Borba, filha do histórico goleiro do Vasco, se empenhou nas últimas décadas para alterar a história contada sobre o grande homem

Tereza Borba
imagem cameraTereza Borba vive na mesma casa em que Barbosa passou os últimos anos de vida (Foto: Felippe Rocha / LANCE!)
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Lance!
Praia Grande (SP)
Dia 19/11/2021
14:11
Atualizado em 20/11/2021
09:27

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Duas cadelas carinhosas e muitas plantas no quintal que recebe as visitas. A calopsita deficiente resgatada fica na gaiola. Uma maritaca alterna entre o poleiro e o ombro da dona da casa. Seu nome é Tereza Borba, cercada destes amores mais os do marido e o do neto criado como filho. Vida simples num bairro simples de Praia Grande, no litoral paulista, para uma mulher que mudou a forma como se conta a história de um grande brasileiro. E o fez com mais amor.

As vidas de Tereza e Barbosa, maior goleiro da história do Vasco e um dos maiores da história do Brasil, se cruzaram no início dos anos 1990. Desde então eles se tornaram filha e pai e ela tem se dedicado a mudar a história que é contada sobre ele.

- Depois de 25 anos... eu quero muito mais, mas estou muito realizada. CT Moacyr Barbosa, Avenida Moacyr Barbosa, Rua Moacyr Barbosa, campo Moacyr Barbosa, muro Moacyr Barbosa, a torcida vascaína toda falando Moacyr Barbosa. Ele na boca do povo, na boca da torcida era tudo que eu mais queria. Então eu estou muito realizada, mas estou muito feliz por ele - conta Tereza, em entrevista ao LANCE!.

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A residência é a mesma em que o camisa 1 viveu - e se divertiu - nos últimos anos de vida, encerrada em 2000. E Tereza foi construindo uma espécie de santuário que quer transformar em museu. Aos poucos, como aos poucos ela estimulou a disseminação do que chama de "verdadeira história" do pai: o  herói multicampeão, muito além do homem marcado pela final da Copa de 1950.

- Aconteceu tudo tão naturalmente que, de repente, eu olho e penso: "Putz, podia fazer isso pelo Barbosa". Que nem o lance do Museu do Futebol. Meu sonho era fazer uma exposição, e hoje está acontecendo. Vai se estender até 2022. Tem a exposição que eu quero e nós vamos fazer em São Januário, então as coisas vão acontecendo naturalmente, apesar de não ser mole correr atrás, tentar, fazer... é uma correria. Mas, depois que está pronto, parece que eu não fiz nada, parece que as coisas aconteceram de forma muito natural. Não vejo sofrimento para isso, ao contrário. Quando está tudo pronto eu falo: "Nossa, que legal, aconteceu" - observa.

Barbosa teria completado 100 anos no último março. Recebeu homenagens deste LANCE!, do Vasco, do Santa Cruz... a exposição no museu localizado no Pacaembu parece uma redenção, mas as décadas das diversas formas de racismo sofridas - acredite - não amarguraram o ex-goleiro, que encontrou paz no anonimato e no colo da filha.

- O Barbosa passou por tudo que ele passou e estava sempre sorrindo, dando uma palavra amiga. Era um cara feliz porque ele tinha noção de que ele tinha o dever cumprido por tudo que ele fez profissionalmente. E, como ser humano, era incrível. Ele era incrível. Não guardou mágoa, não guardou raiva, não levou rancor nenhum. Pelo contrário, ele foi embora num dos melhores momentos da vida dele. Foi um encontro de almas que trouxe essa felicidade para ele e para mim também - recorda Tereza.

Está na rotina olhar para uma das fotos na parede e perguntar, ao fim das frases: "Não é, neguinho?" Com carinho e sorriso, ela concorda, discorda e pede licença. Imagina o pai no ambiente. Com o ventríloquo que representa o herói vascaíno, ela se une. Diz ver vida.

- Tem gente que pode dizer: "Ah, a Tereza é louca, é maluca". Eu sou maluca de amor, maluca por justiça, maluca pela verdade. Sou maluca para que as pessoas sejam tratadas igualmente, não com indiferença por serem diferentes  umas das outras. Então é isso que me move. Quando eu luto pelo Barbosa eu também luto por mim. Eu também já sofri injustiça, preconceitos. As pessoas têm mania de rotular as outras - recorda, para concluir:

- Eu luto por mim, por você, por cada um de nós. Então não tem como o Barbosa não viver. Ele vive. Ele vive. A história dele é linda, é uma lição de vida. Não é, neguinho? Ele não deixou de sorrir, não deixou de trabalhar, não deixou de jogar, não deixou de ser campeão - completa.

Tereza Borba
Tereza e o ventríloquo de Barbosa (Foto: Felippe Rocha / LANCE!)

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