Um sertanejo na Rússia: a primeira viagem de táxi a gente nunca esquece
Nosso paraibano em Sochi, onde está a Seleção Brasileira, passa apuros para voltar para casa sem conseguir se comunicar com o taxista. O jeito foi rezar e agradecer
"Ontem eu sonhei que estava em Moscou..."
...E embarquei no meu primeiro táxi para me locomover em Sochi sozinho. Usei o transporte para voltar do centro, onde jantei com colegas da imprensa brasileira após cobrirmos o treino da Seleção, para meu apartamento. São cercas de 20 minutos de carro. Isso se você não se perder no caminho. Aí você já pode imaginar que a viagem do Paraíba aqui durou muito mais do que isso, né?
O carro chegou bem no local combinado, entrei, cumprimentei o motorista com um aceno e um sorriso, e ele balbuciou algumas palavras. Óbvio que um não entendeu o que o outro disse. Lá vou eu de novo para essa experiência antropológica. Ele era um homem de meia idade, aparentemente entre 40 e 50 anos, cara de poucos amigos, mas já entendi que isso é algo meio característico dos russos e não quer dizer exatamente que não sejam simpáticos, como vocês verão a seguir.
Primeiros minutos de viagem, tudo certo. até cantarolei um Luiz Gonzaga e o russo parece ter gostado. Como medida de precaução, coloquei o caminho no meu aparelho celular para ir acompanhando o trajeto. Foi tudo nos conformes, sem a gente trocar uma palavra, até chegar à zona próxima onde estou, e da Seleção. Quando subimos a colina que já relatei aqui para chegar na minha vizinhança, o desespero tomou conta:. Tudo escuro, um breu danado, e eu ainda não tinha decorado bem o caminho, sobretudo à noite. Sei que faltando dois minutos para chegar ao local, segundo o aplicativo, eu ainda não sabia onde exatamente estava. Sabia que estava perto de casa, mas não como chegar. Estávamos perdidos. Danou-se! Tô lascado, pensei.
Já meio desesperado, começo a tentar me comunicar com o motorista, que para o carro no local indicado pelo aplicativo e que não era exatamente o meu (Passou da hora dessas empresas melhorarem esse sinal geográfico). Tento inglês, obviamente sem sucesso. Português? Até parece. Saco do aplicativo de tradução. Coloco para ele falar alguma coisa, mas ele não entende que é para conversarmos e fala em russo o nome da rua que eu deveria ir. Não há diálogo.
Nessa hora, deu uma saudade danada das viagens de veraneio para a feira de sábado em Esperança, cidade perto da minha na Paraíba. Não era tão confortável, nada de ar-condicionado, muito menos GPS. Mas a gente chegava sem aperreio.
Bom, o fim da jornada você acompanhou aí no vídeo. Com medo, mas muita paciência do meu querido motorista, cheguei em casa sã e salvo. Antes de eu me despedir feliz da vida como pinto no lixo, ele fez uma pergunta que eu entendi que era de onde eu vinha. Quando eu disse "Brasil", ele respondeu com um "Futibó". Estávamos conectados. Que "Padim pade Ciço" abençoe a paciência daquele homem. E viva a Copa!
"Ontem eu sonhei que estava em Moscou..." Não era sonho, não!
*Marcio Porto é repórter do LANCE! desde 2008 e está em sua segunda cobertura de Copa do Mundo - a primeira foi no Brasil. Paraibano de São Sebastião de Lagoa de Roça, cidade de pouco mais de 11 mil habitantes, irá desbravar as terras russas com a sede e fome do sertanejo. Cabra da peste que é, trará os relatos aqui para você! Simbora!
Glossário do Sertanejo:
"Padim pade Ciço" = Referência a Padre Cícero, o famoso padre cearense padrinho dos nordestinos