LANCE! Espresso: ‘O jogo limpo e os espertinhos da seleção japonesa’
Japão vai às oitavas por critério com cartões amarelos, mas protagoniza tática covarde
Iniciativas para estimular o fair play e a lealdade entre os jogadores sempre são válidas, mas parecem um pouco esdrúxulas quando podem influenciar resultados. Pela primeira vez, a Fifa adotou a disciplina como um dos critérios de desempate na fase de grupos da Copa do Mundo, o que em casos extremos gera uma expectativa esquisita, quase surreal, em cima de uma punição em um esporte cujo objetivo principal é fazer gols. Na Rússia, o acumulado de advertências foi primordial para definir os classificados do Grupo H. Após três rodadas, Japão e Senegal empataram, em ordem de importância, em pontos (quatro), saldo de gols (zero) e no confronto direto - o jogo entre as seleções foi 2 a 2. O quarto critério de desempate era o fair play, baseado em cartões recebidos pelos países. Nesse quesito, os asiáticos levaram menos cartões amarelos (quatro, contra seis dos africanos) e se classificaram. Uma situação que remeteu a precedentes exóticos de campeonatos do Brasil em outras temporadas, como o Torneio Rio-São Paulo de 2002, que definiu um finalista (no caso, o São Paulo) por números de cartões amarelos.
'Espertinhos'
Jogar com o regulamento debaixo do braço é um jargão famoso do futebol. Resume-se a aproveitar uma situação de competição para chegar a um objetivo. Não é ilegal, mas costuma ser imoral, como exibiu em campo o Japão ontem na Copa da Rússia. Derrotada por 1 a 0 pela Polônia, a seleção asiática estaria fora da Copa não fosse a vitória da Colômbia sobre o Senegal pelo mesmo placar. Com a combinação dos resultados a seu favor, os japoneses desistiram da partida e só tocaram a bola de lado para gastar o tempo - uma situação de risco, já que um gol senegalês mudaria todo o cenário de classificação às oitavas de final. A reprovação foi geral em Volgogrado: vaias das duas torcidas para o antijogo. "Nós não estamos felizes com a situação, não era a nossa intenção ficar nos arrastando em campo, mas tive de contar com o resultado da outra partida. A verdade é que precisávamos manter o resultado, porque se tomássemos outro gol, não teríamos nada. Creio que naquele momento não tínhamos outra coisa a fazer. Ouvi vaias no estádio, acho que os jogadores também ouviram, foi muito desagradável", justificou o técnico Akira Nishino. Diante da Bélgica, nas oitavas de final, a tática covarde do Japão pode levar um golpe muito mais duro.