Chego ao Pontal, no fim do Recreio dos Bandeirantes. São sete horas da manhã, mas as atividades vão a todo vapor.
No lado de cá da Pedra, para quem vem da direção da Barra da Tijuca, vai saindo, para sua segunda investida do dia, uma das canoas havaianas tripuladas, entre outras pessoas, por Solange de Castilho, uma ex-triatleta que se prepara agora para disputar o Pan Americano de Canoagem, no Chile.
No meio das duas praias, ao alto, em terra firme, há a turma da Zumba, com suas evoluções comandadas por figuras coloridas e entusiastas, sobre a plataforma logo ali em frente à peixaria. Em anos passados já experimentei alguns passos pouco graciosos naquele palco sempre iluminado pelo sol e agora me satisfaço mais na condição de observador.
Preparo-me para me juntar ao segundo grupo da imensa turma de natação do Sidney Pereira Team, que reúne praticantes de todas as idades possíveis, trajados uns com roupas de neoprene, outros com apenas sungas e biquinis. Vou participar da segunda onda, que larga às oito horas. A primeira já partiu, às seis e meia. O sol está forte e de repente sinto um toque de mão no ombro. Volto-me e me deparo com José Ferreira, cidadão que, não faz tanto tempo assim, nadou do Leme ao Pontal, chegou ao Pontal, saiu da água, deu uma voltinha protocolar pela areia e… mergulhou de novo no mar, para voltar ao Leme. Ao todo, foram 72 quilômetros. Mais de 20 horas dentro d’água, convivendo com os peixes, no ritmo das ondas e das marés.
Ao lado de José Ferreira encontra-se Adherbal Oliveira. Pergunto ao José Ferreira: “O que vocês estão fazendo por aqui?”. Uma pergunta meio cretina, concordo, visto que ambos estão de sunga, com touca de natação e olhando com firmeza para as ilhas distantes que podem ser vistas lá pelos lados de Grumari. Sou então informado de que vão dar um “treininho” de uns 15 ou 20 quilômetros. É apenas uma preparação leve para o que o Adherbal pretende fazer nos primeiros dias de dezembro: nadar da Praia Vermelha, ali ao pé do Pão de Açúcar, até Guaratiba. “Apenas” 50 quilômetros, que deverão ser cumpridos sem o conforto proporcionado por uma roupa de neoprene. A façanha é algo que deverá custar ao Adherbal 16 horas ou mais dentro d’água.
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Pergunto-lhe: “E em que você vai pensando enquanto nada 16 horas sem parar?". Adherbal começa a responder: “Bem, tenho quatro filhas….”. Ah, sim - replico. Assuntos é que não faltarão.
Adherbal Oliveira é o atual recordista sul-americano de travessia do Canal da Mancha. José Ferreira, por sua vez, ao que eu saiba, está pensando em fazer a Tríplice Coroa Sul-Americana, que compreende nadar do Leme ao Pontal, atravessar o Rio de La Plata a nado e
também, sempre a nado, enfrentar as águas geladas do Beagle Channel, no extremo sul de nosso continente.
José Ferreira está se preparando ainda para uma nova Batalha de Rande, uma prova em Vigo, na Galícia, Espanha. Ele foi convidado por ser um dos expoentes mundiais de natação em águas abertas. Esta será sua terceira participação na Batalha de Rande e, numa coincidência numérica, pretende se classificar entre os três primeiros colocados.
Antes de mergulhar nas águas do Pontal, para cobrir distâncias bem menores, sou informado ainda de que, em suas peripécias marítimas, Adherbal Oliveira já foi até mordido por um tubarão, nas Ilha Molokai, no Havaí. Acho que o tubarão levou a pior.