Um treino que deu ‘certo’: a sucessão de erros que culminou no quarto rebaixamento do Vasco
Cruz-Maltino não resistiu à terceira temporada seguida lutando para permanecer na elite, e contou com imprecisões em diferentes setores até a queda sacramentada nesta quinta
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Rebaixamento nos campeonatos disputados em pontos corridos, ainda mais de um gigante brasileiro, nunca se dá por acaso ou por uma razão só. São, invariavelmente, vários elementos, normalmente somados, que constroem a queda. O caso do Vasco foi mais um. O Cruz-Maltino, na verdade, repetiu o roteiro de luta contra a degola das duas temporadas anteriores. Teve apenas um ou outro ingrediente a mais.
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Os erros começaram, na verdade, no final de 2019. Sem acordo para a desejada permanência de Vanderlei Luxemburgo - por pouca perspectiva de avanço no investimento -, o substituto escolhido foi Abel Braga. O também veterano vinha de maus trabalhos recentes e, entre valores históricos de seus trabalhos, não tem na parte tática uma característica forte.
O mau desempenho era uma bola cantada, e se confirmou. Um time que não foi melhorado desde o ano anterior, que pouco criava, que penou na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana. Para completar, o planejamento previu times mistos em três clássicos. Após um deles, em comum acordo, Abel saiu.
Era o momento de início do isolamento social por conta da pandemia de Covid-19. O Vasco optou por quem seria barato, já estava no clube e conhecia o grupo há mais tempo que o próprio Abel Braga. Ramon Menezes comandou a equipe desde os primeiros dias, mesmo a distância, e o time mostrou virtudes de sobra nas primeiras semanas de jogos.
Tanto que foram quatro vitórias seguidas, sete jogos de invencibilidade, recuperação e classificação na Copa do Brasil e liderança do Campeonato Brasileiro na quarta rodada. Foi na véspera do aniversário do clube. Foi o melhor momento do Cruz-Maltino na temporada.
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Mas o Ramonismo foi vítima da própria expectativa e da queda de rendimento com uma eleição no horizonte. O desempenho caiu, o time começou a despencar na tabela e o então presidente do clube optou por demitir o treinador.
Alexandre Campello nunca admitiu e, de fato, o time mostrava pouco poder de reação. Mas a possibilidade de um fato novo manter o time na parte de cima da tabela talvez tenha pesado, e isso em meio à tentativa do mandatário de se reeleger. Ramon viveu um período de seis jogos sem vencer mais uma eliminação na Copa do Brasil até ser demitido.
E então chegou o momento de sucessão mais dramática dos atos que culminaram no que se consumou nesta quinta-feira: primeiro, a escolha por um treinador que não acompanhava o futebol brasileiro e suas peculiaridades. Depois, a demora para perceber que Ricardo Sá Pinto não deu e muito dificilmente daria certo.
O vice-presidente de futebol, José Luís Moreira, foi o grande entusiasta do treinador português como ele. A gestão Sá Pinto testou jogadores, mudou sistema tático, mudou de ideia de novo, mas quase nada evoluiu. Tanto que o fim da linha foi por conta de uma atuação horrorosa a nível individual e coletivo, diante do Athletico-PR, na partida seguinte à vitória sobre o Santos.
Se Campello e Moreira têm digitais no quarto rebaixamento, o ex-diretor executivo de futebol, André Mazzuco, e o elenco montado não ficam atrás. Sempre faltou um meia para auxiliar Benítez - Carlinhos nunca se provou. Acreditou-se que três pontas com, no máximo, 20 anos cada, dariam conta da temporada. Só que Vinícius, Gabriel Pec e Talles Magno não amadureceram, tampouco juntos, a tempo.
Recontratado com a expectativa de repetir, em menos tempo, a recuperação e fuga do rebaixamento consagrada no Campeonato de 2019, Vanderlei Luxemburgo animou no início, mas também errou. E errou após acertar. Era nítido, desde a primeira passagem do treinador pela Colina, que um primeiro volante se fazia necessário.
Luxa colocou Bruno Gomes na função, mas mudou o sistema tático duas vezes. O resultado foi de duas das piores atuações do time em meses nas derrotas para Red Bull Bragantino e Fortaleza. Os desempenhos do Vasco com Sá Pinto e com Luxemburgo quase que se equivalem, cada um com um tempo de trabalho. Mas nenhum deles pode se queixar tanto da arbitragem. O Vasco mereceu ser rebaixado.
Mereceu ser rebaixado também porque teve caminho para limpar e não o fez. O time saiu da zona de rebaixamento por duas vezes no início do período com Luxa, mas não foi capaz de se desgarrar. Pelo contrário. Seguiu perdendo pontos para adversários diretos, como em todo o torneio. Ao longo da competição, foram quatro pontos para o Fortaleza e seis para o Coritiba, por exemplo. A bola pune, diria Muricy Ramalho.
E por mais que 2020 tenha sido ano de mais uma tumultuada eleição no clube, os efeitos para o departamento de futebol foram poucos. Houve, de fato, uma blindagem à política do clube que se mostrou bem-sucedida. Também houve e há problemas de atrasos salariais no clube, mas o que faltou para o Vasco foi competência. Na montagem do elenco, na escolha por Ricardo Sá Pinto e no desenvolvimento dos jogadores e do time.
Na verdade, o Vasco parece ter treinado durante três temporadas para ser rebaixado. E, sem grandes evoluções na equipe, o time conseguiu: desceu de divisão nesta terceira.
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