Felipe Rolim: retrospectiva 2022 com todos os esquemas táticos da Copa do Mundo
Colunista do LANCE! esmiúça as formações das principais seleções do Mundial
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Foram 6.060 minutos de futebol na Copa do Mundo do Qatar. Sessenta e quatro jogos inteiros, sendo cinco com prorrogações que nada decidiram, forçando as penalidades em todas as oportunidades. Foram utilizados 13 (treze) esquemas táticos em algum momento por uma ou mais seleções, além de uma pequena variação para um 14º por apenas 10 minutos, que segue explicada abaixo. O esquema mais utilizado pela campeã Argentina foi o 4-4-2, variando quatro vezes para outras configurações, de acordo com adversário e escalações. Uma marca de Lionel Scaloni nos sete jogos da Copa do Mundo foi exatamente não ter uma plataforma definida, o que o ajudou a surpreender a França na grande final com um 4-3-3 muito ofensivo. E se Scaloni utilizou cinco esquemas táticos, aqui passaremos por todos os treze, classificados pelo critério de minutagem de utilização e trazendo os principais momentos de cada plataforma.
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4-2-3-1, o mais utilizado. Foi o esquema-base da finalista França, acomodando Griezmann muito mais como um meia organizador que um atacante. Deschamps não abriu mão de Tchouameni e Rabiot como volantes, mas recuou Griezmann e abriu espaço para Mbappé, Giroud e Dembélé jogarem juntos. O Brasil também teve o 4-2-3-1 como base, mas com seu meia central avançado adotando uma função de ponta de lança (Neymar ou Rodrigo) e virando um quarto atacante. Contra a Suíça, sem Neymar e Rodrigo na escalação inicial, o Brasil teve o 4-3-3 como padrão, com Paquetá e Fred dividindo as tarefas de construção à frente de Casemiro. A Alemanha também foi majoritariamente de 4-2-3-1, com Musiala atrás do centroavante e protegido por Kimmich e Gündogan (ou Goretzka).
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4-3-3, o clássico não morreu. A Espanha jogou do início ao breve fim em seu esquema favorito. Luis Enrique, o técnico streamer, pode não ter razão em dizer que não viu futebol mais bonito que o da Espanha, mas nenhum adversário tirou a Roja de seu posicionamento preferido. E nem Luis Enrique variou quando talvez pudesse ter sido necessário. A seleção do Estados Unidos também foi adepta de um jogo mais posicional e se manteve em grande parte no 4-3-3, com Tyler Adams de único volante sendo o epicentro do time, carimbando todas as bolas nas transições ofensivas dos EUA. Por fim, outra grande adepta no 4-3-3 durante a Copa foi a Inglaterra. A necessidade de ter Jude Bellingham mais perto de Kane e Saka deixou Declan Rice como o único volante central e Henderson ao lado da estrela do Borussia Dortmund, empurrando Mount ou Foden para posições mais avançadas.
4-4-2, o ponto de partida da Scaloneta. A Argentina não teve cerimônia para mexer no esquema que era o mais visto na pré-Copa, ainda com Lo Celso no time. Não era um 4-4-2 em linha e nem losango, era mais assimétrico, como o utilizado no Brasil do fim do século passado, em que as funções importavam mais que as posições. Sem Lo Celso, com a necessidade de três zagueiros em determinados momentos e com a ascensão de Enzo Fernandez como o distribuidor de jogo na base do meio de campo argentino, Scaloni desfez qualquer trava tática e partiu dos confrontos e de suas individualidades para plantear a campeã. Não fosse pela Argentina, o 4-4-2 passaria despercebido na Copa, sendo variação para muitas seleções e usado com mais frequência por Arábia Saudita e Austrália.
4-1-4-1, a Copa de Amrabat. Foram mais de 1.000 minutos de 4-1-4-1, com Marrocos contribuindo com quase 40% do total. Era a faixa de campo de Sofyan Amrabat e de mais ninguém. Seu primeiro jogo contra De Bruyne e Hazard já mostrou que não teria vida fácil quem quisesse construir na entrada da área marroquina. E foi assim nos sete jogos marroquinos, sempre forçando o time adversário a colocar suas estrelas fora de seu raio de ação (Griezmann foi um que jogou um pouco mais avançado para não bater posição). Muito além da contenção, Amrabat participava ativamente da transição curta e perigosa do time de Walid Regragui, com passes milimétricos para Ounahi e Ziyech avançarem pela faixa direita.
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5-4-1, o drama do Grupo E. Foi a base da Costa Rica, como quase sempre é, e foi o esquema com que o Japão passou de fase ganhando da Espanha e ficando em segundo no grupo, mandando a Alemanha de volta para casa. Se a Costa Rica tentou competir com um esquema que tentou dar solidez defensiva, o Japão se utilizou da mesma ferramenta para fechar as laterais de sua defesa e soltar Nagatomo e Junya Ito, juntos, como alas, nos rápidos contragolpes japoneses. Também com o 5-4-1, o Japão foi até os pênaltis contra a Croácia e, por muito pouco, não foi o adversário do Brasil nas quartas.
5-3-2, alternativa para a campeã e padrão para a pior anfitriã de todos os tempos. Se em alguns jogos a Argentina se retraiu com uma última linha de cinco e deixou Messi próximo ao centroavante, o Qatar fez da plataforma sua única tábua contra Equador, Senegal e Holanda.
3-4-1-2, o brilho de Gakpo. Quase uma exclusividade holandesa, o esquema foi a melhor roupa para Blind e Dumfries não ficarem presos como laterais, Frenkie de Jong ter mais três jogadores atrás de si e, principalmente, para Gakpo flutuar entre meio e ataque. Com futebol de meia em corpo de atacante, Gakpo foi o brilho individual, o articulador e o principal finalizador de sua seleção.
3-4-3, da Europa para a Tunísia. Criado e produzido na Europa para times normalmente ofensivos, o 3-4-3 apareceu no Qatar, como padrão, na seleção tunisiana. Um time fraco em um grupo que parecia inacessível com França e Dinamarca. Para melhor proteger a defesa com três zagueiros, o meio tunisiano tinha dois laterais de origem como wingers e dois jogadores de contenção no miolo, Skhiri e Laïdouni. Não havia um meia habilidoso para emular o 3-4-1-2 holandês, então Jalel Khadri colocou dois pontas que também ajudavam na marcação, e um centroavante (que poderia ter sido Khazri desde o primeiro jogo) que também não dava muita profundidade à equipe.
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3-5-2, um esquecido. O esquema que levou a Argentina ao título de 1986 ficou no meio do caminho. Não é mais tão defensivo quanto os novos 5-4-1 e 5-3-2 tão utilizados no pós-pandemia e foi dividindo espaço com o 3-4-1-2, o 3-4-3 e o 3-4-2-1. Mesmo assim, vimos o País de Gales recorrer aos cinco jogadores em linha no meio de campo e, contra a Holanda, a campeã Argentina adiantou seus alas para bater posição com Blind e Dumfries, uma das boas armadilhas que Scaloni aprontou no Mundial.
4-4-1-1, o exílio de Lewandowski. Classifiquei em alguns programas durante a Copa do Mundo o futebol polonês como um futebol de mendigo, carente de absolutamente tudo, inclusive vontade de estar ali, ocupando um lugar tão desejado em uma Copa. Se a Polônia tem um centroavante que é Top 3 do mundo em sua posição, há um deserto a seu redor. Um time de duas linhas defensivas baixas e sem criatividade e que não tem um atacante que encaixe com Lewandowski. Seus “companheiros” também ocupavam a faixa central, revezando com Lewa entre ficar encaixotado sozinho com os zagueiros adversários ou vir até a intermediária e quase não receber bola.
4-5-1, a disputa pelo meio. Mais que um padrão, o 4-5-1 foi uma variação de determinadas seleções durante a Copa do Mundo em algumas oportunidades. Nada que seja uma tendência ou que tenda a pautar um próximo ciclo. Apareceu mais claramente na Seleção da Croácia no jogo contra a Bélgica ainda na primeira fase. A Croácia que tanto dependia de seu meio contra uma Bélgica em desespero, que precisava dos três pontos e ficou no zero a zero.
3-4-2-1, o quadrado no meio. Esse eu achei que apareceria mais como tendência futura. Copa é fim de ciclo com algumas pistas do que pode vir. O 3-4-2-1 oferece uma concentração de até 6 jogadores armando o jogo, com os alas em altura média e um miolo de meio campo em quadrado, com volantes alinhados e meias alinhados. Foi o esquema mais utilizado pela Sérvia para acomodar Sergej Milinkovic-Savic e Dusan Tadic na faixa central, à frente dos volantes e atrás de Mitrovic. A Sérvia foi uma decepção. O esquema eu ainda acredito que possa render em grandes equipes.
4-3-2-1, a Bélgica torta. A Árvore de Natal de Carlo Ancelotti deu as caras na Copa do Mundo. Mais porque a Bélgica perdia o controle do jogo e precisava que um meia aberto descesse para a linha dos volantes do que por vocação de jogar assim. Era Yannick Carrasco, quando jogava aberto pela esquerda, que baixava muito e quase se juntava a Witsel e mais um volante (Tielemans ou Dendoncker).
4-1-3-2, o vale tudo uruguaio. Mais do que um padrão alternativo ao 4-4-2 uruguaio (que variou para o 4-3-3 e o 3-5-2 com constância), o 4-1-3-2 apareceu nos minutos finais contra Gana, no desespero de se classificar. Vecino ficou como o único meio campista com alguma preocupação defensiva, postado à frente da zaga. Os demais – Canobbio, De La Cruz e Valverde – foram quase se juntar a Cavani e Maxi Gomez no ataque.
(*) A minutagem tática foi retirada do Wyscout e pode variar de acordo com a fonte, pois cada observador tem o seu protocolo.
(**) A minutagem compreende as prorrogações, mas não os acréscimos, entendendo que eles servem para repor momentos de paralisação do tempo inicial.
Boas Festas e Feliz 2023!
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