Não existe conversa sobre a Suécia que não envolva o tema Ibrahimovic. É possível argumentar para os dois lados. O prejuízo técnico de abrir mão do jogador mais talentoso do país, ou o risco de ameaçar a união de um grupo que conseguiu o grande objetivo da classificação sem contar com uma estrela que nem sempre é fácil de lidar. Os dois caminhos são totalmente coerentes e geram inúmeras discussões. Até por isso, aconteça o que acontecer na Copa do Mundo de 2018, a avaliação final fatalmente terá Zlatan como um dos tópicos, seja para exaltar ou crucificar o técnico Janne Andersson.
O caminho da Suécia não pode ser menosprezado. Ter deixado Holanda e Itália para trás ajuda a sustentar a decisão do treinador, que assumiu o cargo logo após a fraca campanha na Euro 2016, quando foi lanterna do seu grupo, com apenas um ponto. Não contar com Ibra diminuiu os olhares e a expectativa para a seleção do país. A sensação era de fim de ciclo e carência de um craque que pudesse assumir o status de referência.
Só que a temporada 2016/17 ajudou a projetar um outro protagonista sueco. Emil Forsberg foi o líder de assistências da Bundesliga e chamou atenção no fantástico ano do RB Leipzig. Outra boa notícia, ainda que discreta, foi o sucesso no Europeu Sub-21 de 2015, quando superou a excelente geração portuguesa na final. De lá sairiam peças como Lindelof e Augustinsson, titulares na defesa nas eliminatórias, mesclando com a experiência de Lustig e Granqvist.
Sem Ibrahimovic, as opções ofensivas são duas duplas de campanhas marcantes no Europeu Sub-21. Em 2009, Marcus Berg e Ola Toivonen marcaram 10 dos 12 gols do país-sede da principal competição de base do continente. Artilheiro do torneio, Berg saiu valorizado mas não conseguiu se consolidar como goleador no mais alto nível. Toivonen já é um atacante mais móvel, geralmente atuando atrás da referência, ainda que também conte com a força física como arma. Em 2015, a dupla de ataque campeã tinha Thelin e Guidetti, peças importantes em uma equipe que se caracterizava pela organização defensiva e o uso da bola longa para acionar o ataque. Assim, Guidetti se destacou pela força para proteger a posse e incomodar os defensores. Thelin não conseguiu espaço após as transferências para Bordeaux e Anderlecht, mas virou artilheiro no Waasland-Beveren em 2017/18.
Naturalmente, não há nada que aproxime as opções de ataque da capacidade técnica de Zlatan Ibrahimovic. E é exatamente aí que entra a importância coletiva que comprovadamente funcionou com a base em 2015 e nas eliminatórias entre 2016 e 2017. Sendo assim, o que dá para esperar da Suécia em 2018? Uma tentativa de jogo defensivo, muita proteção a sua própria área, bolas longas para a dupla de ataque e muita força física em todos os momentos: seja para pressionar mais alto, para ganhar os duelos aéreos na construção ofensiva ou para esperar no próprio campo. O detalhe de qualidade fica por conta de Forsberg, ferramenta fundamental para conduzir a bola, buscar o espaço entre as linhas ou encontrar um último passe. Na direita, Claesson e Durmaz disputam a posição. Claesson foi vice-artilheiro no Krasnodar em 2017/18, jogando mais por dentro e pelo corredor esquerdo, mas com chegada ao gol adversário, o que pode dar um suporte ofensivo importante. Já Durmaz pode atuar mais espetado na ponta, buscando dribles e passes finais, caso a ideia seja abrir a defesa adversária.
Na faixa central, os papéis dos meio-campistas são prioritariamente defensivos. Hiljemark é quem ainda pode oferecer algo a mais indo ao ataque, mas Larsson, Ekdal e Svensson são volantes mais preocupados com o preenchimento do espaço e a coordenação sem bola. Sebastian Larsson até foi meia pela direita durante boa parte da carreira, mas muito mais por sua facilidade nos cruzamentos do que exatamente pela criatividade ou agilidade com a bola. Aos poucos, se transformou em um meio-campista, mas pode acionar a dupla de ataque em lançamentos longos.
A bola parada com Augustinsson pode ser outra alternativa importante. Nas eliminatórias, o lateral foi responsável por assistências e muitas outras chances criadas a partir de escanteios e cruzamentos. Ao mesmo tempo, a marcação pelo setor gera alguma preocupação pois, nas transições defensivas, é o espaço em que Forsberg nem sempre consegue ocupar tão rapidamente para auxiliar, já que tem liberdade para centralizar e circular na armação.
Por mais confiante que seja Janne Andersson, que declarou que a Suécia pode vencer qualquer adversário, o país não entra como favorito para avançar de fase. Se conseguir, terá atingido seu objetivo inicial. O interessante é que o grupo oferecerá a chance de atuar de uma forma que geralmente agrada a equipe: com menos posse de bola. Contra Alemanha e México, o desafio será justamente manter a solidez defensiva diante de adversários que gostam da bola e tentam dominar a partir disso.
Jogos no Grupo F
18/6 - 9h - Suécia x Coreia do Sul
23/6 - 15h - Alemanha x Suécia
27/6 - 11h - México x Suécia
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