Incerteza, desconfiança, mas dentro do perfil: o que esperar de Abel Braga no Vasco
Treinador assinou com o clube cruz-maltino até o final de 2020 e chega para se reerguer após dois trabalhos ruins em 2019
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Depois de perder Vanderlei Luxemburgo, o Vasco agiu rápido e já tem o novo treinador para 2020. Nesta segunda-feira, o presidente Alexandre Campello acertou a contratação de Abel Braga, que fará a terceira passagem por São Januário. Assim como o antecessor, o novo comandante também chega ao Cruz-Maltino com a intenção de recuperar o prestígio no futebol nacional.
Abel iniciou 2019 assumindo o Flamengo, após recusar o próprio Vasco, que ficou com Alberto Valentim. Questionado pela torcida, ele acabou pedindo demissão em maio. Apesar da boa relação com os jogadores, atritos com a diretoria e as cobranças externas pesaram. Foram 32 partidas, 19 vitórias, oito empates e cinco derrotas, além dos títulos da Flórida Cup, a Taça Rio, o Campeonato Carioca, classificação às oitavas de final da Libertadores e vitória na ida das oitavas da Copa do Brasil.
Anunciado em setembro pelo Cruzeiro, ele durou apenas dois meses no cargo. Em 14 jogos, ele teve três vitórias, oito empates e três derrotas. Aos 67 anos, Abel Braga foi jogador do Vasco na década de 70 e treinador em duas oportunidades - a última delas em 2000.
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DENTRO DO PLANEJAMENTO
Dentre os nomes livres no mercado brasileiro, Abel era o que tinha o perfil mais parecido com o de Vanderlei Luxemburgo. Experiência e o fato de já conhecer o Vasco pesaram na decisão. Além disso, a amizade com Campello contribuiu para o acerto. Foram mais de três horas de reunião entre as duas partes. O treinador já começará a pensar no planejamento para a próxima temporada.
Assim como em 2019, a tendência é que em 2020 o clube ainda enfrente alguns problemas financeiros, além do clima político ainda mais fervoroso por conta das eleições no final do ano. Por isso, na hora de traçar o perfil, a diretoria optou por alguém que, assim como Luxa, também seja capaz de blindar o elenco. Nomes mais jovens, como o de Eduardo Barroca, ainda encontram resistência pela incerteza sobre como vão agir nessa situação. Mais do que o esportivo, a escolha por Abel tem a ver com o ambiente fora das quatro linhas.
OS PROBLEMAS
Apesar do perfil, os últimos resultados de Abel Braga decepcionaram. No Fluminense, onde trabalhou entre 2017 e 2018, o desempenho já havia sido muito limitado. Com um perfil parecido com o Vasco atual, de elenco limitado e problemas financeiros, o treinador segurou o ambiente por um período, mas pediu demissão em junho pelo desgaste com as dificuldades. Em 2018, Abel comandou a equipe tricolor em 34 jogos, com 14 vitórias, oito empates e 12 derrotas. Foi campeão da Taça Rio, mas não chegou à final do Carioca. Além disso, caiu na terceira fase da Copa do Brasil e deixou a equipe na 12ª colocação do Brasileiro (com 14 pontos, dois distante da zona de rebaixamento) e na segunda fase da Sul-Americana (enfrenta o Defensor-URU).
Com a palavra:
Matheus Dantas, setorista do Flamengo no LANCE!
"Com o objetivo de resgatar o "espírito de um time vencedor" ou a "identificação entre torcida e jogadores", Abel Braga chegou ao Flamengo e, nos cinco meses de trabalho, o que se viu em campo foi uma equipe com desempenho inferior ao que os nomes à disposição do técnico - como Arrascaeta, Rodrigo Caio, Gabigol e Diego, entre outros - indicavam ser possível.
Com o treinador, o Flamengo venceu o Estadual sem fazer força - e com méritos - diante de rivais frágeis. O estilo de jogo mais defensivo e menos impositivo em relação aos últimos técnicos, como Reinaldo Rueda, Dorival Jr e Maurício Barbieri, logo impediram a desejada sinergia com a torcida.
A oscilação dos resultados na Libertadores e no Brasileirão, a insistência com certos jogadores e declarações que não repercutiram bem - entre diretores e torcida - tornaram a situação de Abel na Gávea insustentável. Assim, o pedido de demissão antecipou o que, inevitavelmente, aconteceria dali a dias, semanas ou meses.
Foram 32 partidas: 19 vitórias, oito empates e cinco derrotas no comando do Flamengo em sua segunda passagem. Números que, no geral, poderiam ser considerados bons, mas a chegada de Jorge Jesus levou o Flamengo a outro patamar e expôs a diferença entre os trabalhos".
Léo Gomide, comentarista da "Rádio 98FM", de Belo Horizonte, e do "Os Donos da Bola", na Band.
"É público e bastante divulgado que o Cruzeiro atravessa uma situação polícia e administrativa muito grave. O atual presidente pode, inclusive, renunciar junto com a diretoria eleita. No meio disso, o Abel chegou para substituir o Rogério Ceni. Ele chegou para tentar administrar uma rusga de vestiário que aconteceu com o Ceni nos oito jogos que esteve aqui, quando o Thiago Neves deu algumas declarações de que o trato não era dos melhores e reclamou que ele havia dado a escalação para os jogadores minutos antes da partida, mas não procedia. Acabou improvisando um jogador na lateral-direita. Foi um conflito de ideias ali. A diretoria preferiu bancar o elenco ao técnico. Com a chegada do Abel, o time despencou de desempenho. Não que estivesse bem, mas o que estava ruim foi piorando. Apesar de duas vitórias importantes, contra São Paulo e Corinthians. Nas últimas sete partidas com ele, o time só marcou gol em uma. Não conseguiu vencer o Avaí em casa, teve o CSA. Era um time com a posse da bola que não sabia o que fazer para vencer a defesa adversária, abusava dos cruzamentos, eram mais de 40 por jogo. Pouca mobilidade, pouca intensidade e marcando tinha muitos espaços. Jogava aleatoriamente, pela intuição dos jogadores. Nada treinado, muito na gestão de grupo e pouca parte tática. Ele acreditou demais no talento individual dos jogadores para resolver problemas, mas com cada um imaginando qual era a melhor tomada de decisão e sem pensar em conjunto, o jogo não fluiu".
O casamento entre Vasco e Abel Braga será uma via de mão-dupla, como havia acontecido com Vanderlei Luxemburgo. De um lado, o clube quer manter o processo de recuperação da auto-estima sem esquecer do equilíbrio financeiro. Do outro, o treinador busca uma retomada nos grandes trabalhos da carreira.
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