Um sertanejo na Rússia: se não fosse o frio, São Petersburgo seria o céu
Nosso repórter arretado conta tudo sobre a experiência de passar pela segunda maior cidade da Rússia. Não teve apuros, mas belas paisagens, estrogonofe e muita arte
"Ontem eu sonhei que estava em Moscou..."
...E na verdade estava em São Petersburgo. Olha, não é por nada não, mas se fosse escolher uma cidade para morar na Rússia, o sertanejo escolheria essa. Que lugar bonito da peste! Sinto muito, pessoal, mas dessa vez não tem relato de aperreio com cortina, taxista, obra em apartamento, nada. A passagem pela segunda maior cidade da Rússia foi uma maravilha. Só faltou o Brasil, que deveria jogar aqui a semifinal nesta terça-feira (dia 10), mas teve de assistir a França e Bélgica pela televisão. Uma pena. Mas nada que tire o brilho da cidade, né?
São Petersburgo é talvez a cidade mais ocidental da Rússia. A maioria das pessoas que encontrei fala inglês, a comunicação flui muito melhor, há restaurantes de todas as partes do mundo. Come-se e bebe-se muito bem. Em um clima pra lá de agradável.
Como a maioria das cidades russas, é cortada por rio, onde tudo parece ficar melhor. As margens oferecem um visual típico europeu, onde turistas se aglomeram felizes para tirar fotos, respirar o ar puro vindo das águas limpas, ou apenas contemplar aquela obra da natureza. A passagem pela Rússia deixa uma certeza: toda cidade deveria ter uma vida ao redor de um rio. Imaginar São Paulo e as margens do Tietê e Pinheiros, depois de tudo, dá até desgosto.
São Petersburgo também parece um museu a céu aberto. Caminhando pelas ruas mais centrais, a cada esquina há artistas em suas mais variadas formas. Homens e mulheres que se fingem de estátuas, personagens caricatas, músicos, acrobatas. Uma combinação de performance e cores que confere muito mais vida ao ambiente. Caminhar nessa atmosfera torna-se algo muito convidativo e no fim você nem vê o tempo passar.
Na culinária, só coisa boa. O estrogonofe daqui é autêntico, e pra lá de saboroso. Vocês lembram que caviar é bom, mas buchada de bode é melhor, né? No caso do estrogonofe russo, não sei, não. Pode não ser melhor, mas fica ali pertinho. Coisa boa!
As ruas são limpas, o povo aparentemente muito gentil, o atendimento melhor do que nas outras cidades, as ruas estão repletas de belas estátuas e referências políticas, históricas e literárias. Monumentos ao escritor Fiódor Dostoiésvki, aos líderes comunistas Lenin e Trotski, ao orgulho da resistência russa em momentos importantes. São símbolos de uma cidade que foi fundamental na Segunda Guerra Mundial. Vocês sabiam que a São Petersburgo ficou quase três anos sob o domínio das tropas de Hitler, mas mesmo assim resistiu bravamente? Eita povo arrochado e valente!
Mas, se é essa maravilha toda, por que não viver em São Petersburgo, cara pálida? Pode-se viver, sim, nada contra. Mas três dias foram suficientes para saber que aqui faz um frio da muléstia! Pense: a gente está no verão e as temperaturas chegam a 15º. Imagina isso aqui no inverno, com frio de 30º negativos? Deus me livre! Deve congelar até a alma! Respeito os russos que gostam, e quem goste do frio, mas o sertanejo nasceu no calor, onde o calango anda em pé para não queimar o peito.
Falando sério, trata-se de uma cidade encantadora e apaixonante. Das mais românticas do mundo, dizem por aí. Seria o cenário perfeito para o Brasil voltar à uma final de Copa. O casamento, porém, não deu certo. Os franceses, pelo menos dessa vez, foram mais amorosos com a bola. Fica pra próxima! E é hora de voltar a Moscou, que tem uma final de Copa por ali. Ainda não acabou. Mas a saudade de São Petersburgo já é grande.
"Ontem eu sonhei que estava em Moscou..." Não era sonho, não!
*Marcio Porto é repórter do LANCE! desde 2008 e está em sua segunda cobertura de Copa do Mundo - a primeira foi no Brasil. Paraibano de São Sebastião de Lagoa de Roça, cidade de pouco mais de 11 mil habitantes, irá desbravar as terras russas com a sede e fome do sertanejo. Cabra da peste que é, trará os relatos aqui para você! Simbora!