Demissão de Barroca é mais um capítulo de delicado ano do Botafogo
Em temporada marcada por caótica situação financeira e demissões de treinadores, diretoria busca 'piloto automático' dentro de campo para restante do Brasileirão
Definitivamente, o 2019 do Botafogo não tem sido fácil. Dentro ou, principalmente, fora de campo, a temporada tem sido conflituosa desde o primeiro dia. No domingo, Eduardo Barroca foi demitido depois de perder para o Fluminense por 1 a 0, no Nilton Santos. Foi a segunda queda de um treinador no ano. Em maio, Zé Ricardo não resistiu depois de péssimo Campeonato Carioca e uma eliminação para o Juventude na Copa do Brasil.
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Nos bastidores, a queda de Barroca vem sendo discutida há algumas semanas. O revés no clássico foi somente o estopim de uma decisão que parecia fadada a ser sentenciada no tropeço mais próximo. Logicamente, nomes estão em pauta. Jair Ventura, que comandou o Botafogo em 2016 e 2017 com relativo sucesso, é o mais comentado, assim como Alberto Valentim. Mas não há nada de oficial. Bruno Lazaroni, auxiliar permanente, comanda a equipe contra o Goiás na quarta-feira, às 19h15, no Nilton Santos.
O jogo pode até mesmo servir como uma espécie de "vestibular" para o filho de Sebastião Lazaroni, pensando numa espécie de efetivação até o fim do ano. A intenção da diretoria é fazer com os próximos meses sejam corridos no "piloto automático", para depois traçar um planejamento mais detalhado para 2020. Recentemente, o Fluminense efetivou o interino Marcão em episódio parecida ao do Glorioso.
De qualquer forma, o final de ano é decisivo para o Botafogo também pela parte financeira. Estudos recentes mostram que o clube é o mais endividado entre os 20 da primeira divisão. A dívida chega a R$730,6 milhões. Atualmente, o Botafogo é 12º colocado, com 27 pontos, cinco pontos à frente do CSA, que abre a zona de rebaixamento.
Rebaixamento é uma palavra que todos fazem questão de apagar no dicionário alvinegro. Para uma instituição que agoniza, uma queda acarretaria ainda mais complicação à situação econômica. Em 2020, o time que jogar a segunda divisão vai receber somente R$6 milhões de cota de TV, independentemente do contrato que assinou.
Os problemas fora das quatro linhas radicalizaram nos últimos meses, mas a bolha começou a ser alimentada há algum tempo. Entre julho e setembro, o Estádio Nilton Santos teve a conta de água vencida por três vezes e a Cedae cortou o fornecimento. Em General Severiano, a Light cortou a luz no início de agosto. Também por três vezes, o elenco protestou contra os salários atrasados aderindo à "lei do silêncio".
A falta de perspectiva quanto à melhora gera um clima de hesitação. Além disso, as divergências entre membros do Conselho Deliberativo envolvendo os excessivos gastos no basquete levaram a situação para o campo político. Os diferentes grupos que têm força no ambiente interno não falam a mesma língua.
A demissão de Barroca acaba sendo apenas a ponta do iceberg. Os números mostram que o trabalho do técnico estagnou e parou de evoluir após a Copa América, mas ele é somente um dos problemas, e não o principal. Os ingredientes citados acima se juntaram ao fracasso retumbante da diretoria na tentativa de encorpar o elenco.
O Botafogo chegou a acertar com Nicolás Blandi, atacante do San Lorenzo, e Dário Aimar, zagueiro do Barcelona de Guayaquil, porém, como os clubes envolvidos demoraram a mandar as documentações dos atletas, o mercado no Brasil fechou e não foi possível inscrever mais ninguém no Brasileirão. Não bastasse isso, o atacante Erik, que vinha sendo o destaque do Glorioso em 2019, teve transferência concluída de forma surpreendente ao Yokohama Marinos, do Japão. O elenco queria a permanência de Barroca, mas a decisão da diretoria, embora não fosse unânime, pesou.