Das guinadas na organização ao fim da seca argentina… Copa América de 2021 deu o que falar!
Torneio, que chegou ao fim no último sábado, com vitória por 1 a 0 da Argentina sobre o Brasil no Maracanã, ficará marcado também por proporcionar situações inusitadas
A Copa América teve seu desfecho no último sábado, com um fim de jejum de 28 anos da Argentina em pleno Maracanã. A vitória por 1 a 0, com gol de Di María, coroou toda uma geração, em especial o astro Messi, que ansiava por sua primeira conquista na seleção albiceleste. Porém, o torneio, que passou depressa, deixou uma série de histórias (inclusive mirabolantes).
COM RESTRIÇÕES
Os efeitos da pandemia de Covid-19 trouxeram mudanças na organização da Copa América desde o início. Ao contrário das edições anteriores, não houve espaço para convidados que, como de costume, vinham da Ásia ou da América Central e do Norte. Qatar e Austrália desistiram por causa das restrições sanitárias impostas para viagens à América do Sul.
Com isso, o torneio teve dez participantes divididos em dois grupos de cinco. No regulamento, apenas o lanterna de cada grupo não se classificava.
SEM PAÍS PARA JOGAR...
A Conmebol projetou que a competição inicialmente teria duas sedes: Argentina e Colômbia. Originalmente, estava previsto que a Seleção Brasileira, no Grupo B, disputaria a primeira fase em território colombiano. Porém, o país, em meio a crescentes tensões sociais, desistiu de ser sede em 20 de maio.
A competição ficou em xeque dez dias depois. Com aumento de casos de Covid-19 no país, a Argentina também abdicou de receber a competição. A toque de caixa, a Conmebol partiu em busca de nova sede.
BRASIL SE COLOCA À DISPOSIÇÃO
A Conmebol, porém, agiu rápido nas negociações. Passada uma reunião emergencial, a Copa América voltou a desembarcar no Brasil, que havia sido sede em 2019.
A recepção, porém, não foi das melhores: alguns estados, como Bahia e Pernambuco, não aceitaram sediar partidas. No dia 2 de junho, após longa negociação, foram definidas as cidades-sede: Rio de Janeiro (estádios Nilton Santos e Maracanã), Brasília (Mané Garrincha), Cuiabá (Arena Pantanal) e Goiânia (Olímpico de Goiânia).
ESCÂNDALO E MUDANÇAS NOS BASTIDORES DA CBF
O então mandatário da CBF, Rogério Caboclo, lidava com uma crise interna na entidade, com acusações de assédio moral a uma funcionária e também vazamento de áudios que indicavam a influência de Marco Polo Del Nero na sua gestão. A situação, porém, ganhou outra proporção em 4 de junho, quando ele foi formalmente denunciado na Comissão de Ética por assédio sexual e moral à funcionária.
Dias depois, Rogério Caboclo foi afastado da presidência da entidade, inicialmente por 30 dias e posteriormente por mais 60 dias. Ele nega as acusações, acusa seu desafeto Del Nero de "articular um golpe" e, recentemente, recusou-se a depor na Comissão de Ética, afirmando que ela é "arbitrária e parcial". Interinamente, Antonio Carlos Nunes é o presidente da CBF.
COPA AMÉRICA NA CPI DA COVID
O anúncio de que o Brasil seria o país-sede da Copa América chegou a causar impacto no Palácio do Planalto. Vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) falou em convocar Rogério Caboclo para depor, com o intuito de saber "quais as medidas foram planejadas para garantir segurança sanitária aos brasileiros diante da realização da Copa América com tanta celeridade em nosso país". Além disto, criticou o presidente Jair Bolsonaro fato do país ser aberto para um campeonato de futebol "em meio ao risco de uma terceira onda" da pandemia.
Relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL) fez um apelo a Neymar e à delegação da Seleção Brasileira para que não aceitassem jogar a Copa América.
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga ratificou que não se tratava de um evento de grandes proporções e que os protocolos da Conmebol ajudariam a evitar a propagação de um risco de Covid-19.
TRANSMISSÃO DE CASA NOVA
O torcedor teve de mudar de canal para assistir aos jogos. O SBT selou acordo para transmitir a competição na TV aberta. As narrações dos jogos da ficaram a cargo de Téo José e Luiz Alano e o time de comentaristas contou com nomes como Mauro Cezar Pereira e Nadine Bastos. A emissora de Silvio Santos teve oscilações de audiência em boa parte do torneio, mas desbancou a Rede Globo na decisão. Já na TV fechada, o grupo ESPN Brasil/Fox Sports fez a transmissão.
SELEÇÃO JOGA OU NÃO JOGA?
Em meio ao turbilhão de acontecimentos, houve rumores de que a Seleção Brasileira desistiria de disputar a competição. A saída de Tite chegou a ser especulada, com Renato Gaúcho cotado com sucessor. Em meio ao mistério sobre o assunto, falou-se em uma possível influência de Jair Bolsonaro (Sem partido) na escolha da CBF, mas o presidente da República assegurou.
- Minha participação na Copa América é abrir o Brasil para que ela fosse realizada aqui. Já temos quase tudo acertado, tudo certinho. Agora, no tocante a técnico, estou fora dessa, não tenho nada a ver com isso aí - disse
Focado nos jogos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022, o grupo canarinho fez mistério sobre a Copa América. Até que se manifestou ao fim da vitória por 2 a 0 sobre o Paraguai. Os atletas revelaram insatisfação com a condução da organização do torneio pela Conmebol, "fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil". O grupo ainda destacou ser contra a organização da competição, mas mostrou que não iria se negar a disputá-la nem a vestir a camisa da Seleção Brasileira.
Durante a Copa América, críticas à organização da competição renderam multas ao jogador boliviano Marcelo Moreno e ao técnico da Seleção Brasileira, Tite.
FUTEBOL NA LAMA
Os gramados da Copa América renderam muitas críticas de Messi, de Neymar e de jogadores da Seleção Brasileira e também do técnico Tite. A veemência do comandante canarinho foi maior após a punição da Conmebol, ao ser perguntado sobre a grama do Nilton Santos:
- Não vou falar. Vou ser multado! Se fala de organização atabalhoada, é multado, se fala de campo ruim, é multado.
O Brasil chegou a tentar mudar o mando da partida das quartas de final do Nilton Santos para a Arena Pantanal. Mas acabou enfrentando o Chile no Rio de Janeiro.
FINAL COM PÚBLICO... E CONFUSÃO
Após todos os jogos acontecerem com portões fechados, a Conmebol conseguiu aval da Prefeitura do Rio de Janeiro para que houvesse uma liberação parcial de público na decisão da Copa América. Foram distribuídas cotas para convidados de cada confederação, além do estabelecimento de protocolos, como comprovação de teste PCR negativo de Covid-19 feito 48 horas antes da partida, entrada de máscara e distanciamento de dois metros entre as cadeiras.
Só que houve uma sucessão de atropelamentos. A Conmebol afirmou que foi apresentada uma '"quantidade considerável" de testes PCR fraudulentos de pessoas credenciadas a estarem presentes na decisão.
A distribuição de ingressos no entorno do Maracanã também rendeu dores de cabeça. Segundo o "Extra", a partir de 14h, começou uma considerável fila de torcedores. Em meio à aglomeração, houve cenas de tumulto e desorganização. À medida que se aproximavam do local, torcedores se espremiam para entrar no estádio.
Durante o jogo, torcedores também abaixavam a máscara para entoarem cânticos.
BRASIL AMARGA 'MARACANAZO'
Após ter sido campeã em 1919, 1922, 1949, 1989 e 2019, pela primeira vez a Seleção Brasileira saiu de campo sem a taça da Copa América nas mãos em sua casa. A equipe ainda viu quebrar um longa escrita que ostentava no torneio.
O Brasil não era vice-campeão desde 1995, quando, após empate em 1 a 1, foi derrotado pelo Uruguai nos pênaltis em Montevidéu. Depois disto, conquistou as edições de 1997, 1999, 2004, 2007 e 2019.
Outro tabu também findou: após sete jogos, a Seleção saiu de campo derrotada no Maraca. Curiosamente, o algoz anterior foi a própria Argentina, em um amistoso em 1998.
NEYMAR E A SINA COM A COPA AMÉRICA
Sobrecarregado em campo e marcado de perto, o astro da Seleção Brasileira, Neymar, carrega um estigma em relação à Copa América. O camisa 10 coleciona decepções na competição.
Esteve em 2011, quando a equipe caiu nas quartas, nos pênaltis para o Paraguai. Já em 2015, foi expulso após tentar dar uma cabeçada no colombiano Murillo e pegou dois jogos de suspensão, não ajudando a equipe que também caiu nas quartas de final para os paraguaios nos pênaltis.
Além disto, esteve no grupo da Copa América Centenário, quando o Brasil caiu ainda na primeira fase, com a derrota por 1 a 0 para o Peru, que teve gol de mão de Ruidiaz.
O camisa 10 iria estar na Copa América de 2019. No entanto, durante a vitória por 2 a 0 do Brasil sobre o Qatar em um amistoso, sofreu um rompimento no ligamento do tornozelo direito e acabou cortado do torneio.
A EUFORIA DE MESSI
Messi persistiu, se reinventou e, enfim, conseguiu o esperado título de ponta da sua trajetória na seleção da Argentina. No mesmo palco no qual viu a Copa do Mundo escapar de suas mãos em 2014 para a Alemanha, o camisa 10 deixou para trás uma série de frustrações.
Com ele como camisa 10, a equipe havia perdido também decisões de Copa América de 2015 e a Copa América Centenário. Aos 34 anos, ele segue em alto nível.
ARGENTINA, ENFIM, SEM PESO NAS COSTAS
Enfim, o grito preso na garganta de argentinos ecoou no Maracanã graças ao gol de Di María. A albiceleste quebrou uma sucessão de tabus.
Além de levar para casa uma Copa América, fato que não acontecia desde 1993, com a geração de Goycochea, Ruggeri e Batistuta, a equipe de Lionel Scaloni aguçou a rivalidade com os brasileiros.
O Brasil não sofria uma eliminação em competições para a Argentina desde a própria Copa América de 1993. Naquele torneio, a equipe comandada por Carlos Alberto Parreira caiu nas quartas de final, empatou em 1 a 1 no tempo normal mas, nos pênaltis, perdeu por 6 a 5, em lance no qual Goycochea defendeu cobrança de Marco Antônio Boiadeiro.
O tabu quebrado foi um pouco além quando se tratava de título: a final do Maracanã pôs fim a um hiato de 30 anos da vez anterior na qual o Brasil foi vice-campeão para a Argentina.
A fase final da edição de 1991, porém, teve formato de quadrangular, na qual a equipe albiceleste iniciou o caminho para o título batendo por 3 a 2 o Brasil comandado por Paulo Roberto Falcão. Os argentinos tiveram como "jogo do título" a vitória por 2 a 1 sobre a Colômbia.
Outra escrita que chegou ao fim foi a sequência de vitórias de Tite, que estava há 13 jogos invicto, e pela segunda vez foi derrotado pela Argentina. O revés anterior foi também por 1 a 0, em amistoso realizado em 15 de novembro de 2019. A perda do título da Copa América foi a quinta derrota do Brasil sob o comando do treinador.