Espião russo: na Espanha desde os 6 anos, Cheryshev lidera os anfitriões
Nascido da União Soviética e criado na Espanha desde criança, meia desenvolveu sua carreira em solo espanhol e agora lidera a Rússia contra o país que o abraçou
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O filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) escreveu: "Você tem que criar a sua própria identidade. Você não a herda". O meia-atacante russo Denis Cheryshev é um exemplo disso. Um dos artilheiros da Copa do Mundo pela Rússia, com três gols marcados, viveu na Espanha desde os seis anos e construiu uma carreira rodeada pela cultura espanhola. Neste domingo, às 11h, em Moscou, o "espião russo" terá pela frente o país que o abraçou nas oitavas de final.
Denis Cheryshev nasceu na Rússia, mas se mudou aos seis anos para a Espanha, quando o pai, então jogador, deixou as cores do Dínamo para defender o Sporting Gijón. O atacante cresceu em território espanhol e começou a jogar futebol nas bases. Teve passagens por diversos clubes do país, como Valencia, Sevilla e Sporting de Gijón - até chegar no Real Madrid.
- Eu me considero mais espanhol que russo porque passei toda a minha vida na Espanha, apesar de ter nascido na Rússia. Mas, claro que tenho uma parte dentro de mim que é russa. Meu nome, por exemplo. Fomos todos para as Asturias. Ali foi quando comecei a jogar futebol. Na Rússia tenho meus avós, meu tios e primos - disse o meia- atacante ao 'Marca'.
Cheryshev resolveu honrar a sua identidade russa na Copa do Mundo. Apesar de naturalizado, o meia-atacante teve poucas chances na seleção espanhola e decidiu defender a Rússia, onde estreou em 2012. No Mundial, a lesão de Dzagoev contra a Arábia Saudita fez com que ele entrasse em campo. O menino que escolheu ser russo não decepcionou a torcida que lotava o estádio de Lujniki e marcou dois gols na vitória por 5 a 0.
As atuações chamaram a atenção e Cheryshev passou a ser tratado como um dos destaques da seleção que sedia, pela primeira vez, uma Copa do Mundo em seu território. O atacante resolveu abraçar a Rússia, apesar do passado espanhol e foi abraçado pelo povo de seu país de origem. Talvez, depois dessa Copa, o meia-atacante possa encontrar a estabilidade no futebol que vem procurando desde o início de sua carreira.
Lesões, empréstimos e indefinição: a carreira de Cheryshev
Desde cedo, Cheryshev já chamava a atenção pelo seu futebol. Após passar pela base do Gijón, foi para o juvenil do Real Madrid, em 2006, com 16 anos. Na cantera merengue também foi destaque. Foi treinado pelo técnico e ex-jogador Zinedine Zidane e com o francês teve seu melhor momento. Ao todo, foram 109 jogos e 22 gols marcados.
A sua passagem pelo Real Madrid foi conturbada, marcada por empréstimos, lesões e uma polêmica. Em 2015, quando retornou ao clube, Cheryshev marcou um gol na vitória do Real Madrid sobre o Cádiz, pela quarta fase da Copa do Rei. Porém, o jogador estava suspenso e foi escalado irregularmente. Isso fez com que o clube merengue fosse eliminado da competição.
Sem espaço e sempre convivendo com o departamento médico - o atacante já perdeu em toda sua carreira 85 jogos por conta de lesões -, foi emprestado para Sevilla e atualmente defende o Villarreal. Apesar de uma boa primeira passagem, com 34 jogos, sete gols e dez assistências, o jogador não foi contratado e retornou para Madrid.
O Villarreal resolveu acertar o seu empréstimo novamente e, dessa vez, o atacante deu certo. O 'Yellow Submarine' comprou o seu passe e contratou o jogador em definitivo. Pela primeira vez, o atacante se firmava em um clube, após mais de cinco temporadas sendo emprestado. Seu passe era fixado em 10 milhões de euros (cerca de R$ 34 milhões), mas o Real Madrid aceitou a proposta de 7 milhões de euros (cerca de R$ 18 milhões).
Apesar de identidade não se herdar, o futebol de Cheryshev vem de família. Seu pai, Dmitri Cheryshev foi o primeiro a deixar o sobrenome em evidência. Dmitri também era atacante e defendeu clubes tradicionais da Rússia, como o Dínamo de Moscou, mas foi na Espanha, jogando pelos Sporting de Gijón, que o pai do atual atacante da Rússia fez história.
Ao todo foram 158 jogos e 47 gols, se tornando um dos maiores ídolos do clube. 'A bala de Gorky' (apelido que faz menção a cidade em que nasceu) também jogou pela Rússia entre 1994 e 1998, e com isso, a família Cheryshev foi a primeira e única a ter duas gerações na seleção.
Neste domingo, Denis terá a Espanha como rival. E declarou em coletiva concedida neste sábado que terá um sabor especial para ele esse encontro com um país tão familiar.
- Gostamos dessa atmosfera de poder jogar diante de quase 80 mil pessoas. Ficarei feliz, claro se marcar. Mas meu principal foco será a classificação do nosso país diante de um rival tão qualificado - declarou.
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