Relação com Campello e projetos para o Vasco: Leven Siano fala ao L!
Advogado já se considera pré-candidato às eleições do clube, em 2020, e prega transparência, inclusão e pacificação para resolver os problemas do Vasco
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O nome é conhecido no noticiário do Vasco há tempos. Advogado que já defendeu causas em favor e contra o clube em diferentes gestões, hoje Luiz Roberto Leven Siano se coloca como "agente político" do clube, antes da eleição. Na prática, a campanha já vem sendo conduzida, embora a eleição presidencial seja apenas no ano que vem. Entre críticas e ressalvas ao mandato corrente, ele lamenta a distância do atual mandatário, Alexandre Campello, e entende ser possível um futuro melhor para o clube de São Januário. Nesta entrevista exclusiva ao LANCE!, ele analisa passos necessários para a instituição.
- O Campello e o Vasco estão pagando um preço de uma escolha eleitoral da maneira como foi. Não foi culpa dos beneméritos. A Sempre Vasco contou uma história que não foi a realidade, colocando na conta dos beneméritos, quando a maior parte deles votou no Júlio. Quem votou contra foram as pessoas da chapa dele. Em uma chapa de 120, cerca de 80 votaram contra. Ele perdeu ali na costura política. Acredito que não vai acontecer com a gente. Temos gente disputando, não temos a menor dificuldade de montar chapa - disse Leven.
Veja a entrevista na íntegra:
Vasco atual
O clube, hoje, é multifacetado politicamente. Guerra interna de grupos políticos. As pessoas mudam, mas não há mudança de propósito. As coisas são feitas de maneira reativa. Atribuo isso a uma falta de um modelo profissional. Mesmo a gestão atual tendo alguns indicadores positivos, ainda é amadora. O que eu quero oferecer é algo novo, que o Vasco não teve nas últimas décadas. São três valores que eu entendo serem inegociáveis: o primeiro é a transparência. Através de um programa de "compliance", que é inédito no futebol brasileiro. Acredito que vai criar um modelo de gestão capaz de fiscalizar todas as condutas de todos os departamentos do clube, da presidência ao almoxarifado. Se você olhar os patrocínios do Vasco nos últimos tempos, a maioria é feita por algum arranjo político. Estatais, bancos onde feito empréstimo. Não foi investimento no qual você está vendendo sua marca e alguém tá associando no paradigma ganhar-ganhar. Há muitos anos o Vasco não tem patrocínio master de mercado por conta de uma estratégia de marketing, comercial.
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Como explicar para o torcedor o que é o compliance?
É uma técnica de gestão que o mundo corporativo criou por não aguentar mais o toma lá dá cá, a corrupção, a necessidade de molhar a mão de alguém. Funciona como uma corregedoria privada da instituição. Cria um departamento com autonomia e poder total para propor regras de conduta para a diretoria administrativa e todos os funcionários. Aquela instituição vai exercer sua atividade cumprindo com todas as legislações e normas que envolvem aquela instituições. Se converte em proibição de nepotismo, concorrência em qualquer contratação, proibição de aceitar favor de funcionário. Conjunto de normas e condutas éticas que vai atingir desde o presidente até o porteiro. Vou ser o primeiro pré-candidato a presidente de clube de futebol brasileiro que vai abrir o seu sigilo fiscal, entregando a declaração do imposto de renda enquanto candidato e enquanto presidente. Desafio os outros a fazerem o mesmo.
Isso é possível pelo estatuto?
Garanto colocar os profissionais remunerados, porque não dá pra fazer de forma amadora. Inicialmente, se eu colocar três profissionais de alto gabarito de "compliance", não vão significar sequer um terço do custo do Fellipe Bastos. Não precisa chegar ao extremo de transformar o Vasco em uma empresa porque não haverá ambiente político. Não precisa ir do oito ao 80, pode ter hibridismo, voluntarismo que existe na tradição do clube, tem muita coisa bacana. Não vejo como o Vasco não ter um CFO (que está abaixo do CEO, cuida das finanças). O Vasco tem um problema crônico de ajuste de finanças. Respeito o trabalho do Adriano, que é um bom trabalho. Mas ele é um funcionário público do BNDES, não é de mercado. O primeiro passo do "compliance" é ter funções executivas remuneradas. Depois, um ajuste no estatuto, precisa de algo modernizado. Até para propor que a diretoria administrativa seja remunerada também. Eu jamais proporia me auto-remunerar. Não só as funções executivas, que já podem ser contratados. Pretendo contratar, entre outros, um executivo de marketing, representantes de vendas, porque o marketing não vende, cria conceito. Pretendo também ter agentes de futebol credenciados. Ter um departamento remunerado de levantamento de receitas de mecanismos de solidariedade. Também remunerado levantamento de projetos incentivados. Se somar, não dá um Bruno César. E vai dar muito mais impacto do que aquele atleta em particular. Precisaria de uma mudança no estatuto e que façamos cargos remunerados para que essa pessoa tenha a independência que se quer que ela tenha. Tem que ser contratado pelo clube.
Inclusão
Além da transparência, temos que ter inclusão social. O que deve distinguir o Vasco dos outros clubes é isso, o DNA social. É o único grande da zona norte do Rio, primeiro campeão que usou negros, pobres e operários. O Vasco aceitou ser expulso para ter esses atletas atuando. É um clube da zona norte, está em torno da barreira, perto da mangueira. Mas quando você olha espaços de poder, não vê praticamente mulheres, negros, uma torcida que grita "silêncio na favela", "time de v...". Não está alinhado. Quando você olha para o conselho do Vasco, ele é branco, homem, hétero. Acredito que o Vasco precisa fazer ajuste interno de luta histórica contra o preconceito e abertura de espaços de poder para que as pessoas que não estão sendo prestigiadas tenham seu lugar de fala. Pretendo ter um conselho mais diverso. Serão valores que o mercado corporativo entende como essenciais para que eles associem as marcas deles: transparência e inclusão social. Ninguém no Brasil mais legítimo do que o Vasco para defender isso.
Pacificação
O terceiro valor é a pacificação. Por incrível que pareça é o mais difícil. O vascaíno se orgulha que o Vasco, nas redes sociais, é o quinto clube na América Latina. Mas se analisar o que é postado, 75% tem conteúdo negativo. Quando o Vasco fechou com a Diadora sem anunciar os valores, já tinha vascaínos entrando no site deles e xingando. Quem vai colocar sua marca para ser detonada por milhares de torcedores? O que fez o Vasco ser pacificado uma vez na sua história recente foi quando o Calçada deu a mão ao Eurico e o Vasco acalmou sua turbulência politica. Acredito que precisamos hoje envolver, contagiar o vascaíno nessa "vibe". Infelizmente, por conta do modo como o Eurico conduziu a gestão por alguns anos, as pessoas se tornaram a favor ou contra. Esse anti-euriquismo também criou personificações, endeusamentos. Ora do Roberto (Dinamite), ora do Júlio (Brant), e ora de outro que apareça. Prefiro que não seja para mim. Não quero ser salvador da pátria, quero simplesmente instalar governança, colocar o clube nos trilhos.
'Meu telhado é de aço. Não tenho nenhuma dúvida sobre nenhuma conduta ética na vida'
Processos, Edmundo e conflito de interesses
O último acordo que fiz do Edmundo, já na gestão Campello, foi o Eurico que me ligou. Ele disse "Leven, pelo amor de deus, pede para o Edmundo acertar isso." Depois desse último acordo eu decidi ser agente político. Expliquei ao Edmundo que não poderia mais ser advogado de qualquer interesse contra o clube porque me tornaria agente político. E aí larguei o processo. Eu trabalhei também na questão da urna 7. Defendi pessoas que estavam na urna e não eram para estar. Existiam sócios remidos, nada a ver com fraudes, que tiveram o direito de votar cassado, que não tiveram direito de mostrar a credencial de votante no processo. Eu me limitei a defender algumas pessoas ali. Tanto é que a própria Sempre Vasco, depois, tentou a anulação da eleição como um todo, sobre o fundamento de que não era só aquela urna, mas que tinha gente fraudada, provavelmente, nas outras urnas e que tinha gente não fraudada na urna 7. Pessoas mau intencionadas me atribuem à urna 7 e eu jamais defendi isso ou fraude. Meu "compliance" está absolutamente testado, meu telhado é de aço. Não tenho nenhuma dúvida sobre nenhuma conduta ética na minha vida.
Tem que diminuir investimento no futebol para equilibrar ou dá para ter as duas coisas?
Acho o contrário. O objetivo é um time forte. Esses três valores ajudam a ter um time forte e time forte ajuda nas finanças do clube. Não vamos conseguir aumentar o número de sócios-torcedores se não tivermos um craque. Acredito que, infelizmente, o futebol do Vasco não vem sendo tratado de forma profissional. E vou falar: o futebol do Vasco é a 10ª folha mais cara do Brasil. O que existe no futebol do clube? Também gestão amadora. O Vasco melhorou a performance agora em função de um treinador do mais alto gabarito que tem todos os meus reconhecimentos pela parte técnica. Mas se for olhar quantos atletas passaram aqui nos últimos meses e usaram como vitrine, sem explicação técnica na relação custo-benefício. O departamento de futebol está mais ou menos esmiuçado na minha cabeça, com pessoas de alto gabarito como Mauro Galvão, Luis Felipe Ximenes, Sorato, Carlos Germano, Alexandre Torres, que hoje trabalha para o Manchester United. Os critérios de contratação não são técnicos, mas comerciais. A base precisa ser aproveitada. Hoje, as análises são essenciais para contratação. Se você tiver departamento de "scout" rigoroso, você consegue trazer os melhores através do modelo de jogo que quer implementar. Eu estou envolvido em inteligencia artificial. Quero trazer mais inovações. Estou esboçando projeto disso no futebol. No VAR seria muito útil, porque eliminaria o erro humano. Mas estou vendo em outras áreas do clube. Seja na projeção de quem pode ser craque por características médicas, fisiológicas, na análise, mapeamento de mercado. Pode entregar para a máquina que quer ser campeão brasileiro e saber qual modelo de jogo para isso. Pode mapear também todos os jogadores de todas as posições e dizer melhor que qualquer DVD. Falei isso lá em casa entusiasmado e meu filho de 12 anos: "Pai, você está achando que está inventando a roda? O Playstation já faz isso". Esse algoritmo já existe, então. Vou sentar com os caras da Sony e pedir pra eles levarem para o futebol de verdade.
Está em algum grupo?
Fui convidado para integrar certos grupos políticos, mas não quis porque não quero ser identificado por grupo nenhum. A candidatura será independente. Mas tenho apoio de alguns que já se manifestaram até com muita antecedência. Meu plano é fazer o vascaíno voltar a torcer pelo Vasco. As pessoas não são mais Vasco, mas sim fulano, beltrano, sicrano há muitos anos. Nesse jogo político do Vasco as pessoas se comportam um pouco como PMDB, esperam quem vai ser o cavalo vencedor e aparecem. A pré-candidatura está tendo impacto, receptividade interessante. Três grupos políticos importantes não quiseram esperar coisa nenhuma, já manifestaram publicamente o apoio: Templários do Almirante, Malta e Pró-Vasco. Está tendo adesão de diversos juízes federais, do trabalho, do Tribunal de Justiça. Já temos 14 ou 15 atletas, todos ídolos campeões, que manifestaram apoio. O Jr Negão, do Beach Soccer, Carlos Germano, Mauro Galvão, Sorato, Nasa, Luizão, Luisinho, Euller, Marica, Geovani, até o Roberto (Dinamite) já esteve la em casa. Tudo começou com uma conversa com empresários e economistas e tomou proporção com muita antecedência. Não estou em campanha, as pessoas que estão em campanha por mim.
Como equilibrar o dinheiro?
A situação do Vasco, para mim, não é desconhecida. Sei o que e como tem que ser feito. Uma coisa que não vou fazer, que é o que todo mundo faz, é chegar lá e falar que "a culpa é da herança maldita", "a culpa é porque adiantaram cotas de televisão". Eu quero interromper esse ciclo vicioso e criar um ciclo virtuoso. A primeira alternativa, e mais importante, é recurso. Estou procurando acarretar recursos desde agora. Já tenho oferta para a base, de R$ 4,8 milhões/ano desde o sub-9. Se fosse uma gestão meramente politica, ninguém investe na base, a base não vai dar resultado no mandato, mas cinco, seis anos depois. Estou sendo procurado por empresas de "capital venture", estamos trabalhando Fedic, mas que não seja lastrado, como o Vasco anunciou, em receita primária. Para mim é um erro crasso. Fedic não pode ser garantido por receita primária, de televisão. Tem que ser garantido por receita externa. Essas empresas de capital venture que nos procuram, uma já falou em 400 milhões para fazer um "Take-over" do vasco, mas eu não acho que exista ambiente politico para take-over.
Take-over
Seria comprar o futebol, separar o futebol do clube e vender. Acho que é preço baixo para isso. Falei de um bilhão, mas sem ser take-over. Uma quantidade de atletas em determinado número de anos garantindo o investimento e fosse abatendo. O que propus foram dez atletas em dez anos. Eu tenho de plano A a plano Z. Estou disposto a resolver o problema do Vasco. O ideal é ter recurso. se não tiver, com inteligencia administrativa e financeira você resolve. A dívida do vasco, hoje, se divide em três grandes blocos: trabalhista, fiscal e cível. A trabalhista, você consegue mais ou menos equacionar o fluxo com o ato trabalhista. O fiscal com o Profut, mas o Vasco não está pagando as parcelas. E o cível é o grande problema, porque é onde pipoca penhora. Não tem nada aí para controlar o fluxo. Você precisa pagar as parcelas do Profut, que são 30 milhões, precisa criar mecanismo de controle de dívidas cíveis e gerenciar custo de dívida. Na verdade, o que parece ser um problema de 600 milhões é de 130/150 milhões. Precisa de 600 para zerar a dívida. Para controlar e administrar precisa de 150 milhões, o que não é algo fora do universo. Uma das ideias que estamos tendo no grupo de trabalho é fazer leilão reverso. Pegar todas as dívidas cíveis que tem e classifica por montantes. Pega um montante acima de 10 milhões e diz ao contrário: "Para esses que tem mais de R$ 10 milhões de dívida, eu tenho R$ 4 milhões. Quem pega?" E aí você faz o leilão ao contrário.
'Acho que ele paga um preço alto pela forma da eleição. O ruim vai ser sempre ressaltado e o bom não vai ser reconhecido. Única e exclusivamente porque ele se permitiu entrar no clube pela porta dos fundos'
Relação com Campello e gestão
Lamentavelmente, minha relação com o Campello é zero, que é uma coisa inédita na minha vida. Na gestão do Campello eu fiz duas críticas pontuais. A maneira como Paulinho foi vendido e ele ter rebaixado o basquete através de um ato administrativo. Para mim, as duas situações foram geridas de modo equivocado. Mas, tirando isso, não faço oposição ao Campello. Já me coloquei à disposição. Agora, recentemente, com relação à partida Vasco e Grêmio, eu fui às redes sociais, disse o que eu achava que aconteceu, como fazer e que estava disposto a colaborar para resolver o problema. e ele mais uma vez ignorou. Acho que ele paga um preço alto pela forma da eleição. O ruim vai ser sempre ressaltado e o bom não vai ser reconhecido. Única e exclusivamente porque ele se permitiu entrar no clube pela porta dos fundos. O Campello, em uma pesquisa de intenções de votos antes das uniões, ele era quarto ou quinto colocado. Acaba por tornar o clube ingovernável. A maneira como se relacionou politicamente com os próprios grupos de sustentação. Tanto que houve pelo menos duas ou três tentativas de tirar o Campello da presidência. Foi uma opção política equivocada, se colocou interesse no poder acima do interesse do Vasco e o Vasco está pagando esse preço. Acredito que esse erro não deva ser repetido na história do Vasco.
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